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2006-08-29
A aposta do governo em projetos como Rio Madeira e Belo Monte, vai exigir grandes mudanças na operação do sistema elétrico. Isso porque a maioria das novas hidrelétricas serão a fio d´água, sem reservatório para armazenar água para o período seco, afirma o consultor Roberto Pereira D´Araujo. Na região Norte, onde está boa parte das usinas previstas pelo governo, o volume de água é intenso entre janeiro e junho. De julho a dezembro, o nível de água cai até seis vezes o volume das cheias. No Rio Xingu, por exemplo, onde será construída Belo Monte, o volume de água cai de 13 mil para quase mil metros cúbicos por segundo.

D´Araújo explica que, para aproveitar o total de água do rio seria necessário criar mecanismos para compensar a queda do volume de água na segunda metade do ano. Isso poderia ser feito pelos reservatórios da região Sudeste ou com a inserção de um número maior de termoelétricas no sistema brasileiro, afirma Xisto Vieira, presidente da Associação Brasileira de Geradores Térmicos (Abraget).

Segundo ele, está cada vez mais difícil construir hidrelétricas com reservatórios no País por causa dos impactos ambientais. O último levantamento da Aneel mostrava que 90% das usinas licitadas são a fio d´água. Durante muito tempo, pôde-se levantar usinas sem um controle rígido dos prejuízos à natureza. Mas hoje as exigências são maiores e os estudos muito mais completos que antigamente. Por isso, para conseguir fazer hidrelétricas sem que haja um processo extremamente demorado, a saída é abrir mão do reservatório. “O problema é que, assim, perdemos a capacidade de armazenamento. Ficaremos ainda mais dependentes das chuvas”, avalia Vieira.

Para o presidente da Associação Brasileira de Infra-Estrutura e Indústrias de Base (Abdib), Paulo Godoy, o risco do País é apostar todas as fichas nesses projetos estruturantes, como Belo Monte e Rio Madeira. Ele explica que o grau de risco é maior, pois estão em áreas mais sensíveis do ponto de vista ambiental. “Por isso, é necessário um acompanhamento rígido do processo.”

O presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim, afirma que a previsão é que as usinas do Rio Madeira consigam licença prévia em novembro.
(O Estado de S. Paulo, 28/08/2006)
http://www.estado.com.br/editorias/2006/08/28/eco-1.93.4.20060828.2.1.xml

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