A natureza, às vezes, demonstra uma capacidade de recuperação
impressionante. Veja o exemplo do que aconteceu em Guaraqueçaba, cidadezinha
no litoral norte do Paraná, encravada em área de proteção ambiental em meio
à Mata Atlântica e manguezais. Em tupi-guarani, Guaraqueçaba significa "o
lugar do guará", a ave de coloração vermelho-vivo que era abundante na
região. Mas a partir da década de 70, a espécie desapareceu dali, a ponto de
a cidade ficar conhecida como a “terra dos guarás sem guarás” – até a semana
passada, quando uma equipe do IBAMA flagrou dois guarás por lá.
O avistamento animou o coração de ambientalistas e causou uma mobilização
para que as aves sejam monitoradas. “Pela cor não resta dúvida: eram
guarás”, conta, eufórico, médico veterinário Clóvis Borges,
diretor-executivo da Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação
Ambiental (SPVS), instituição que trabalha na APA de Guaraqueçaba em
parceria com o IBAMA e é uma das responsáveis pelo trabalho para retirar o
papagaio de cara roxa da lista de espécies ameaçadas de extinção. Borges diz
que o reaparecimento dos guarás sinaliza uma recuperação ambiental da
região.
“Ele mostra que os instrumentos de preservação da APA de Guaraqueçaba podem
estar trazendo melhorias às condições ambientais da região”, afirma. “Mas
temos que saber mais sobre os deslocamentos do guará, os insumos, enfim,
saber como eles estão vivendo”. Isso significa meter-se numa corrida contra
o tempo. “Estamos buscando parcerias para conseguir realizar esses
acompanhamentos”, diz Borges. “Mas mesmo que essas aves desapareçam nas
próximas semanas, já temos um estímulo imenso para acreditarmos no
repovoamento”.
O Guará é o nome de uma ave da família Threskiornithidae, também conhecido
como íbis-escarlate, guará-vermelho, guará-rubro e guará-pitanga. É
considerada uma das mais belas aves brasileiras, justamente por causa do
colorido de sua plumagem, um vermelho forte. Essa cor é atribuída à sua
alimentação, à base de caranguejos que possuem pigmento que tinge as plumas.
No cativeiro, com a mudança da alimentação, as plumas trocam esse tom por um
cor-de-rosa apagado. Os guarás de Guaraqueçaba foram localizados dentro de
uma Área de Proteção Ambiental criada em 1985 com 313 mil 484 hectares que
também engloba partes de outros três municípios, Antonina, Paranaguá e
Campina Grande do Sul.
O Ibama está elaborando um projeto de captação de recursos para viabilizar o
acompanhamento dos guarás no litoral paranaense. De acordo com a bióloga Ana
Carolina Suape, a instituição busca parcerias para aquisição de máquinas
fotográficas, barcos e outros equipamentos para o monitoramento. Cecil Maya,
analista ambiental do Ibama na APA de Guaraqueçaba, afirma que o
monitoramento, a princípio, será realizado por um ano. “Queremos identificar
as ameaças e os riscos para a espécie, seu percurso, sua alimentação e todos
os dados possíveis sobre a população”, destaca. “Assim será possível
detectar novos nascimentos de guarás e implantar políticas de proteção”.
(Por Fabrizio Escandiuzzi,
OEco , 02/09/2006)