Produzir a matéria-prima para o combustível usado no trator. O sonho começa a virar realidade com as
máquinas que já permitem a adição de biodiesel. Na Expointer 2006, os principais fabricantes de
tratores apresentaram os modelos adaptados ao chamado biodiesel B2, combustível com 2% de óleos
vegetais, e ao B5, com 5% de óleos de produtos como mamona, palma, soja e girassol. Os motores
praticamente não sofreram modificações.
O desafio das indústrias é intensificar as pesquisas para, então, obter autorizações que permitem a
mistura de percentuais mais elevados, a partir de 20%, de biodiesel ao combustível tradicional.
Para este percentual - que por enquanto é permitido, mas não obrigatório -, os fabricantes já
oferecem o certificado de garantia na venda de tratores, atestando o bom funcionamento dos motores
sem prejuízo à operação da máquina. A intenção do governo federal é incentivar a produção de
biodiesel, com a promessa de gerar mais empregos na agricultura, poluir menos o meio ambiente e
colaborar para aumentar a demanda por produtos como a soja.
- Os clientes estão muito interessados, mas ainda com dúvidas sobre o assunto. O nosso papel tem sido
o de orientar - disse Paulo Verdi, engenheiro de vendas da Massey Ferguson.
A empresa utiliza motores de três fabricantes diferentes, e todos já autorizaram o uso do combustível
B5. Em Esteio, a Massey Ferguson mostrou o trator que está sendo testado com biodiesel em parceria
com universidades do interior do Paraná.
Uma das primeiras empresas a investir nesse mercado, a Valtra já tem pronto um motor que permite a
adição de 20% de biodiesel, mas ainda aguarda a validade formal da Agência Nacional do Petróleo e de
ministérios.
- Ainda este ano, esperamos receber autorização oficial para o lançamento do B20 - disse Arci Mendes,
gerente de produto da Valtra.
A pesquisa também mobiliza outros fabricantes tradicionais de tratores. A John Deere e a New Holland
atestam os motores para o B5 e estudam o uso comercial do B20.
Como se fosse flex
Uma das dúvidas dos produtores é o que fazer se não houver biodiesel no mercado. Segundo Nauri
Ribeiro, analista de marketing da Agrale, os tratores vão funcionar como um carro flex: se for mais
vantajoso, basta usar o combustível tradicional.
Esperança de novo mercado
Com a crise do setor de grãos, o produtor de soja José Clemente Weiang, da região de Lajeado, apenas
experimentou o trator que pretende comprar até o ano que vem.
- O biodiesel é a esperança de um novo mercado para a soja - disse o agricultor.
A informação de que os motores já estão adequados à mistura animou o produtor. Weiang defende a
instalação de pólos regionais para a produção do biodiesel, para que o próprio grão que produz possa
ser usado como combustível.
Para os pequenos
As máquinas a biodiesel não são dirigidas apenas a grandes produtores. Também há espaço para a
agricultura familiar. A Yanmar Agritech, por exemplo, produz microtratores com potência entre 11cv e
14cv aptos a funcionar com o combustível B5 (5% de biodiesel). De acordo com o assistente comercial
da empresa, Donizetti Almeida, a pesquisa comprovou que o motor não precisaria ser modificado.
- Mas já sabemos que, para chegar a 100%, serão necessárias mudanças técnicas - ressalvou.
O alerta é para os agricultores não utilizarem óleos vegetais nas máquinas sem orientação técnica.
(Por Alessandra Mello,
Zero Hora,
01/09/2006)