Conferência sobre a água na Suécia: às portas de uma crise mundial
2006-08-23
Nesta segunda-feira (21/08) foi aberta uma conferência sobre a água, na capital da Suécia, com a sombria previsão de que tanto as nações ricas quanto as pobres caminham para uma crise, a menos que sejam tomadas medidas para conservar esse recurso de forma eficiente. “O que precisamos são medidas concretas que identifiquem claramente o que se deve fazer, por quem e quanto”, disse o diretor-executivo do Instituto Internacional da Água de Estocolmo, Anders Berntell, perante cerca de dois mil técnicos, cientistas, autoridades governamentais, empresários e representantes da sociedade civil. Da conferência da Semana Mundial da água na capital sueca participam mais de cem mil organizações internacionais e não-governamentais.
Berntell explicou que o setor da água geralmente é afetado por decisões tomadas em muitas outras áreas. “A Água é parte da agricultura, da energia, do transporte, das florestas, do comércio, das finanças e segurança social e política”, afirmou. O especialista citou o “Informe sobre o Desenvolvimento Mundial da Água”, elaborado por 24 agências da Organização das Nações Unidas, no qual se alerta que os “recursos financeiros destinados á água estão acabando, tanto em termos de ajuda oficial quando para o desenvolvimento quanto em empréstimos”. O estudo afirma que somente 12% desses fundos “chegam aos que mais precisam deles”.
Em segundo lugar, o objetivo de desenvolver a administração integrada dos recursos hídricos e os planos para o uso eficiente da água estabelecidos no ano passado foi alcançado apenas por 12% dos países. Em terceiro lugar, segundo o estudo da ONU, os investimentos do setor privado nos serviços de água estão diminuindo porque “muitas companhias multinacionais começaram a se retirar ou a reduzir suas operações no Sul em desenvolvimento por causa dos altos riscos políticos e financeiros”. Na semana passada, o Fundo Mundial para a Natureza (WWF) disse que a maioria dos países ricos, bem como as nações pobres, sofrerão uma crise de água, a menos que façam mudanças drásticas nas políticas de gestão do recurso.
“Apoiar a grande indústria e as crescentes populações usando água em grandes quantidades faz com que esgotem os recursos de algumas cidades do primeiro mundo, ameaçando muitas outras”, alertou o WWF. A significativa redução dos recursos de água nas nações ricas é atribuída, principalmente, à redução das chuvas, ao aumento da evaporação por causa do aquecimento do planeta e à perda dos mangues. Além disso, os países europeus com litoral no Atlântico sofreram várias secas, enquanto os recursos hídricos na zona do Mar Mediterrâneo estão se esgotando devido ao auge do turismo e na agricultura de irrigação.
A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura informou que o setor agrícola é o segundo maior consumidor de água. A irrigação utiliza quase 70% de todo o líquido apropriado para uso humano. “Uma crise de água criará outra, de alimentos. Por isso, a utilização da água na agricultura deverá ser mais eficiente para poder responder às necessidades de todo o planeta”, segundo a FAO, que tem sede em Roma. Uma das conclusões do Fórum Mundial da Água, realizado em março, no México, foi que o problema da escassez também é um “assunto político”. Toda a gestão da água deve permanecer em mãos das autoridades eleitas e daqueles encarregados das decisões públicas. “Quando os políticos esquecem suas responsabilidades sobre a água, esta se converte em um risco”, alertou o Fórum naquela oportunidade.
Mais de um bilhão de pessoas ainda carecem de acesso a recursos hídricos, e quase dois terços deles vivem na Ásia, segundo a ONU. As mulheres pobres são as mais afetadas, de acordo com um informe divulgado nesta segunda-feira pelo Instituto Internacional para a Administração da Água, com sede no Sri Lanka. Estas são excluídas da tomada de decisões, enquanto, ao mesmo tempo, são as principais responsáveis em conseguir água potável e têm um papel muito importante na agricultura de pequena escala, diz o trabalho.
(Envolverde, 22/08/2006)
http://www.envolverde.com.br/materia.php?cod=21527&edt=1