O presidente da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Carlos Sperotto, disse
segunda-feira (28/08) que o produtor gaúcho vai plantar a semente que tem, porque senão perde a terra,
ao defender a liberação das variedades transgênicas sem certificação – multiplicadas nas
propriedades –, como querem as principais entidades rurais do Estado, pela terceira safra
consecutiva.
O diretor secretário da Federação dos Trabalhadores na Agricultura (Fetag), Elton Weber, disse
esperar que o ministro da Agricultura, Luís Carlos Guedes Pinto, confirme sexta-feira, na
Expointer, a liberação das sementes transgênicas de soja sem certificação para a safra
2006/2007. “Estamos trabalhando e acreditamos que o bom senso resolverá esse quadro”,
acrescentou Sperotto.
O dirigente preferiu não comentar a posição do ministro, que criticou o uso de sementes
próprias, considerando a prática um retrocesso. O dirigente disse que Guedes vai ter
oportunidade de expor sua avaliação na sexta-feira, quando estiver na Expointer. No último fim
de semana, o ministro do Desenvolvimento Agrário, Guilherme Cassel, visitou a Expointer e disse
que o governo estuda a edição de uma medida provisória para autorizar o plantio com essas
cultivares.
Um dos argumentos das entidades rurais para defender a liberação é a previsão dos produtores de
sementes de que só há insumos certificados para cobrir 68% da área destinada à soja no
Rio Grande do Sul. Conforme a Associação Brasileira de Sementes e Mudas (Abrasem), os
agricultores gaúchos nunca compraram mais que 64% da necessidade – é tradição usar uma parcela
de material guardado da safra anterior. “Para mudar de padrão, tem que existir um momento de
transição”, disse.
Protestos
A Fetag mantém a previsão de realizar manifestações durante a Expointer para defender a
autorização de plantio e financiamento oficial do custeio para a lavoura cultivada com esse
insumo. Outra conseqüência da possível liberação seria a possibilidade de contratar cobertura
do seguro agrícola para a lavoura formada com essas sementes sem origem identificada. A
autorização precisaria sair até a metade de setembro, estimou Weber, considerando o tempo
necessário para a tomada de crédito antes do início do plantio, em outubro.
Ministro considera medida um retrocesso
O ministro da Agricultura, Luís Carlos Guedes Pinto, disse que é um retrocesso o uso de sementes
transgênicas próprias pelos agricultores ao comentar a reivindicação dos produtores gaúchos
para que o governo autorize o financiamento de custeio do insumo sem certificação, multiplicado
pelos agricultores no Rio Grande do Sul. Em entrevista à Rádio Gaúcha, de Porto Alegre, Guedes
avaliou que a semente certificada beneficia o produtor, já que tem melhor desempenho, e alertou
para o risco de possíveis barreiras fitossanitárias contra o Brasil a partir do uso de
variedades sem origem identificada.
“No mundo de hoje, onde as barreiras tarifárias chegaram a um limite e surgem obstáculos de
outra ordem, sobretudo sanitários e agora com relação a resíduos, e até mesmo na área da
biotecnologia, acho que é um risco muito grande lançarmos mão dessa semente, porque o nosso
comprador amanhã pode alegar que não sabe a origem do produto”, analisou.
Questionado sobre a possibilidade de liberar essas sementes transgênicas de soja para a produção
de biodiesel, Guedes disse que é preciso ter um mecanismo de controle para assegurar esse
destino. “Sobretudo, estamos preocupados com o avanço tecnológico da agricultura brasileira”,
declarou. “Eu acho que é um retrocesso o produtor usar sua própria semente”, acrescentou,
citando que essa prática reduz o rendimento da lavoura.
(
Gazeta do Sul, 29/08/2006)