Estudo pioneiro mede resultados de conservação e aponta espécies de aves salvas da extinção
2006-08-28
Trinta e uma espécies de aves salvas da extinção nos últimos cinco
séculos. Este é o saldo de ações conservacionistas realizadas em todo
o globo. A conclusão foi tirada no primeiro estudo científico capaz
de medir quantitativamente o impacto desses esforços. Os resultados da
pesquisa foram apresentados pela zoóloga portuguesa Ana Rodrigues, da
Universidade de Cambridge (Inglaterra), em artigo publicado na revista
Science de sexta-feira (25/07).
Para chegar a essa conclusão, a autora se ampara em estudos que
calcularam quantas espécies de aves se extinguiram desde 1500,
compilados pela organização não-governamental (ONG) Birdlife
International, e na Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas. Ao comparar
a diversidade atual das aves e a situação prevista caso não houvesse
ações de conservação no mundo, os pesquisadores chegaram à medida do
sucesso dos anos investidos em educação ambiental, planos de manejo,
preservação de ecossistemas e outras medidas conservacionistas.
A estimativa é que, desde 1500, tenhamos perdido 150 espécies de aves
graças à degradação acelerada da biodiversidade do planeta. O número
passou de 9934 em 1500 para 9784 nos dias de hoje. Para concluir quais
espécies corriam o risco de desaparecer, foram usados dados como
tamanho de população, ameaças enfrentadas por elas e, claro, ações de
conservação a que eram expostas.
“A principal conclusão é que há motivos para algum otimismo”, afirma
Ana Rodrigues em entrevista à CH On-line. “As ações de conservação
estão fazendo uma diferença significativa na diversidade global de
aves. Sem essas ações, nosso mundo já seria mais pobre”. No entanto,
ela ressalta no artigo que as 31 espécies que escaparam da extinção
devido a ações de conservação ainda correm perigo e dependem do esforço
continuado dessas iniciativas.
O que impossibilita a maior freqüência desse tipo de pesquisa, segundo
a autora, é a variedade de ações de conservação empregadas e a
dificuldade de se medir a biodiversidade. “Considera-se que há perda
de biodiversidade apenas quando uma espécie se extingue”, afirma ela.
“Mas ela ocorre também quando uma população diminui, com a perda de
diversidade genética, por exemplo”.
Novos parâmetros
Para o biólogo Felipe Costa, coordenador da Rede Nacional Pró-Unidades
de Conservação, a importância do estudo está na diferença de parâmetro
adotado para medir a conservação. “Pela primeira vez não se está
falando em quantidade de investimento financeiro, ou de quantos
hectares foram protegidos, mas de um parâmetro biológico substantivo”,
diz. “Mas é preciso levar em conta particularidades do grupo. As aves
são bem estudadas e há um menor número de espécies. Anfíbios, por
exemplo, têm bem menos apelo popular”, lembra. Para Costa, o grande
desafio não é conservar espécies, sim ecossistemas: “Há uma grande
diferença entre salvar animais em cativeiro e salvá-los graças à
manutenção de seus hábitats”.
Na opinião de Ricardo Machado, diretor do programa Cerrado e Pantanal
da ONG Conservation International do Brasil, um estudo desse nível
poderia ser feito em nosso país, mas está longe de acontecer por falta
de um programa de monitoramento de populações adequado. “O projeto Mico
Leão Dourado e o Tamar fazem algo semelhante quando contam a
quantidade de indivíduos na natureza”, lembra Machado. “Tanto as ONGs
quanto o governo poderiam usar esse tipo de pesquisa para apresentar
resultados aos doadores e contribuintes. Além disso, conseguiriam
classificar as ações de conservação mais eficazes”, avalia.
(Por
Juliana Tinoco, Ciência Hoje online, 24/08/2006)
http://cienciahoje.uol.com.br/55839