Com talento e criatividade, o artesão Jander Cabral, 34 anos, transforma sementes de jarina, cascas e caroços vegetais, matéria-prima rústica da floresta amazônica, em jóias de fino acabamento. São as chamadas biojóias, que possuem alto valor agregado porque reúnem em colar, pulseira, anel ou brinco, a arte artesanal indígena e a precisão da ourivesaria.
Amazonense de Autazes, a 113 quilômetros de Manaus, Jander Cabral revela que as biojóias têm alcançado o mercado externo. O artesão realiza mensalmente negócios com compradores da Suíça, Estados Unidos e Inglaterra. No Brasil, segundo Cabral, Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília são as cidades mais interessadas nesse tipo de produto. "Desde que me dediquei à produção de biojóias, nunca consegui montar um estoque, porque a procura é muito grande", diz o artesão.
O principal produto utilizado por Jander Cabral para a produção de biojóias são as sementes de jarinas, conhecidas como marfim vegetal. Ele também utiliza casca de coco, castanha-da-amazônia, tucumã e cuia, mas a jarina é preferida porque além do seu emprego em colares, pulseiras e gargantilhas, é possível transformá-la em miniaturas de peixe-boi, sapo, boto, entre outros animais.
Conforme Jander Cabral, a semente de jarina é retirada de uma palmeira bastante comum na região oeste do Amazonas, distante, portanto, da capital. Mas as biojóias estarão bem perto do público manauara. É que o artesão, em parceria com o Sebrae no Amazonas, vai lançar uma nova coleção de biojóias durante a III Feira Internacional da Amazônia (Fiam 2006), nos dias 30 de agosto a 2 de setembro, no Studio 5 – Centro de Convenções de Manaus.
A nova coleção conta com cerca de 500 peças, com preços que variam entre R$ 20 a R$ 150. "Com o apoio do Sebrae no Amazonas, fiz contatos com muitos compradores e tenho certeza de que durante a Fiam um novo leque de oportunidades vai surgir", revela Cabral.
Para a coordenadora do Programa Sebrae de Artesanato no Amazonas, Clarice Maquiné Nunes, o lançamento da nova coleção de Jander durante a Fiam 2006 vai mostrar para o público o potencial inovador do artesanato amazonense. Atualmente, não existe uma estatística aproximada do número de artesãos trabalhando com esse produto. "A biojóia agrada inicialmente as mulheres, mas impressiona qualquer um que se interesse por jóias exóticas e sofisticadas", avalia Clarice Nunes.
Artista empreendedor
Há quatro anos no ramo de biojóias, essa é a segunda vez que Jander Cabral participa como expositor na Fiam. O interesse do artesão, com visão de empresário, é consolidar o mercado externo e interno das biojóias e divulgar seu trabalho, de modo a atrair maior clientela para sua loja.
Cabral lamenta que o Centro de Artesanato Branco e Silva, onde está localizada sua loja, não faça parte de nenhum roteiro turístico da cidade. "Mantenho financeiramente minha atividade muito mais pela venda a compradores de outros estados e países que pela clientela local ou turística", diz.
Segundo revela Jander Cabral, a opção pelo trabalho com biojóias é fruto de uma vocação profissional e de sua própria história de vida. Saído do município de Autazes aos nove anos de idade, o artesão seguiu para a capital para morar com uma tia e dar seguimento aos estudos. Já nessa época, ele manifestava dotes artísticos, desenhando ou produzindo figurinos indígenas para encenações escolares.
Aos 20 anos, veio a oportunidade de trabalhar na produção de alegorias para a escola de samba Aparecida. O bom trabalho lhe rendeu convites para atuar nos carnavais do Rio de Janeiro, São Paulo e Bahia. Tornou-se um artista plástico de sucesso. Manteve-se na atividade de artista plástico por muitos anos, sempre visitando, a convite de clientes, muitos Estados e municípios brasileiros.
Jander Cabral reconhece que foi a experiência adquirida com muitas viagens que nasceu a idéia de adequar o artesanato local às exigências de um público mais acostumado ao brilho e glamour de jóias com especial acabamento. “Há sete anos, quando comecei a idealizar o negócio, o artesanato amazonense era incipiente”, lembra.
(Por Marcos Vieira, da Agência Sebrae, disponível em
Envolverde, 30/08/2006)