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2006-09-02
Sabemos que há água nos oceanos, nos lagos, nos rios e nas torneiras. Mesmo assim, ouvimos dizer que precisamos economizá-la, sob o risco de não a termos mais. Parando para pensar e conversando com especialistas, descobrimos que, se ficarmos sem água, a culpa será da poluição, e por conseqüência, da humanidade. O problema dos recursos hídricos é menos a quantidade do que a qualidade.

No Brasil, a poluição cloacal é apontada como uma das maiores causas da contaminação das águas. Em 1989, dos 4.425 municípios brasileiros, 47,3% tinha algum tipo de esgotamento sanitário. Em 2000, os avanços não foram muito significativos: embora o número de cidades tenha aumentado em 24%, o serviço foi estendido a 52,2%.

Carlos Tucci , pesquisador da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e ex-presidente do grupo técnico da América do Sul do Global Water Partnership, desdobra esses números:

- Existem três níveis de tratamento de esgoto. O tratamento completo atinge uma média de aproximadamente 15% dos esgotos no Brasil - estima.

A urbanização é responsável Tucci chama a atenção para o impacto causado pela urbanização das cidades. Em 1950, cerca de 36% da população vivia em áreas urbanas. Em 2000, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), esse número subiu para 81%.

- Quando se poluía um rio há 50 anos, como as cidades eram mais distantes umas das outras, o rio se recuperava. Hoje, não se recupera mais - explica o pesquisador.

Coisa de rico ou de pobre?
Recuperar um curso de água poluído custa de 10 a cem vezes mais do que mantê-lo. Porém, mesmo países ricos não têm garantia de que não vão sofrer com escassez ou má qualidade de sua água. A ONG WWF acaba de divulgar um relatório, intitulado Países ricos, pobre água, em que deixa isso claro. A entidade internacional chama a atenção para o fato de países ricos estarem sendo afetados por problemas de abastecimento. Mudanças climáticas, secas recorrentes, má gestão e turismo de uso intenso da água são algumas das causas do problema em países europeus.

O plano gaúcho
Tente imaginar essa cena: um menino sedento pega um copo de água, toma metade e passa para o amigo tomar o restante. Você sabe onde isso ocorreu? Acertou se pensou no nordeste brasileiro. Pode parecer óbvio pela seca constante que assola a região, mas a questão é que o Rio Grande do Sul vive a cultura da abundância. Seria difícil alguém imaginar que a cena tivesse se passado no Estado, mas não significa que estamos longe de que isso aconteça.

Essa cena é descrita por Rogerio Dewes, diretor do Departamento de Recursos Hídricos da Secretaria do Meio Ambiente do Rio Grande do Sul, sempre que fala sobre o Plano Estadual de Recursos Hídricos (PERH), projeto que pretende fazer um zoneamento das regiões do Estado onde há problemas de abastecimento ou de qualidade da água. A partir daí, devem ser propostas alternativas para os problemas.

Tocar no bolso do usuário parece surtir mais efeito do que apelar para a conscientização da preservação do ambiente. Uma das alternativas para combater o desperdício, já implementada em alguns Estados, é a cobrança pelo uso da água.

- Fora do Estado, duas bacias brasileiras já estão cobrando pelo uso da água. O dinheiro volta em investimentos na própria bacia.

A cobrança foi implementada na Bacia do Rio Paraíba do Sul e nas bacias dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí e incide sobre a captação e o consumo, sendo na ordem de centavos por metro cúbico (m³). No restante do país, por enquanto, a população paga pelo tratamento, não pelo recurso em si.
( Zero Hora, 31/08/2006)

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