Sabemos que há água nos oceanos, nos lagos, nos rios e nas torneiras.
Mesmo assim, ouvimos dizer que precisamos economizá-la, sob o risco
de não a termos mais. Parando para pensar e conversando com
especialistas, descobrimos que, se ficarmos sem água, a culpa será da
poluição, e por conseqüência, da humanidade. O problema dos recursos
hídricos é menos a quantidade do que a qualidade.
No Brasil, a poluição cloacal é apontada como uma das maiores causas
da contaminação das águas. Em 1989, dos 4.425 municípios brasileiros,
47,3% tinha algum tipo de esgotamento sanitário. Em 2000, os avanços
não foram muito significativos: embora o número de cidades tenha
aumentado em 24%, o serviço foi estendido a 52,2%.
Carlos Tucci , pesquisador da Universidade Federal do Rio Grande do
Sul e ex-presidente do grupo técnico da América do Sul do Global
Water Partnership, desdobra esses números:
- Existem três níveis de tratamento de esgoto. O tratamento completo
atinge uma média de aproximadamente 15% dos esgotos no Brasil - estima.
A urbanização é responsável
Tucci chama a atenção para o impacto causado pela urbanização das
cidades. Em 1950, cerca de 36% da população vivia em áreas urbanas.
Em 2000, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), esse número subiu para 81%.
- Quando se poluía um rio há 50 anos, como as cidades eram mais
distantes umas das outras, o rio se recuperava. Hoje, não se recupera
mais - explica o pesquisador.
Coisa de rico ou de pobre?
Recuperar um curso de água poluído custa de 10 a cem vezes mais do que
mantê-lo. Porém, mesmo países ricos não têm garantia de que não vão
sofrer com escassez ou má qualidade de sua água. A ONG WWF acaba de
divulgar um relatório, intitulado Países ricos, pobre água, em que
deixa isso claro. A entidade internacional chama a atenção para o fato
de países ricos estarem sendo afetados por problemas de abastecimento.
Mudanças climáticas, secas recorrentes, má gestão e turismo de uso
intenso da água são algumas das causas do problema em países europeus.
O plano gaúcho
Tente imaginar essa cena: um menino sedento pega um copo de água, toma
metade e passa para o amigo tomar o restante. Você sabe onde isso
ocorreu? Acertou se pensou no nordeste brasileiro. Pode parecer óbvio
pela seca constante que assola a região, mas a questão é que o Rio
Grande do Sul vive a cultura da abundância. Seria difícil alguém
imaginar que a cena tivesse se passado no Estado, mas não significa
que estamos longe de que isso aconteça.
Essa cena é descrita por Rogerio Dewes, diretor do Departamento de
Recursos Hídricos da Secretaria do Meio Ambiente do Rio Grande do Sul,
sempre que fala sobre o Plano Estadual de Recursos Hídricos (PERH),
projeto que pretende fazer um zoneamento das regiões do Estado onde há
problemas de abastecimento ou de qualidade da água. A partir daí,
devem ser propostas alternativas para os problemas.
Tocar no bolso do usuário parece surtir mais efeito do que apelar para
a conscientização da preservação do ambiente. Uma das alternativas
para combater o desperdício, já implementada em alguns Estados, é a
cobrança pelo uso da água.
- Fora do Estado, duas bacias brasileiras já estão cobrando pelo uso
da água. O dinheiro volta em investimentos na própria bacia.
A cobrança foi implementada na Bacia do Rio Paraíba do Sul e nas bacias
dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí e incide sobre a captação e o
consumo, sendo na ordem de centavos por metro cúbico (m³). No restante
do país, por enquanto, a população paga pelo tratamento, não pelo
recurso em si.
(
Zero
Hora, 31/08/2006)