Um conflito histórico ressurge neste Inverno. De um lado, a natureza e mais de uma centena de leões-marinhos. Do outro, os pescadores que atuam nas costas catarinense e também do Rio Grande do Sul.
Os leões-marinhos são os vilões da vez para os pescadores de Passo de Torres, no Extremo Sul de Santa Catarina. Com até 300 quilos de peso, eles rasgam as redes em busca do alimento capturado pelos pescadores. De acordo com o mestre de embarcação, Fabrício Joaquim Scheffer, 31 anos, os prejuízos são incalculáveis:
- Essa rede tem 80 metros e metade dela está rasgada. Tem dias que a gente nem coloca a rede porque eles vem atrás e comem tudo - relatou.
Em anos anteriores, a produção foi afetada por adversidades climáticas. Este ano, os pescadores dizem que a população de animais aumentou e está espalhada pela área de abrangência das embarcações, de Rio Grande (RS) a Itajaí.
- Estamos próximos da Ilha dos Lobos, mas eles estão por toda a costa - lamentou Fabrício, que aproveita um dia de vento sul forte para consertar as redes.
Mamíferos seguem os barcos de arrasto
As acusações dos pescadores são refutadas pelo Núcleo de Educação e Monitoramento Ambiental (Nema) da Fundação Universitária de Rio Grande (Furg). O acompanhamento histórico da Ilha dos Lobos revela que os leões-marinhos foram chacinados nos últimos 50 anos e hoje a população varia entre 100 e 150 leões-marinhos e três dezenas de lobos-marinhos.
- É um número que está estabilizado há 10 anos - esclareceu o coordenador do setor de mamíferos aquáticos do Nema, Kleber Grübel da Silva, sobre o alarde feito pelos pescadores.
O especialista ressalta os efeitos da intensificação da atividade na costa. Os leões-marinhos se acostumaram a seguir os barcos de pesca para comer os rejeitos de pesca dos barcos de arrastão. Também houve aumento das redes de pesca e algumas têm até oito quilômetros de extensão.
- Antes havia recursos para todos. Hoje, os estoques estão subexplorados e os pescadores apontam os leões como vilões nessa história - completou Kleber.
(Por Cristiano Rigo Dalcin,
Diário Catarinense, 31/08/2006)