Recifes de corais correm risco de extinção devido a poluentes que deixam os oceanos mais ácidos
2006-08-29
O alerta vem dos oceanógrafos americanos Ken Caldeira, do Carnegie Institution, e Michael Wickett, da Lawrence Livermore National Laboratory: os recifes de corais estão condenados à morte. Entre as maravilhas fadadas a desaparecer, somente como exemplo, está a Grande Barreira Coralina, na Austrália, tombada como Patrimônio da Humanidade. Os dois especialistas fizeram e refizeram as contas. O resultado é susto e tristeza: a expectativa de vida desses organismos marinhos não chega a 50 anos se o ritmo de emissão de poluentes derivados da queima de combustíveis fósseis, como o petróleo e o carvão, continuar em expansão. Os oceanos podem absorver anualmente até 100 milhões de toneladas dos poluentes da atmosfera sem comprometer a vida marinha. No ano passado, porém, essa quantia foi 20 vezes superior e estima-se que será maior nos próximos anos. “Ainda que as emissões sejam zeradas imediatamente, esses organismos teriam apenas metade do tempo de vida previsto”, diz Caldeira.
O gás carbônico em excesso reage com a água transformando os mares num imenso reservatório de ácido e essa substância corrói organismos basicamente formados por cálcio e carbonato – é o caso dos corais, primeiros corpos marinhos a sentirem o efeito dessa mudança. Mas, além deles, também moluscos, estrelas-do-mar, ouriços e ostras correm risco de extinção. “Eles se dissolvem em vida”, diz Caldeira. “É como sepultar alguém que ainda não faleceu.” Os cientistas simularam em laboratório o que aconteceria com um molusco comum do mar Mediterrâneo se a água chegasse ao pH 7 devido aos poluentes. Explica-se: o pH é uma unidade de medida que vai de zero a 14. Abaixo de 7, o líquido se tornaácido (atualmente os mares são alcalinos, com pH médio de 8,2). Assim, um molusco estaria decomposto em apenas dois dias e muitas algas responsáveis pela oxigenação dos mares também seriam extintas. Os cientistas lutam agorapara descobrir o que aconteceria com os corais de grande profundidade, na desesperada tentativa de salvá-los.
Um deles, por exemplo, encontra-se a cerca de um quilômetro de profundidade entre a Noruega e a costa africana, estendendo-se por 4,5 mil quilômetros. Não é a primeira vez que ocorre o fenômeno da acidificação. Estima-se que há 55 milhões de anos as espécies marinhas que habitavam regiões profundas não suportaram a absorção de 4,5 trilhões de toneladas de gás carbônico que se dissolveram nas águas. Dez milhões de anos mais tarde, o choque do meteoro que teria dizimado 90% das espécies do planeta lançou na atmosfera doses astronômicas de dióxido de enxofre que se diluiu no mar, extinguindo a maior parte dos corais – alguns deles ressurgiram somente após dois milhões de anos. E ressurgiram para, novamente, sobreviverem sob a iminência da morte. “Lamentavelmente, estamos perdendo a diversidade de espécies”, diz a professora Rosane Ito, do Instituto de Oceanografia da Universidade de São Paulo.
(Por Julio Wiziack, IstoÉ, 30/08/2006)
http://www.terra.com.br/istoe/
(Por Alister Doyle, Reuters, 25/08/2006)
http://br.today.reuters.com/news/newsArticle.aspx?type=worldNews&storyID=2006-08-25T190107Z_01_B53849_RTRIDST_0_MUNDO-CLIMA-ERAGLACIAL-POL.XML&archived=False