Fumigação antidroga prejudica agricultura legal na Colômbia
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2006-08-30
Se não for suspensa imediatamente a fumigação aérea antidrogas na Colômbia, as comunidades indígenas locais pagarão um alto preço ambiental e econômico, alertou a Associação Interamericana para a Defesa do Meio Ambiente, dos Estados Unidos. Um informe de 23 páginas, elaborado por esta entidade, com sede em Oakland, na Califórnia, documenta numerosos casos de danos à saúde humana, destruição de plantações e contaminação da água em conseqüência de seis anos de fumigação aérea incentivada pelo governo norte-americano. Estas operações são parte do Plano Colômbia, um programa de assistência de Washington ao governo desse país dotado de milhares de milhões de dólares, que tem entre seus objetivos reduzir o consumo de drogas entre a população norte-americana.
Após lançar durante anos substâncias tóxicas sobre plantações de coca, os Estados Unidos e a Colômbia não conseguiram reduzir a produção dessa matéria-prima da cocaína, que se mantém relativamente estável, segundo o estudo “Estratégias de desenvolvimento alternativas: a necessidade de ir além da fumigação de plantações ilegais”. A área de cultivos de coca era estimada em cerca de 163 mil hectares em 2000. Hoje, são menos de 144 mil hectares, segundo pesquisadores que se basearam em fontes independentes e oficiais. “A fumigação aérea é completamente ineficaz e contraproducente”, disse á IPS Anna Cederstav, diretora de programa na Associação Interamericana para a Defesa do Meio Ambiente.
Os autores do estudo dizem que quase 90% das fazendas afetadas por esta prática se dedicavam à produção legal de frutas, vegetais e café orgânico, e não de coca. Até agora, nenhum agricultor foi compensado pelos prejuízos. Além disso, propriedades apoiadas pela Agência Internacional para os Desenvolvimento (Usaid), dos Estados Unidos, e pelo Escritório das Nações Unidas contra a Droga e o Crime (Unodc), através de programas de cultivos alternativos para os plantadores de coca, também foram prejudicadas pela fumigação indiscriminada. Em maio e junho do ano passado, por exemplo, a fumigação prejudicou agricultores legais que pagaram um alto preço por certificações de agricultura orgânica para exportação.
O estudo ressalta que, em muitos casos comunidades indígenas e negras não foram consultadas pelas autoridades responsáveis pela fumigação, embora as leis colombianas e internacionais assim exijam. Especialistas afirmam que comunidades indígenas apóiam as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), que enfrentam o governo e as milícias paramilitares de direita há 40 anos. Tanto as Farc quanto os paramilitares negam participar do comércio ilegal de coca e cocaína para os Estados Unidos e a Europa, como afirmam numerosos observadores.
O informe destaca a falta de resultados do programa de fumigações e os sucessos comprovados dos projetos de desenvolvimento comunitário. “Na Colômbia existem programas com bons resultados para erradicar cultivos ilícitos que não têm custo econômico, social, ambiental e sanitário tão alto quanto a fumigação”, disse Rafael Colmenares, diretor da Ecofondo, rede que representa mais de 130 organizações ambientais nacionais. Para ele, “são estes programas que deveriam ser apoiados, pois podem gerar uma solução real e duradoura para o problema”.
Entre os projetos alternativos sugeridos no estudo figuram um sistema sustentável de conservação e manejo ambiental baseado na participação comunitária e em programas voluntários de erradicação da coca apoiados pela Organização das Nações Unidas. O estudo faz um cálculo da relação custo-benefício das fumigações: entre 2000 e 2005 foram investidos US$ 1,2 bilhão para fumigar mais de 713 mil hectares de cultivos de coca e papoula, mas com isso só se conseguiu reduzir em 26 mil os hectares cultivados.
Por outro lado, no mesmo período foram gastos US$ 213 milhões em programas de desenvolvimento alternativo com os quais se conseguiu “proteger ou erradicar com sucesso cultivos ilícitos de 1,6 milhão de hectares”. O informe exorta os governos dos Estados Unidos e da Colômbia, bem como a ONU, a aumentar seu apoio a projetos alternativos para eliminar o cultivo de drogas ilícitas. “Estamos convencidos de que a implantação imediata de programas alternativos, sustentáveis e participativos podem gerar soluções reais ao complexo problema dos cultivos ilegais”, disse Astrid Puentes, diretora legal da Associação Interamericana para a Defesa do Meio Ambiente. “Continuar fumigando enquanto se ignora os programas que proporcionam alimentos e trabalho aos pobres das áreas rurais intensificará a crise colombiana e terá sérios impactos ambientais”, ressaltou.
(Por Haider Rizvi, Envolverde, 29/08/2006)
http://www.envolverde.com.br/materia.php?cod=21926&edt=1