A Cooperativa Regional de Eletrificação Teutônia (Certel) poderá dar mais um passo na geração de energia. Desta
vez, alternativa. Até o próximo ano serão colhidos os resultados das análises de freqüência e velocidade do vento em torre
instalada ainda em fevereiro de 2004, a 30 e 50 metros acima do Morro Harmonia, a 630 metros de altitude do nível do mar.
Estudos preliminares confirmam o potencial eólico, superior aos números da análise feita em 2001 em Progresso e próximo às
médias que podem resultar no investimento. Dependendo das informações em Teutônia, a Certel acena com a possibilidade de
implantar uma fazenda eólica, termo oriundo da disposição dos aerogeradores que lembram uma plantação de árvores. De fato,
é uma usina cujo tamanho depende do resultado dos estudos. Após a medição do vento, a ser concluída em 2007, serão
encaminhadas as demais etapas, que dependem da evolução de fatores distintos, em especial, o elevado custo do
kilowatt/hora gerado - o dobro do valor necessário para geração de energia elétrica.
Alto custo
O gerente da área de Geração de Energia da Certel, Julio Salecker, destaca que a cooperativa está posicionada
estrategicamente como empresa de energia em sua área de atuação, logo todas as formas são de interesse, inclusive
alternativas. Enaltece os benefícios para o meio ambiente em razão do baixo impacto ambiental. "Temos a clareza de que a
eólica vai contribuir com boa parcela da matriz energética nacional. Também é muito provável que a tecnologia evolua e
conseqüentemente diminua os custos dos equipamentos, especialmente quando a indústria nacional absorver mais o processo de
fabricação." Não há projeção que confirme os valores do investimento necessário, mas como referência, já que não existe
nenhum projeto desse porte na região, presume-se que serão necessários cerca de R$ 5 mil por quilowatt instalado. Apersar
do alto custo, muitos países utilizam a energia eólica e dispõem de equipamentos eficientes, como Alemanha, Espanha, Índia,
China e Dinamarca, que registra a utilização de 7% de toda a energia do país através dos ventos.
A Certel acompanha a evolução tecnológica e analisa a viabilidade econômica para implantação dos aerogeradores na região.
A decisão final depende do aporte de recursos financeiros e de programas de incentivo à energia alternativa, inclusive com
captação de recursos externos e linha de crédito. Uma vez comprovada a viabilidade econômica do empreendimento, é necessário
um período de 18 meses para implantação das torres e equipamentos.
O local
A Lagoa da Harmonia, reservatório da primeira hidrelétrica da Certel - hoje desativada -, está no meio de uma formação de
cumes de morros chamados de Harmonia, e a torre de medição está instalada em um desses cumes. O local foi escolhido ainda
em 2003, no primeiro semestre, quando foi contratada uma empresa especializada em diagnóstico de locais com potencial
eólico. Esta também foi a responsável pela elaboração do Atlas Eólico do Rio Grande do Sul - 2002.
Progresso, projeto descartado
A notícia da ampliação da presença do Estado no Programa de Incentivo a Fontes Alternativas de Energia (Proinfa), da
Eletrobrás, em especial na geração de energia através de parques eólicos, apontava o potencial do município de Progresso,
apesar da inexistência de projeto. A possibilidade de estudo no local, anunciada pelo governo do Estado, foi descartada,
levando em consideração as medições no Morro Constantin ainda em 2001, realizadas através de convênio entre Certel,
Windpower Indústria e Comércio Ltda. e Secretaria Estadual de Energia, Minas e Comunicações. Na época a torre, situada numa
altitude de 630 metros do nível do mar, identificou uma média de velocidade do vento na casa dos cinco metros por segundo.
"No atual estágio da tecnologia dos aerogeradores a velocidade média mínima para viabilizar um local de geração está em
sete metros por segundo, mas esta condicionante poderá mudar no futuro", explica o gerente da área de Geração de Energia da
Certel, Julio Salecker. Durante um ano e meio a Certel manteve a torre instalada e a média ficou inferior ao necessário. O
estudo foi parte integrante do diagnóstico, que serviu de base para elaboração do Atlas Eólico do RS. Foi iniciado pelo
histórico apresentado por populares, que destacavam a força dos ventos.
Energia eólica no Rio Grande do Sul
Existem no Estado 33 projetos de parques eólicos, num total de 1.770,6 megawatts, implicando investimentos de cerca de
U$S 1,6 bilhão. Estima-se a criação de três mil empregos que serão gerados em decorrência da entrada da energia no Rio
Grande do Sul. Os estudos em solo gaúcho iniciaram-se em 1999, através de medições de superfície quanto à intensidade e
direção dos ventos. O Atlas Eólico do Rio Grande do Sul estima um potencial de geração de energia, a 50 metros de altura,
na ordem de 15.840 megawatts em terra, e 18.520 megawatts sobre a água (lagoas dos Patos, Mirim e Mangueira).
Para o secretário de Energia, Minas e Comunicações, José Carlos Elmer Brack, esta situação é singular no que se refere ao
empreendedorismo na prospecção da fonte, e é do interesse público que se viabilize a instalação do maior número de parques
eólicos. "Apesar disso tudo, atualmente apenas três obras estão em desenvolvimento no Brasil - Rio do Fogo no Rio Grande do
Norte, Osório no Rio Grande do Sul e Santa Catarina -, que não totalizam 300 megawatts, o que indica alta taxa de
mortalidade dos projetos, fato que se contrapõe aos interesses do sistema elétrico", afirma.
Neste cenário o Estado solicita o reaproveitamento de cotas não-utilizadas, caso algum projeto seja inviabilizado, e
considerar a hipótese de redistribuição de cotas dos demais estados da federação de projetos já pactuados com a União,
ainda não-iniciados e sem condições de conclusão até dezembro de 2008.
Estudos podem ser estendidos às demais regiões do Estado
O convênio firmado pela PUC/RS com a Secretaria de Energia, Minas e Comunicações na segunda-feira, viabilizando pesquisas
para produção de energia eólica em Ijuí, poderá estender-se para as demais regiões do Rio Grande do Sul. O diretor da
Faculdade de Engenharia, Edgar Bortolini, levará a idéia ao secretário José Carlos Elmer Brack e a toda a equipe de técnicos
do Estado. A PUC/RS tem um Núcleo Tecnológico de Energia e Meio Ambiente (Nutema), reconhecido internacionalmente por suas
pesquisas, que no caso de Ijuí fará o levantamento de informações como velocidade média dos ventos, com estudos de campo e
implantação de softwares específicos.
Ijuí
O interesse do município em sediar uma usina para produção e utilização de energia a partir dos ventos tem como base
pesquisas preliminares que já apontaram o potencial da região. Sua localização no planalto, sobre a pedra de basalto
vulcânica, conta com colinas de centenas de metros, cujo ponto mais alto chega a 409 metros acima do nível do mar e o mais
baixo a 205 metros (média de 384).
Em Osório, produção de 103% da capacidade instalada
O parque eólico de Osório, que entrou em operação comercial no dia 5 de julho, bateu recorde: produziu 103% da sua
capacidade instalada de 50 megawatts (MW) neste mês. A média diária de produção se mantém em 11%. O Parque Eólico de
Osório é constituído por três complexos - Osório, Sangradouro e Índios - com capacidade total de 150 megawatts e 75
aerogeradores. Os outros dois funcionam até o início de 2007.
Entenda o processo
A energia produzida pelos ventos se chama energia eólica. É a mais simples das formas de produção energética. Para conseguir
transformá-la em elétrica é preciso levar grandes turbinas para lugares de muito vento: no alto das montanhas, nos desertos
e nas praias. Existem também projetos para se colocar turbinas no meio do mar, em cima de plataformas. Essas parecem
cataventos e lembram também moinhos.
Os moinhos, aliás, são um exemplo antigo de como a força do vento pode ser útil. Quando rodam as pás do moinho, uma
engrenagem começa a funcionar. Essa é usada para moer grãos de trigo e milho, produzindo farinha e alimentos.
Com as modernas turbinas de energia eólica acontece a mesma coisa. Quando as hélices das turbinas rodam, o movimento produz
energia elétrica, que fica armazenada em um gerador. Do gerador a energia é transmitida por cabos e fios até os lugares
onde ela vai ser consumida: casas, escolas, hospitais, fábricas, ruas, etc.
(
O Informativo do Vale, 30/08/2006)