A Petrobras está negociando com a Copel o aluguel da térmica de Araucária (no Paraná). A estatal tem participação societária de 20% na usina, que está em fase de testes e deve entrar em operação comercial nos próximos dias. Na quinta-feira passada, Araucária gerou 324 megawatts médios (MWmed) e conseguiu manter sua capacidade máxima gerando 449 MWmed no horário de ponta. Ildo Sauer, diretor de gás e energia da Petrobras, explicou que está estudando "uma parceria" com a Copel para operar Araucária. Como a Petrobras é dona do gás que abastece a usina, o aluguel reduz o custo de geração e sua operação passa a ser viável.
Sem dar detalhes comerciais do contrato, Sauer listou, entre os objetivos da parceria a recuperação da usina para torná-la operacional, e para a venda dessa energia pela estatal. "Queremos rentabilizar o ativo", disse o diretor. A Copel não fala sobre o assunto.
Araucária, que foi inaugurada em setembro de 2002 e até agora nunca vendeu energia, foi acionada por determinação do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), que em maio pediu que a usina entrasse no sistema devido a escassez de chuvas no Sul. O problema é que não há gás na região para atender a usina.
O diretor-geral do ONS, Hermes Chipp, explicou que a preocupação era com a falta de chuvas, que baixou os nível dos reservatórios para 29% (considerado crítico), mesmo com a exportação de 5 mil MW do Sudeste e com a ordem para que as térmicas a carvão operassem a plena carga. Na última semana a situação melhorou, e o nível dos reservatórios estava em 38,7%. "Mesmo assim, Araucária ainda será necessária, principalmente para o verão", frisou Chipp.
Hoje só existem disponíveis, na região Sul, 2,1 milhão de metros cúbicos de gás. Esse volume é insuficiente para o consumo das duas termoelétricas da região. Além de Araucária, existe a usina de Canoas. Sozinha, Araucária precisa de 2,1 milhões de metros cúbicos para gerar a plena carga e se ela fosse atendida integralmente não sobraria gás para Canoas.
Essa usina pertence à Petrobras e consome 1 milhão de metros cúbicos/dia. Mas sob o ponto de vista do ONS, a usina paranaense é prioritária por ser mais eficiente. Ela opera em ciclo combinado (gás natural e vapor), e por isso gera mais energia usando a mesma quantidade de gás de uma usina de ciclo "aberto", como Canoas.
Hoje, cada megawatt de energia gerado no Sul recebe R$ 126, o chamado Custo Marginal de Operação (CMO). Em setembro o valor subirá para R$ 126,36/MWh no horário de carga pesada, e cair para R$ 121,98 MWh no horário de menor consumo. Mas a Copel pode receber mais pela energia de Araucária se a Aneel aceitar uma nota técnica do ONS onde o órgão informa que o despacho da usina de Araucária tem razões elétricas.
Chipp explicou que, por estar próxima a Curitiba, Araucária é importante para a segurança do sistema. As usinas que operam nessas condições têm o direito de complementar seu custo (caso o preço da energia seja maior que o CMO) sacando o valor da conta "Encargos de Serviços do Sistema".
Essa pode ser a solução que a Copel esperava para a usina, que até maio tinha a El Paso como acionista majoritária. A multinacional saiu do negócio depois de brigas judiciais iniciadas em 2003.
(Por Claudia Schüffner e Marli Lima,
Valor Econômico, 28/08/2006)