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2006-08-25
No início deste mês, doze técnicos de diferentes áreas da Empresa Brasileira de Agropecuária (Embrapa) estiveram na região de Canarana para lançar um projeto inovador que, durante os próximos três anos, desenvolverá pesquisas específicas para as características locais e aportará aos produtores as técnicas e conhecimentos acumulados em várias unidades da empresa. O projeto pretende apoiar as iniciativas da campanha Y Ikatu Xingu - pela proteção e recuperação de nascentes e matas ciliares nas cabeceiras do rio Xingu.

A Embrapa se propõe a atuar por meio de parcerias com as prefeituras municipais, com os sindicatos patronais e de trabalhadores rurais e com todas as organizações que somam as suas forças nesta campanha. A Universidade Estadual de Mato Grosso (Unemat), representada por sua unidade sediada no município de Nova Xavantina e na condição de principal instituição pública de pesquisa na região, participará diretamente das atividades do projeto para aqui manter e poder disponibilizar a todos os interessados os conhecimentos e resultados obtidos. O Instituto de Pesquisas da Amazônia (Ipam), que já desenvolve uma importante agenda de pesquisas na fazenda Tanguro e em outras localidades do Mato Grosso, o ISA e outras organizações comprometidas com o desenvolvimento sustentável da região também se associam à iniciativa.

Nessa conjuntura de restrições orçamentárias, o lançamento de um novo projeto só foi possível com o apoio do Fundo Setorial do Agronegócio, do Ministério da Ciência e da Tecnologia, que aportou R$ 500 mil a fundo perdido, que se somarão às contrapartidas da própria Embrapa para se chegar a quase um milhão de reais. Ainda é pouco diante das necessidades da região, mas já é um bom começo, o suficiente para viabilizar a presença da empresa entre nós. É também uma forma de "devolver" aos produtores locais uma parte dos impostos que são aqui recolhidos e que ajudam, inclusive, a compor os recursos daquele fundo.

A campanha Y Ikatu Xingu ganha, assim, mais uma grande aliada. A Embrapa poderá desenvolver e validar cientificamente técnicas de baixo custo, apropriadas aos ecossistemas da região, para que os pequenos e grandes produtores interessados possam recuperar nascentes e matas ciliares sem desperdício de tempo e de dinheiro. Poderá, também, orientar os esforços desses produtores para aumentar a sua produtividade ou diversificar a sua produção - por meio da integração entre a agricultura e a pecuária, por exemplo - neste momento de dificuldades que o setor atravessa.

Esta é uma campanha aberta, desde o seu início, à participação de todos os segmentos representativos da sociedade regional. Ela pertence a todos que se identificam com os seus objetivos, independentemente de classe social, de nível de instrução, de orientação ideológica, partidária ou religiosa, e de qualquer disputa "bairrista" entre municípios. No entanto, exatamente por este seu caráter de aliança ampla, ela não está imune aos conflitos que eventualmente pipocam pela região, como foram os casos, somente neste ano, dos protestos de produtores contra a política agrícola, dos índios contra a construção da hidrelétrica de Paranatinga, e dos moradores de Lucas do Rio Verde contra a contaminação por agrotóxicos.

Nessas situações, em que partes integrantes da campanha se colocam em pólos opostos, ou expressam divergências entre si, há pessoas que cobram dela (ou do ISA, que nela exerce o papel de mediar e de animar a participação de todos), um posicionamento a favor de alguma ou de ambas as partes envolvidas. Há até políticos de outras regiões que vêm para cá à caça de votos fáceis e, para tanto, procuram envolver a campanha nesses conflitos e espalhar o divisionismo entre nós. Mesmo sem duvidar da legitimidade de cada parte envolvida em cada conflito, a campanha não pode ceder às visões parciais e vai prosseguir com a paciência e a tranqüilidade de sempre, no mesmo rumo generoso e inclusivo que a caracteriza desde o seu início.

A campanha e o projeto da Embrapa têm um objetivo comum: apoiar o desenvolvimento sustentável na região das cabeceiras do Xingu. Isto não é um mero jogo de palavras, ou discurso vazio. Entre nós, o que se procura é o desenvolvimento sustentável concreto, no chão, e não no abstrato. O projeto da Embrapa é uma prova disto, e se junta a dezenas de outras iniciativas em curso em vários municípios, que já asseguram investimentos de mais de R$ 5 milhões para a região nos próximos anos.

Só por meio da união em torno de objetivos comuns é que poderemos encontrar as melhores soluções para superar uma crise. A campanha Y Ikatu Xingu é um raro espaço deste tipo, que precisa ser preservado. Protegendo as águas, bem comum necessário a todos e cada vez mais valioso, nós poderemos fazer desta região uma referência positiva e reconhecida de boa convivência entre a produção agropecuária e a conservação dos recursos naturais e da diversidade humana nela existente.
(Só Notícias – MT, 24/08/2006)
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