ARTIGO: NUNCA FOI TÃO LUCRATIVO INVESTIR NO MEIO AMBIENTE
2001-10-10
Por Jeff Otieno - FLORIDA CENTER FOR ENVIRONMENTAL STUDIES
Nunca foi tão lucrativo investir no meio ambiente como agora. Os lucros estão aumentando, os investimentos em ações, crescendo, os consumidores estão felizes e os acionistas, maravilhados. Esse não era o quadro de algum tempo atrás quando muitas organizações comerciais acreditavam que a informação sobre o meio ambiente não era necessária para uma visão fiel de seus desempenhos, ou que era difícil obter tal informação. Para começar, muitos acionistas estão exigindo informações das relações das firmas com o meio ambiente. - Eles querem saber se suas firmas são destruidoras ou preservadoras do planeta, disse o Dr. Lorraine Ruffing, da Conferência das Nações Unidas sobre o Comércio e Desenvolvimento/ United Nations Conference on Trade and Development (UNCTAD)/, numa reunião recente no Quênia. - Isso está forçando muitas companhias a prestarem atenção aos relatórios ambientais para melhorarem a sua imagem pública. De acordo com Roger Adams, da Association of Chartered Certified Accountants, os relatórios ambientais são a abertura, pela firma, dos dados ambientais, comprovados ou não, para quem tiver o interesse em tal informação. Na Europa, por exemplo, os acionistas do setor financeiro estão insistindo nos dados ambientais - o que não acontecia uma década atrás. A fim de satisfazer tanto aos acionistas como aos consumidores, a Unctad (preocupada principalmente com a responsabilidade ambiental) está se esforçando para espalhar a mensagem às grandes firmas, tanto no mundo em desenvolvimento, como no desenvolvido. Contudo, não é só uma guerra de acionistas, credores, analistas financeiros, fregueses, empregados e atuantes que estão exigindo relatórios ambientais. À medida que a necessidade de crédito cresce assustadoramente, os bancos e outras instituições financeiras estão requisitando dados também do desempenho ambiental. Os dados referidos incluem os riscos ambientais, os impactos, os posicionamentos, as estratégias, os objetivos, os custos, as responsabilidade e os desempenhos ambientais. - Devido às pressões intensas e à consciência ambiental, os credores e os acionistas potenciais não querem se associar com organizações que estão na lista negra dos grupos de pressão ambientais, diz o Dr Ruffing. Organizações como a Greenpeace estão presentes em fóruns internacionais exigindo que as companhias sejam as responsáveis pelos pecados cometidos contra o meio ambiente. Esta ação está forçando muitas companhias a investirem bastante em medidas amigas do meio ambiente. É um clamor público desse tipo que motivou o governo a formular o Ato de Gestão Ambiental e Coordenação de 1999 (Environmental Management and Co-ordination Act of 1999), que entrou em vigência no ano passado. De acordo com esse Ato, os poluidores são passíveis de multas de até 1 milhão de xelins quenianos, enquanto os motoristas que emitem fumaças venenosas podem pegar prisão de 2 anos ou 500 mil xelins quenianos. (Nota: 1 SchK = R$0,63 em 20/09/2001). - Relatórios ambientais estão ficando importantes para as grandes companhias que desejam se projetar como organizações amigas do consumidor. Não basta mais fazer só relatórios de finanças, diz Adams acrescentando que as companhias devem se preparar para aceitar a responsabilidade sempre que danos ambientais estejam presentes. Desses danos, os que são causados pela poluição são os piores. Daí a razão porque os atuantes antiglobalização estão furiosos com os líderes dos países ricos que formam o G7. Os atuantes acusam os países ricos de fomentarem a poluição, e de serem negligentes com o ecossistema frágil do mundo. Ao contrário do mundo em desenvolvimento, onde questões ambientais estão num segundo plano, os governos Ocidentais estão cedendo às pressões públicas e, por sua vez, pressionando as grandes companhias a relatar o seu desempenho ambiental. A Unctad diz que as companhias que seguem as melhores práticas estabelecidas estão concentradas no mundo desenvolvido, onde a consciência ambiental é maior. Algumas das companhias mais bem situadas são a British Petroleum, British Telecom e Shell, todas no Reino Unido. Outras são a Sony e Toyota, no Japão, a General Motors, Procter and Gamble e a Sun Company, com matrizes nos Estados Unidos. Muitos dos problemas ambientais que o mundo está enfrentando podem ser buscados direta ou indiretamente nas grandes companhias - sejam as mudanças climáticas ou a super exploração do ecossistema frágil. Estima-se que dobrando o dióxido de carbono da atmosfera, e a conseqüente mudança climática, vai reduzir o Produto Interno Bruto dos países em desenvolvimento em 2 a 9%, em comparação com 1 a 1,5% nas economias industriais. Não obstante, nem tudo está perdido. A análise feita sobre relatos em informações ambientais pelo KPMG Peat Marwick, em 250 companhias, dá nota alta às empresas farmacêuticas, mineração, empresas florestais, de polpa e do papel. Construção e materiais de construção são as que têm notas mais baixas. Algumas das vantagens associadas com relatórios ambientais são a montagem de sistemas apropriados de gestão e emprego de especialistas em áreas selecionadas, como auditorias. Tudo dito, à medida que a globalização transforma o mundo numa aldeia, os diretores executivos não terão outra alternativa senão entrar na linha no que diz respeito aos assuntos ambientais. (Tradução de Osmar de Almeida Santos)