Arroz transgênico norte-americano dispara o alarme verde
2006-08-31
A descoberta de que tipo de arroz comercializado nos Estados Unidos havia sido submetido a desautorizadas modificações genéticas demonstrou com que facilidade os alimentos neste país podem ser contaminados, alertaram observadores e ambientalistas. A descoberta no arroz de grão longo de alguns sinais da variedade geneticamente modificada Liberty Link Rice 601, produzido pela gigante agroquímica Bayer CropScience, e que não foi programado para ser lançado no mercado, motivou sua imediata proibição no Japão. Os Estados Unidos respondem por 12% do arroz comercializado no mundo, e muitos países dependem do produto norte-americano para o consumo interno. Os principais importadores do arroz norte-americano são México, América Central e Arábia Saudita.
A variedade de grão largo representa 80% das exportações de arroz pelos Estados Unidos. “É claro que muitos países podem ser afetados. A maioria deles fica na América Latina, e creio que deveriam estar preocupados com isto”, disse Bill Freese, analista de políticas científicas no independente Centro para a Segurança Alimentar, com sede em Washington. “Os cultivos transgênicos podem ter efeitos involuntários e imprevistos que eventualmente afetem a saúde e o meio ambiente”, afirmou.
A variedade do grão 601 é um dos diversos produtos criados para resistir a certo tipo de pesticidas, mas nem seu consumo nem seu cultivo foram aprovados pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos em nenhuma parte do mundo. Embora não houvesse nenhum porta-voz da Bayer disponível para entrevistas, a companhia divulgou um comunicado informando que estava cooperando com o Departamento de Agricultura e garantiu que a proteína usada na variedade 601 é segura. “A proteína é bastante conhecida pelas autoridades que cuidam da regulamentação, as quais confirmaram seu consumo e cultivo em muitos países da União Européia (UE), bem como nos Estados Unidos, Japão, México e Canadá”, diz o comunicado. Washington defendeu o produto da Bayer.
O secretário de Agricultura, Mike Johanns, disse esta semana que a contaminação não representa nenhum risco para a saúde humana, nem para os alimentos ou mesmo o meio ambiente. “A proteína que a variedade 601 contém foi aprovada em outros produtos”, afirmou. Os Estados Unidos afirmam que os transgênicos foram desenvolvidos pensando nos consumidores. Mas o Centro para a Segurança Alimentar acusa o Departamento de Agricultura de ser complacente com a poderosa indústria biotecnológica. “É uma agência fora de controle”, afirmou o diretor-executivo do Centro, Andrew Kimbrell. “Seus erros na regulamentação e vigilância dos testes de campo dos cultivos geneticamente modificados colocam em risco o meio ambiente e a saúde pública”, acrescentou.
Desde 1996, o Departamento concedeu, pelo menos, 48 autorizações à Bayer e às companhias que adquiriu, como Aventis e AgrEvo, para mais de 16 mil quilômetros quadrados de plantações de arroz transgênico. “Não se sabe até que ponto o pólen dos grãos destes campos de testes contaminaram o arroz comercial ou o arroz vermelho. As políticas do Departamento não prevêem vigilância dos campos vizinhos aos de testes”, disse o Centro. No ano passado, o Japão e a UE proibiram as importações de milho dos Estados Unidos depois da divulgação de um escândalo de contaminação, no qual Washington se apoiou em relatórios dos próprios gigantes da agroindústria. Nessa oportunidade, a Comissão Européia anunciou que somente imporia testes e requisitos de certificação ao grão de arroz longo norte-americano.
Ambientalistas temem que a contaminação se estenda por toda a cadeia alimentícia, em razão do menor custo do arroz transgênico, e dizem que a UE deveria ter proibido a importação do produto. “É tempo de ir além dos procedimentos caso a caso, já que a indústria da engenharia genética demonstrou que não está disposta, ou não é capaz, de prevenir a contaminação com transgênicos”, disse Jeremy Tager, do Greenpeace Internacional. O grupo também criticou a Comissão Européia e disse que o arroz é o alimento básico mais importante do mundo e, portanto, uma contaminação poderia ter resultados catastróficos.
O Greenpeace exortou a UE a identificar os países e os produtos que estão em alto risco de terem alimentos com organismos ilegais ou perigosos. Também solicitou às nações da América Latina, África e Oriente Médio que tomem medidas semelhantes até que os Estados Unidos possam garantir que seu arroz não está contaminado. “Os países que importam arroz norte-americano, como Brasil e México e os da União Européia, devem levar a sério a prevenção deste tipo de ameaça aos nossos alimentos, proibindo toda importação de arroz transgênico e retirando todos os produtos contaminados dos supermercados”, disse Tager.
(Por Emad Mekay, Envolverde, 30/08/2006)
http://www.envolverde.com.br/materia.php?cod=21997&edt=1