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2006-08-30
O presidente da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Carlos Sperotto, disse segunda-feira (28/08) que o produtor gaúcho vai plantar a semente que tem, porque senão perde a terra, ao defender a liberação das variedades transgênicas sem certificação – multiplicadas nas propriedades –, como querem as principais entidades rurais do Estado, pela terceira safra consecutiva.

O diretor secretário da Federação dos Trabalhadores na Agricultura (Fetag), Elton Weber, disse esperar que o ministro da Agricultura, Luís Carlos Guedes Pinto, confirme sexta-feira, na Expointer, a liberação das sementes transgênicas de soja sem certificação para a safra 2006/2007. “Estamos trabalhando e acreditamos que o bom senso resolverá esse quadro”, acrescentou Sperotto.

O dirigente preferiu não comentar a posição do ministro, que criticou o uso de sementes próprias, considerando a prática um retrocesso. O dirigente disse que Guedes vai ter oportunidade de expor sua avaliação na sexta-feira, quando estiver na Expointer. No último fim de semana, o ministro do Desenvolvimento Agrário, Guilherme Cassel, visitou a Expointer e disse que o governo estuda a edição de uma medida provisória para autorizar o plantio com essas cultivares.

Um dos argumentos das entidades rurais para defender a liberação é a previsão dos produtores de sementes de que só há insumos certificados para cobrir 68% da área destinada à soja no Rio Grande do Sul. Conforme a Associação Brasileira de Sementes e Mudas (Abrasem), os agricultores gaúchos nunca compraram mais que 64% da necessidade – é tradição usar uma parcela de material guardado da safra anterior. “Para mudar de padrão, tem que existir um momento de transição”, disse.

Protestos
A Fetag mantém a previsão de realizar manifestações durante a Expointer para defender a autorização de plantio e financiamento oficial do custeio para a lavoura cultivada com esse insumo. Outra conseqüência da possível liberação seria a possibilidade de contratar cobertura do seguro agrícola para a lavoura formada com essas sementes sem origem identificada. A autorização precisaria sair até a metade de setembro, estimou Weber, considerando o tempo necessário para a tomada de crédito antes do início do plantio, em outubro.

Ministro considera medida um retrocesso
O ministro da Agricultura, Luís Carlos Guedes Pinto, disse que é um retrocesso o uso de sementes transgênicas próprias pelos agricultores ao comentar a reivindicação dos produtores gaúchos para que o governo autorize o financiamento de custeio do insumo sem certificação, multiplicado pelos agricultores no Rio Grande do Sul. Em entrevista à Rádio Gaúcha, de Porto Alegre, Guedes avaliou que a semente certificada beneficia o produtor, já que tem melhor desempenho, e alertou para o risco de possíveis barreiras fitossanitárias contra o Brasil a partir do uso de variedades sem origem identificada.

“No mundo de hoje, onde as barreiras tarifárias chegaram a um limite e surgem obstáculos de outra ordem, sobretudo sanitários e agora com relação a resíduos, e até mesmo na área da biotecnologia, acho que é um risco muito grande lançarmos mão dessa semente, porque o nosso comprador amanhã pode alegar que não sabe a origem do produto”, analisou.

Questionado sobre a possibilidade de liberar essas sementes transgênicas de soja para a produção de biodiesel, Guedes disse que é preciso ter um mecanismo de controle para assegurar esse destino. “Sobretudo, estamos preocupados com o avanço tecnológico da agricultura brasileira”, declarou. “Eu acho que é um retrocesso o produtor usar sua própria semente”, acrescentou, citando que essa prática reduz o rendimento da lavoura.
( Gazeta do Sul, 29/08/2006)

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