O aumento na produção de biocombustíveis originários de plantações pode afetar a meta da ONU de acabar com a fome nos países em desenvolvimento, onde 850 milhões de pessoas não têm comida suficiente, disse uma autoridade sênior da Organização das Nações Unidas.
"Há um enorme potencial para os biocombustíveis, mas temos que levar em conta... a concorrência com a produção de alimentos", afirmou na quarta-feira (23/08) Alexander Mueller, diretor-geral-assistente da Organização para Alimentação e Agricultura (FAO) da ONU.
A produção de combustíveis a partir da cana-de-açúcar, do milho, da soja e de outras culturas cresce, impulsionada pela alta nos preços do petróleo, que superam 70 dólares o barril, e pela campanha por combustíveis menos prejudicias ao meio ambiente e de fontes renováveis."É um problema completamente novo, só sabemos que tem impacto sobre a questão alimentar no mundo", disse ele em entrevista à imprensa, depois de uma reunião com 1.500 especialistas em recursos hídricos, em Estocolmo.
Mesmo assim, declarou, o aumento na produção de biocombustíveis não afetou o suprimento de alimentos no ano passado. "Temos de descobrir como vai ficar a situação daqui a cinco ou dez anos... É preciso fazer muitas pesquisas." Os biocombustíveis compõem apenas uma pequena fração da energia mundial, mas têm o potencial de chegar a 6 por cento do total até 2050, segundo estimativas da FAO.
"É uma questão emergente, que não tem números ou diretrizes claros", disse Mueller. O crescimento da produção de biocombustíveis pode afetar também os recursos hídricos --cerca de um terço da população mundial vive em áreas onde a área é escassa--, disse ele.
Mueller também comentou que o mundo precisará gerenciar melhor os recursos hídricos para "alimentar todas as pessoas e produzir energia para o mundo". Para o especialista, os biocombustíveis são um dos três grandes desafios da agricultura. Os outros dois são as alterações climáticas e a multiplicação da população mundial.
A produção de comida terá de crescer 40 por cento nos próximos 25 anos para se manter em evolução com o aumento na população mundial, que deve chegar a 9 bilhões de pessoas. Isso, por sua vez, fará crescer a demanda pela irrigação.
E as alterações climáticas podem causar secas, enchentes, ondas de calor e erosão do solo. A maioria dos cientistas afirma que as emissões de gases-estufa, principalmente pela queima de combustíveis fósseis em fábricas, usinas e carros, têm elevado as temperaturas do planeta.
(Por Alister Doyle,
Reuters, 23/08/2006)