Na última semana, o fotógrafo Araquém Alcântara documentou para o Greenpeace grandes desmatamentos, queimadas e extração ilegal de madeira em cinco Unidades de Conservação (UCs) da Terra do Meio e às margens da BR-163, no Pará. Durante o mês de agosto, o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) registrou 91.575 focos de calor na Amazônia, dos quais 2.954 em unidades de conservação e 5.544 em terras indígenas. O Pará foi recordista em focos de calor, com 33.139 focos, sendo 1.801 em Unidades de Conservação e 1.925 em Terras indígenas, mas outros estados, como Mato Grosso, Maranhão e Rondônia, também vêm apresentando grande quantidade de incêndios e queimadas, dentro e fora de UCs e terras indígenas.
Além disso, dados recentes do Deter (Detecção de Desmatamento em Tempo Real, do Inpe), apontam novo aumento do desmatamento na região amazônica, depois da queda significativa registrada no último ano. O sistema indicou a ocorrência de 13.973 quilômetros quadrados de desmatamentos de agosto de 2005 a julho de 2006, contra 12.883 quilômetros quadrados no período anterior – um acréscimo de 8,4%. Embora o Deter seja inadequado para medir desmatamentos com precisão, tem sido usado pelo governo como um indicador importante do nível de destruição da floresta.
Liderando a lista nacional de focos de calor em Unidades de Conservação no período, com 980 registros, está a Floresta Nacional (Flona) do Jamanxim, de 1,3 milhão de hectares, em Novo Progresso, próxima à BR-163. Apesar das Flonas permitirem o uso sustentável dos recursos naturais por meio do manejo florestal, intensa atividade madeireira ilegal foi documentada na área, que está localizada no primeiro Distrito Florestal Sustentável criado através de decreto presidencial em fevereiro de 2006 para ser objeto de concessões para manejo florestal. “Se as atividades ilegais ali não forem interrompidas imediatamente, não vai restar nenhum recurso para ser manejado num futuro próximo.”, diz André Muggiati, da campanha da Amazônia do Greenpeace. O vizinho Parque Nacional do Jamanxim, que deveria ser destinado apenas a atividades de pesquisas e turismo, também foi bastante afetado pelo fogo, com 43 focos de calor.
A Estação Ecológica (Esec) da Terra do Meio, criada em fevereiro de 2005 com 3,3 milhões de ha, é outro exemplo da despreocupação dos infratores em relação às autoridades. No centro da UC, os responsáveis pelo famoso desmatamento apelidado de revólver, devido a sua forma peculiar, incendeiam a mata que tentava se regenerar e aproveitam para ampliar um pouco mais os seus limites. Esse desmatamento já foi multado pelo Ibama em 2004. Uma pista de pouso clandestina persiste no local, apesar das operações de explosão realizadas na área pela Polícia Federal em fevereiro de 2006. As Estações Ecológicas são as UCs mais restritivas que existem e deveriam ser destinadas apenas a pesquisas científicas, mas a Esec Terra do Meio registrou 460 focos de calor em agosto, sendo a terceira mais queimada em todo o país.
No Parque Nacional da Serra do Pardo, de 445 mil ha, incêndios estão destruindo a área pelas beiradas. Pequenos desmatamentos e queimadas recentes despontam no seu interior. Já na Reserva Extrativista (Resex) Verde Para Sempre, com 1,2 milhão de hectares na foz do rio Xingu, invasores ampliam seus domínios e instalam cercas e currais em fazendas localizadas no sul da área, onde não há populações tradicionais, mas muita floresta que poderia ser manejada.
Enquanto isso, queimadas também causam destruição nas florestas tropicais do sudeste asiático, onde o Greenpeace também documentou grandes focos de incêndios nas florestas tropicais da Sumatra, na Indonésia, com enorme prejuízo para a biodiversidade e para o equilíbrio climático do planeta. O desmatamento das florestas tropicais responde por 25% das emissões globais de dióxido de carbono, o principal gás de efeito estufa. No Brasil, o desmatamento e as queimadas são a principal fonte de emissões: 75% de todo o carbono lançado na atmosfera pelo país vem da conversão de florestas, em especial na Amazônia.
“A destruição da floresta nos expõe não só como vilões da biodiversidade, mas também do clima do planeta", afirmou Carlos Rittl, coordenador da Campanha de Clima do Greenpeace. "O Brasil já é o quarto maior emissor mundial de gases de efeito estufa, principalmente em função do desmatamento e das queimadas. A destruição da Amazônia gera um círculo vicioso. Desequilibra o clima regional e contribui para o aquecimento global, que torna a floresta mais seca e, portanto, mais vulnerável ao fogo. A floresta já tão ameaçada pelo desmatamento pode, em poucas décadas, ser substituída por uma vegetação muito mais pobre", explicou.
Para o Greenpeace, é necessário aumentar e equipar o efetivo do Ibama nessas regiões para que seja possível implementar e fiscalizar as Unidades de Conservação criadas nos últimos três anos. Durante o governo Lula foram criados 30 milhões de hectares em áreas protegidas na Amazônia. Outras Unidades de Conservação dessa região do Pará com focos de calor registrados em agosto são o Parque Nacional do Rio Novo, em Novo Progresso, Floresta Nacional de Altamira e Floresta Nacional de Itacaiunas, em São Félix do Xingu.
(Greenpeace, 31/08/2006)
http://www.greenpeace.org.br/amazonia/?conteudo_id=2906&sub_campanha=0