Inventários biológicos no Amapá registram 23 espécies novas para a ciência
2006-08-29
Na última sexta-feira (25/8), foram apresentados em Macapá os resultados de onze expedições científicas realizadas em diferentes regiões inseridas em três Unidades de Conservação e no cerrado dentro da área do Corredor de Biodiversidade do Amapá. Entre os resultados mais importantes estão a descoberta de 23 espécies novas para a ciência, ocorrências inéditas para o estado e o país e a redescoberta de espécies que estavam sem registro no Amapá há já algumas décadas.
Além de prestar contas para a sociedade amapaense e apresentar os resultados do projeto, os pesquisadores reunidos em um seminário na capital mostraram a importância da iniciativa para a conservação da biodiversidade do estado.
Entre as mais de 1.700 espécies de animais e vegetais registradas, os peixes destacam-se como o grupo com maior número de novas espécies descobertas. Entre as 298 espécies catalogadas, dez jamais haviam sido descritas pelos cientistas, uma não havia sido relatada no Brasil, e trinta constituem novas espécies para o Amapá.
No grupo de crustáceos, os pesquisadores encontraram três possíveis novas espécies, com cinco ocorrências inéditas para o estado. Entre as aves, aponta-se a descoberta de uma nova espécie que pertence ao gênero Myrmotherula e popularmente conhecida como Choquinha, entre as 438 espécies encontradas. A riqueza da biodiversidade das áreas pesquisadas também torna-se evidente nos resultados alcançados no estudo dos répteis e anfíbios (Herpetofauna), com a descoberta de oito possíveis novas espécies, três novos registros para o país e mais de 50 para o estado, observando-se ainda a ocorrência de cinco espécies raras. Os pesquisadores registraram ainda uma possível espécie nova de um pequeno mamífero (roedor), que ainda está sob análise de taxonomistas para confirmar a descoberta.
Outro destaque é a redescoberta de espécies que há mais de três décadas não eram registradas pelos cientistas nas florestas do Amapá. Destaca-se o lagarto Amapasaurus tetradactylus, cujo último registro de ocorrência no Amapá foi feito há 35 anos “O reaparecimento de um animal é digno de comemoração como a descoberta de uma nova espécie”, compara o herpetólogo Jucivaldo Lima, que participou das expedições.
Os pesquisadores deram ênfase aos registros de mamíferos, aves, répteis, anfíbios, crustáceos, peixes e plantas superiores . “Terminamos a série de onze expedições muito satisfeitos com os resultados dos trabalhos, conta Enrico Bernard, Gerente do Programa Amazônia da Conservação Internacional (CI-Brasil) e coordenador do projeto.
As expedições tiveram longa duração, em média 21 dias cada, e os locais visitados eram de difícil acesso. ”Em todas as viagens tomamos muito cuidado e tivemos uma atenção especial na organização e logística para que nada desse errado. O que eu mais temia era que algo de ruim acontecesse aos pesquisadores e felizmente isso não ocorreu”, completou Bernard. Ao todo, o grupo de mais de oito cientistas de diferentes especialidades e a equipe de apoio ficaram - somando todas as viagens -, 222 dias no campo explorando áreas até então pouco conhecidas pela ciência ou vistas somente por meio de imagens aéreas.
Historicamente, as regiões do Amapá foram pouco estudadas e visitadas por pesquisadores, o que deixou lacunas no conhecimento científico. A falta de informação compromete a elaboração dos planos de manejo das unidades de conservação e a conseqüente gestão da área. O Projeto Expedições Científicas realizado no Corredor de Biodiversidade do Amapá foi criado para suprir parte dessa carência. “Quando começamos as expedições em agosto de 2004, tínhamos certeza que elas iriam contribuir significativamente para aumentar o conhecimento sobre a diversidade do Amapá” afirma Antônio Carlos Farias, secretário de Meio Ambiente do estado.
As informações colhidas nas expedições já estão sendo usadas para a elaboração dos planos de manejo das unidades. O plano de manejo é importante porque contém todas as informações sobre uma unidade de conservação, incluindo suas características, zoneamento e regras de uso, o que o torna fundamental para o real funcionamento de qualquer área protegida. Christoph Jaster, do Ibama e chefe do Parque Nacional do Tumucumaque, aponta que as expedições foram fundamentais para a aquisição de informações sobre o Parque.
A pesquisadora Ana Carolina Martins, responsável pelo inventário de morcegos, ainda se refaz do que pode ser considerado o sonho de qualquer biólogo de campo: desvendar lugares nunca antes visitados e encontrar fauna e flora ainda intocadas. “Estas expedições foram surpreendentes. Vimos animais raros e de difícil observação. Um dos momentos mais marcantes foi ver de perto um grupo de mais de 100 queixadas cruzar o rio bem na nossa frente!”, lembra a pesquisadora.
Onças, gatos maracajá, antas, tamanduás bandeira, tatus-canastra, veados, cutias, macacos e pacas são alguns dos animais vistos nas expedições e enumerados pela geógrafa Cláudia Funi, que participou de todas as expedições. “Os animais não eram ariscos, e muitos se mostraram curiosos, aproximando-se de nós, o que serve como indício de que nas áreas onde encontramos esses animais não existe caça predatória”, completa Cláudia, que teve como atribuição ajudar na escolha dos locais a serem inventariados.
O projeto, que durou dois anos, foi realizado pelo Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Amapá (IEPA), IBAMA, Secretaria de Meio Ambiente do Amapá e a organização não-governamental Conservação Internacional (CI-Brasil).
(Envolverde/Assessoria, 28/08/2006)
http://www.envolverde.com.br/materia.php?cod=21874