Novo Atlas revela degradação ecológica do continente africano
2006-08-29
Para o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, não existe melhor maneira de constatar a crescente degradação ecológica que não seja através da comparação de imagens feitas através de satélites. Por isso, esta agência da Organização das Nações Unidas apresentou um novo Atlas, durante uma conferência realizada na semana passada na capital da Suécia, por ocasião da Semana Mundial da Água, alertando para as “dramáticas e prejudiciais” mudanças ambientais na África.
“Espero que as imagens do Atlas sejam um sinal de alerta para todo o mundo de que, se queremos superar a pobreza e alcançar as metas para o desenvolvimento fixadas para 2015, a gestão sustentável dos lagos africanos deve ser parte da equação”, disse o diretor-executivo do Pnuma, Achim Steiner. “De outra maneira – alertou - enfrentaremos grandes tensões e instabilidade, já que as crescentes populações competirão pelos recursos mais preciosos para a vida”.
Estes recursos incluem bacias hidrográficas, lagos, florestas e vida silvestre em geral na África. O Atlas mostra o contraste dentre imagens de satélite de uma quase perfeita África algumas décadas atrás com fotos do continente como se encontra hoje, sob assalto ambiental. “O rápido retrocesso do lago Songor, em Gana, em parte como resultado da produção intensiva de sal, e as extraordinárias mudanças no Rio Zambezi, devido à construção da represa Cabora Bassa, é visto claramente junto com imagens que também revelam a redução de quase 90% do Lago Chad”, dise o Pnuma.
Segundo esta agência da ONU, o Lago Songor se destaca como “uma das mudanças visuais mais dramáticas do Atlas”. Este lago salobro é habitat de peixes e tartarugas ameaçadas no resto do mundo, bem como de uma vasta população de aves. Nas imagens de dezembro de 1990, Songor aparece como uma clara mancha azul de aproximadamente 74 quilômetros quadrados. Em dezembro de 2000, já aparece como uma “pálida sombra”. A publicação intutulada “Os lagos da África: Atlas de nosso meio ambiente mutante”, inclui imagens via satélite que mostram a redução do nível da água do Lago Victoria, entre Quênia, Tanzânia e Uganda, o maior de água doce do continente e que agora está um metro mais baixo do que no início dos anos 90. Cerca de 30 milhões de pessoas vivem em torno do lago.
O Pnuma também assinalou que cerca de 150 mil quilômetros quadrados de terra do continente africano – equivalente a cerca de 25 mil campos de futebol – apresentam degradação dos solos. Treze por cento desta terra estão severamente danificados. O Atlas também mostra o extenso desmatamento em torno do Lago Nakuru, no Quênia, “parte natural e parte causado pelo homem, que somente pode ser visto em sua totalidade desde o espaço”. Além disso, o Pnuma disse que o lago passou de 43 quilômetros quadrados para 40 quilômetros quadrados em 2000. O Atlas contém estatísticas alarmantes. Níger perdeu mais de 80% de seus mangues de água doce nas duas últimas décadas. Cerca de 90% da água na África são usados na agricultura, da qual entre 40% e 60% se perde por infiltração e evaporação.
Por outro lado, um novo estudo elaborado pelo Pnuma junto com a Universidade do Oregon (EUA) mostra que as precipitações e os volumes de água dos rios diminuíram de forma sustentada nos últimos 30 anos. Isto se deve, em parte, ao aumento da evaporação causada pelo aquecimento do planeta. “Os atuais níveis de água na bacia do Rio Volta (na África ocidental) refletem uma redução ao limite dos recursos disponíveis, e será cada vez mais difícil responder às demandas adicionais”, diz o estudo. O Pnuma exortou os países da área de influência da bacia a trabalharem juntos para administrar os recursos hídricos da região. Estes países são Benin, Burkina Faso, Costa do Marfim, Gana, Mali e Togo.
(Por Thalif Deen, Envolverde, 28/08/2006)
http://www.envolverde.com.br/materia.php?cod=21826&edt=1