Reflexos da monocultura de eucaliptos e pinus preocupam especialistas
2006-08-28
Ao participar do seminário "Alerta contra os Desertos Verdes e Pólos
de Celulose", na noite de quinta-feira, o professor Ludwig Buckup, da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) disse que até agora
só têm sido apresentados os resultados econômicos da monocultura de
eucaliptos e pinus e que se pode discutir depois quem tem esse lucro.
"Agora, nossa preocupação está voltada bastante, e com intensidade,
para a questão dos custos ambientais, sociais e culturais", observou.
Conforme ele, sabe-se que existe uma grande demanda de celulose no
mundo, que há valores avantajados envolvidos nesta atividade. E pode-se
até discutir se é necessário todo esse papel e papelão que hoje se
produz. No momento, a idéia é debater quatro questões: quanto, quando,
onde e como plantar. "Sobre esses processos é que não se tem
informações consistentes", explica.
Ele relata que as empresas alegam
que farão tudo o que é adequado do ponto de vista ambiental e que o
governo se omite completamente do controle do processo. Salienta que o
governo anuncia números de empregos possíveis, mas jamais transfere
informações detalhadas. "Isso preocupa muito, pois sabemos que em
outras regiões do Brasil - Espírito Santo, Bahia, Minas Gerais e
Paraná, os maiores bolsões de pobreza estão exatamente junto às
grandes monoculturas florestais. E temos conhecimento de que hoje a
atividade silvicultural é extremamente mecanizada, dispensando
realmente grande parte da mão-de-obra que originalmente era utilizada
pela silvicultura. Isso também não está claro", comenta o professor.
Acrescenta ser o processo que mais uma vez representa uma concentração
de renda e de propriedade; que expulsa o homem de seu ambiente natural,
o qual, sem opções de sobreviver, acaba sendo levado a viver na
periferia urbana, engrossando os cinturões de pobreza. A espécie mais
temida, de acordo com ele, é o eucalipto. Isso porque tem uma elevada
taxa evapotranspiratória, eliminando uma quantidade enorme de água.
"Pelos cálculos existentes, o eucalipto consome três vezes mais água
do que a quantidade que é reposta pela precipitação pluvial. E aqui no
Rio Grande do Sul tivemos dois anos de seca acentuada. Então, isso é
uma ameaça adicional. Nos outros continentes, já se viu rios e pântanos
secando. Não queremos que se repita aqui", concluiu. Ludwig Buckup foi
um dos palestrantes da primeira noite do seminário, que teve
continuidade a partir das 19h de ontem. O evento teve como objetivo
colocar em debate os impactos que as monoculturas dos eucaliptos e
pinus deverão ocasionar na região e seus reflexos. O seminário foi
organizado por várias entidades sindicais, sociais e estudantis do Rio
Grande, como a Associação do Pessoal Técnico-administrativo da Furg
(Aptafurg), Sindicatos dos Bancários, Sindicato dos Vigilantes, Centro
de Estudos Ambientais (CEA), Centros Acadêmicos de Biologia e
Oceanografia da Furg, entre outros. Esse grupo faz parte de uma
articulação regional entre diversas entidades de cidades como Pelotas
e Porto Alegre.
(Por Carmem Ziebell, Jornal Agora, 27/08/2006
http://www.jornalagora.com.br/