Pelo segundo ano consecutivo, produtores do entorno da Floresta Nacional de Passo Fundo decidem plantar soja transgênica, mesmo sob ameaça de autuação
2006-08-29
A lei federal que proíbe o plantio de soja transgênica em um raio de 10 km do entorno de
florestas e parques tem tirado o sono de mais de mil produtores rurais gaúchos. Desde o ano
passado, o impasse entre os produtores rurais de Mato Castelhano e cidades vizinhas e o Ibama
tem sido discutido pela comunidade local. Em 2005, mesmo sem a assinatura de um termo de
ajustamento de conduta, os produtores continuaram plantando soja transgênica.
Em assembléia geral realizada no último sábado (26/08), no ginásio de esportes de Mato Castelhano, por
unanimidade, os 500 produtores presentes reafirmaram o Sim. Na safra de verão 2006/07, suas
terras serão cobertas por soja, transgênica é claro.
A justificativa dos produtores é de que a soja transgênica apresenta menos riscos ao meio
ambiente, principalmente por utilizar menos produtos químicos no seu manejo. Os produtores
justificam ainda a escolha com os custos de produção, que são menores. Com os preços da
commoditie em baixa, a soja geneticamente modificada se apresenta como a opção mais barata ao
agricultor.
Segundo o advogado da Profloma (Associação dos Produtores Rurais do Entorno da Floresta de Mato
Castelhano), Ioberto Banunas, outras importantes decisões foram tomadas na assembléia. Ficou
acordado que os produtores que receberem notificações do Ibama irão ingressar com ações
individuais no Ministério Público. "Trata-se de uma decisão estratégica já que uma ação civil
pública foi aberta contra o Ibama, exigindo fiscalização por parte do órgão", explica.
Os produtores de cidades e distritos de Mato Castelhano, Marau, Gentil, Água Santa, Vila
Lângaro, Coxilha, Passo Fundo, Rincão dos Lopes, São Pedro do Rio do Peixe, Tijuco Preto,
Nossa Senhora de Lourdes, Butiazinho, Povinho Velho, Rincão da Esperança, Campinas dos
Novelos, Santo Antônio dos Pobres, Santo Antônio dos Gregolos e Divino Espírito Santo ficaram
proibidos de plantar organismos geneticamente modificados. A área total do limite da proibição
é de 31 mil hectares, grande parte são terras agriculturáveis.
Personagem
Giovani Vailati, 29 anos
Produtor rural de Mato Castelhano planta 80 ha de soja no entorno
O Nacional - O senhor plantou soja transgênica no ano passado?
Giovani Vailati - Sim. Todos plantaram.
ON - E neste ano continuarão a plantar?
GV - Pesamos os prós e contras e decidimos continuar plantando.
ON - Por que soja transgênica?
GV - É aquela velha história, o custo de produção é menor, o uso de agrotóxicos também é menor.
É uma tecnologia do futuro e eu não quero regredir plantando soja convencional.
ON - O senhor chegou a ser autuado?
GV - Não fui, mas poderia ter sido?
ON - E não tem receio de ser?
GV - Sempre pode acontecer, mas acreditamos que ainda seja válido o plantio. Precisamos disso.
Personagem
Alexandre Palma Palagio, 46 anos
Produtor rural de Mato Castelhano planta 15 ha de soja no entorno
O Nacional - O senhor plantou transgênicos na última safra? Chegou a ser autuado?
Alexandre Palagio - Sim plantei, mas não fui autuado.
ON - E nessa safra?
AP - Vou continuar plantando.
ON - Qual a vantagem da soja transgênica?
AP - Em primeiro lugar, não há mais espaço para a soja convencional. O mercado não diferencia
uma de outra e não há mais produtos nem pesquisa para a convencional. Além disso, a soja
transgênica é mais barata, mais produtiva e o custo de produção é menor.
ON - Como o senhor se sente infringindo a lei?
AP - Eu estou angustiado. Sei que é contra a lei, mas é necessário. Eu estou tentando mudar a
matriz produtiva dos 15 hectares que ficam dentro do entorno, plantando mamona, mas o processo
é difícil e demorado. Acho que o governo e o Ibama precisam ter sensibilidade e entender que
isso não se muda assim, é preciso incentivo ou algo parecido, mas soja convencional ninguém vai
voltar a plantar não.
(Por Daiane Tonial, O Nacional, 28/08/2006)
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