Ajuda que vem de cima. O Sistema de Observação Global da Terra (Geoss, na sigla em inglês) tem como objetivo a previsão de desastres naturais, como tsunamis, furacões e grandes enchentes, por meio do monitoramento feito por satélites. Fazem parte do sistema 65 países, entre eles o Brasil, mais a Comunidade Européia.
O objetivo do monitoramento é, ao antever mudanças climáticas e ambientais, permitir que os governos possam tomar decisões rápidas para evitar ou diminuir os impactos de tragédias naturais, conservar espécies animais e vegetais e apoiar a agricultura.
“Sabemos que 25% das mortes no planeta são causadas por fenômenos ambientais”, disse o representante do Ministério da Saúde dos Estados Unidos, Conrad C. Lautenbacher, que apresentou o Geoss pela primeira vez no Brasil nesta terça-feira (22/8), no 11º Congresso Internacional de Saúde Pública, no Rio de Janeiro.
“Um dos únicos meios de melhorar a saúde humana depende das condições de nosso planeta. Podemos estar à frente dos problemas. Uma espécie humana preparada enfrentará melhor epidemias e questões como a fome. Temos que mudar de uma atitude passiva para uma atitude de prevenção, pró-ativa, e desenvolver uma visão que entenda todo o ecossistema para podermos tomar providências políticas”, disse.
Lautenbacher citou as frentes de ação do projeto. “Em relação à qualidade do ar, temos que ver como a poluição afeta nossa saúde. Temos que acusar qual a fábrica, de qual país, está produzindo gases poluentes”, disse ele.
Outro fator, segundo o norte-americano, é a onda de calor, que este ano matou centenas de pessoas na Europa e nos Estados Unidos. “Com o Geoss podemos mapear os raios vermelhos. Também devemos ficar atentos a fenômenos como tormentas, que provocam cheias, as quais, por sua vez, trazem à superfície doenças como a leptospirose”, afirmou.
Um dos tipos de informação ambiental obtida pelo sistema de monitoramento espacial – e que poderá ajudar profissionais de saúde pública – é a análise da relação do índice pluviométrico com doenças como a malária.
Para Lautenbacher, os grandes surtos de malária, dengue e cólera podem ser atribuídos a fatores ambientais. “Em 2003, a malária matou mais de 3 milhões de pessoas. Os surtos não só se expandem como se tornam mais graves. No Paquistão, o risco da malária aumenta em cinco vezes nos anos seguintes ao fenômeno El Niño.
A degradação ambiental acaba por afetar a saúde humana de várias maneiras. A morte de peixes e o crescimento exacerbado de algas podem prejudicar a produção de remédios usados em doenças como a Aids, por exemplo. Talvez isso nos seja roubado se não cuidarmos de nossos oceanos”, disse.
Lautenbacher explicou que o Geoss é um programa voluntário e que visa a ajudar países menos desenvolvidos, fornecendo infra-estrutura técnica. “Nosso objetivo é que as informações sejam compartilhadas, pela internet, por exemplo. Quando os dados estiverem sistematizados, os governos estarão livres para decidir como lidar com eles”, disse em entrevista à Agência FAPESP.
(Por Washington Castilhos,
Agência Fapesp, 23/08/2006)