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2006-08-23
No próximo mês o Banco Mundial divulgará um plano que, se for implementado, significará o desperdício de recursos em “tecnologia de carvão limpo” sem incentivar investimentos em fontes renováveis de energia e sem atender a demanda dos mais pobres. Esta é a conclusão a que chegou a organização não-governamental Rede Internacional de Rios (IRN) ao analisar o projeto do Banco, intitulado “Informe de avanços no contexto de investimentos para energia limpa e desenvolvimento”. Funcionários do Banco Mundial examinarão o documento no final do mês, antes de inseri-lo na agenda da próxima reunião anual conjunta dessa instituição e do Fundo Monetário Internacional (FMI), que acontecerá em setembro, em Cingapura.

Um programa semelhante, concentrado nos efeitos a longo prazo e na pesquisa científica, deverá ser completado pelo Grupo dos Oito países mais poderosos do mundo em sua próxima cúpula, no Japão, dentro de dois anos. Mas o G-8 pediu no ano passado em sua cúpula na cidade escocesa de Gleneagles, que, enquanto isso, o Banco Mundial e outras instituições financeiras internacionais preparem um plano para frear o aquecimento global e assegurar o fornecimento de energia. O informe do Banco surgiu em meio a crescentes preocupações pelo aumento do preço da energia e pelo vínculo entre o alto consumo de combustíveis fósseis e o aquecimento do planeta.

Quando se conheceu o primeiro rascunho do documento, na reunião conjunta Banco Mundial-FMI na primavera boreal, observadores questionaram a falta de referências à situação dos pobres do planeta. Entretanto, ambientalistas que tiveram acesso a uma versão do informe indicaram que o texto agora dedica um espaço considerável às necessidades dos 1,6 bilhão de pessoas que vivem com menos de um dólar por dia, em particular na África e Ásia meridional, que hoje carecem de acesso a fontes modernas de energia. Os defensores desta estratégia dentro do Banco afirmam que a instituição tem muita experiência em assuntos ambientais, especialmente com a mudança climática.

“Este documento atende à necessidade de produzir energia de maneira a reduzir a contaminação regional e local do ar e as emissões de gases causadores do efeito estufa”, disse à IPS o chefe de cientistas do Banco, Robert Watson. A IRN admitiu as melhorias, mas advertiu que o plano passa por cima “do duplo dividendo da energia renovável”, isto é, combater a mudança climática e reduzir a pobreza, ao mesmo tempo. A rede de organizações ambientalistas argumentou que as tecnologias limpas, como a eólica, solar e geotérmica, a moderna biomassa e as pequenas turbinas hidrelétricas estão disponíveis em nível local, geram empregos, têm custo ambiental muito baixo e melhor proporção custo-benefício.

A IRN promove a ampliação do elenco de fontes de energia e a redução dos megaprojetos ambientais perigosos, e acusou o Banco Mundial de priorizar “grandes hidrelétricas e usinas térmelétricas”. Estas recomendações “refletem as mal orientadas prioridades dos empréstimos do Banco ao setor da energia, dos quais apenas 10% em 2005 foram destinados à eficiência e às fontes renováveis”, disse a rede. O Banco Mundial respondeu que o plano de ação tem uma perspectiva global e afirmou que destinou este ano US$ 871 milhões a projetos de energia renovável e à eficiência.

Em seu último comunicado a respeito, divulgado este mês, o Banco Mundial assegura que seus investimentos nestas áreas representavam 20% do total dos compromissos, que em 2006 somam cerca de US$ 4,4 bilhões dirigidos a 62 projetos em 35 países. “A energia renovável e a eficiência podem contribuir significativamente na concretização dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio”, disse o diretor do Departamento de Energia e água do Banco Mundial, Jamal Saghir. “De fato, oferecem um duplo dividendo: atender a demanda de energia essencial para o crescimento sustentado dos países e reduzir a pobreza, preservando o fortalecimento e, ao mesmo tempo, o meio ambiente”, afirmou Saghir.

Entretanto, a IRN argumentou que o Banco ainda incentiva em seu plano “tecnologias avançadas de combustíveis fósseis”, como as usinas de gás e carvão, e tecnologias de combustível não-fósseis questionadas por ambientalistas, como a hidrelétrica, eólica e nuclear. Isto poderia ser contraproducente, pois os grandes projetos hidrelétricos, especialmente em regiões tropicais, emitem grande quantidade de gases que causam o efeito estufa, que podem superar a emissão de usinas térmicas de dimensões semelhantes, acrescentou.

A rede exortou o Banco a não desperdiçar dinheiro subsidiando projetos de combustíveis fósseis e oferecer empréstimos a juros baixos e outros tipos de financiamento para reduzir o custo das tecnologias renováveis. O plano de ação do Banco Mundial não considera prioritária a redução das emissões de gases causadores do efeito estufa por parte do Norte industrial. Os países do G-8 (Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Grã-Bretanha, Itália, Japão e Rússia) representam 13% da população mundial, mas 45% da emissão desses gases.
(IPS, 22/08/2006)
http://www.envolverde.com.br/materia.php?cod=21524&edt=1

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