Ao investigar as inversões nos arranjos cromossômicos de exemplares da espécie Drosophila subobscura, um grupo de pesquisadores espanhóis e norte-americanos conseguiu flagrar mais um processo relacionado ao aumento da temperatura planetária. O exemplo, dessa vez, atinge três continentes.
Ao todo, Joan Balanyá, da Universidade de Barcelona, e colaboradores estudaram 26 populações de drosófilas espalhadas pela Europa, América do Sul e do Norte. Os dados obtidos para os últimos 24 anos mostraram que a temperatura aumentou em 22 dos locais estudados.
Com o conhecimento prévio de que o aumento da temperatura e a alteração de determinados trechos do genoma são comuns entre as drosófilas, os cientistas, que publicaram seus resultados na revista Science que circula nesta sexta-feira (01/09), resolveram comparar as séries históricas dessas duas informações.
Os resultados dos cálculos mostraram que as alterações genéticas percebidas nos insetos estão seguindo as mudanças do clima. O genótipo característico de baixas latitudes, portanto de zonas mais quentes, não teve sua freqüência aumentada em apenas uma das populações.
Segundo os autores, essa nova documentação de que as mudanças climáticas estão provocando alterações genéticas nas populações não chega a surpreender do ponto de vista evolutivo. Isso não significa, entretanto, que não estejam ocorrendo prejuízos ecológicos para esses grupos.
"Essa habilidade que essa espécie está demonstrando ter, de responder às alterações climáticas com rapidez, dá a medida de quanto ela poderá ser persistente em um mundo globalmente mais quente", avisa Balanyá. O mesmo deverá valer para outros grupos biológicos que, a exemplo da drosófila, apresentam gerações populacionais com um tempo de vida bastante curto.
O artigo Global genetic change tracks global climate warming in Drosophila subobscura pode ser lido por assinantes em www.sciencemag.org
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Agência Fapesp, 01/09/2006)