Quem tem medo da energia nuclear? - Comentário
2006-08-25
Aos poucos começam a ser ultimadas providências para a rentrée da energia nuclear nos Estados Unidos, depois de quase três décadas em que praticamente nada foi feito, em conseqüência do acidente no reator de Three Mile Island, mais conhecido por aqui pelas iniciais TMI.
Houve mesmo quem apostasse que os Estados Unidos nunca mais construiriam um reator nuclear, o que levaria ao abandono desta forma de energia ao redor do ano de 2050. A equação era simples: as usinas tinham sido autorizadas a funcionar por 40 anos, mas depois o governo chegou à conclusão de que eram suficientemente seguras para terem tal prazo estendido por mais 20.
Seriam, pois, 60 anos úteis para os 103 reatores nucleares nos Estados Unidos, que contribuem com cerca de 20% da produção de eletricidade no país. Como as últimas usinas começaram a operar nos anos 90, a década a iniciar-se em 2050 marcaria o fim da era nuclear, caso novos reatores não fossem construídos.
É preciso esclarecer que muito tempo decorre entre a autorização para a construção de uma usina nuclear e seu efetivo funcionamento. O acidente com Three Mile Island ocorreu em março de 1979, mas usinas que já tinham sido autorizadas (a derradeira delas em 1978) continuaram a ser construídas e a última a começar a operar foi a de Watts Bar, no estado de Tennessee, em 1996. Em teoria, poderá operar até 2056.
Aí começa o problema para o governo americano. Se o país de fato não quiser desistir da energia atômica, tem que começar agora o lento processo de estudos de viabilidade econômica, técnica, de impacto no meio ambiente, de segurança, de obtenção de autorização para construir, efetivamente construir e por fim obter a autorização para funcionar.
Ao que tudo indica, a Constelation Energy, de Baltimore, que já possui cinco reatores nucleares em funcionamento, vai dar o primeiro passo para a retomada do processo. Seus executivos acham que o momento é agora e já iniciaram até uma campanha publicitária, lembrando que, apesar de tudo o que se diz sobre ela, a energia nuclear não causou até hoje uma única morte no país. A opinião pública reagiu com tranqüilidade.
Com o preço do petróleo e do gás em elevação, com a crescente ameaça do aquecimento global como resultado da queima de combustíveis fósseis, com a constatação de que a energia derivada do sol e dos ventos não será suficiente para surprir as necessidades, já há até dirigentes do Greenpeace mudando de lado e dizendo que o diabo não é tão feio quanto o pintam.
Quem ainda tem medo da velha ameaça?
(Por José Inácio Werneck, Intelli Business, 23/08/2006)
http://www.intellibusiness.com.br/diretodaredacao/noticias/index.php?not=2841