A visita do ministro da Agricultura, Luis Carlos Guedes Pinto, a
Esteio hoje (31/08) está cercada de expectativa. Uma palavra dele
pode amainar a angústia de gente como o agricultor Antônio Querino
Guth, que, a menos de um mês do início do plantio da soja, ainda não
sabe se jogará sementes na terra.
Com chegada ao parque prevista para as 15h, Guedes deve anunciar se
será permitido, afinal, o plantio de sementes não-certificadas -
aquelas guardadas da última colheita pelo agricultor. A legislação
atual prevê a compra de sementes fiscalizadas da indústria. Querino
promete uma medida drástica caso o governo imponha restrições aos
grãos piratas.
- Pela primeira vez desde que me conheço por gente não vou plantar
soja - diz Querino, 50 anos, dono de 19,5 hectares em Ubiretama, no
noroeste do Estado.
O problema de plantar as sementes "maradona" é não poder, por isso,
acessar crédito bancário ou seguro agrícola. A proposta do governo, de
trocar com os produtores sementes certificadas pelas guardadas, foi
rejeitada pela Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado -
segundo o presidente da Fetag, Ezídio Pinheiro, devido à falta de tempo
para operacionalizar a troca.
Outro caminho seria a permissão para plantar uma parcela da área com
as certificadas, proposta rejeitada pelo coordenador da Federação dos
Trabalhadores na Agricultura Familiar, Altemir Tortelli, justificando
que não há dinheiro no bolso do produtor para sequer um saco de
sementes.
Alguns minutos de conversa com Querino dão a dimensão do problema dos
produtores. A estiagem da última safra, por exemplo, resultou na perda
de 95% da soja plantada.
- Sobrevivemos com os R$ 1,8 mil do seguro agrícola - conta.
As perdas sucessivas obrigaram Querino a vender o único patrimônio da
propriedade: um trator Valmet, ano 1976. E trator para um colono é
como cavalo para um peão. Em 2004, ele havia obtido financiamento de
R$ 6 mil para reformar o equipamento, que o acompanhava havia 30 anos,
mas temia não conseguir pagar as cinco parcelas anuais de R$ 1,3 mil.
Obteve R$ 15 mil pelo veículo. Diante das dificuldades, Querino
pergunta:
- Como o governo quer que eu pague pelas sementes?
(Por
Carlos Etchichury e Isabel Marchezan,
Zero Hora, 31/08/2006)