Não são apenas os conflitos armados que tendem a encarecer o preço do petróleo. As deficiências de transportes – os sistemas de dutos que propiciam vazamentos – são um dos vilões de uma alta de preços prevista em 20% para as próximas décadas. “Vamos olhar para trás nesses eventos e vê-los como o dia de Pearl Harbor na energia”, compara Matthew Simmons, secretário-executivo de investimentos energéticos do banco Simmons & Co. International em Houston, no Texas. Segundo ele, as chances de que os vazamentos e corrosões encontrados na Baía de Prudhoe, na área da British Petroleum (BP), sejam uma ocorrênia isolada, são zero. Simmons está inclusive escrevendo um livro sobre os problemas de infra-estrutura da indústria do petróleo.
Um crescente número de analistas da indústria do petróleo e oficiais do governo apontam o atual sistema de produção e transporte de petróleo cru como incapaz de entregar a energia necessária nos próximos dez anos. Os reparos e substituições de dutos, válvulas e infra-estrutura de refinarias deverão ajudar a elevar o preço do barril de petróleo a US$ 93 até 2015, dos auais US$ 70 atuais, afirma o analista da Barclays Capital, Kevin Norrish, em Londres, a mais acurada empresa de previsão de preços do petróleo, de acordo com um levantamento feito no ano passado pela Bloomberg News.
A corrosão interna é a maior causa dos vazamentos de petróleo neste ano nos Estados Unidos, tendo causado 16% de todos os acidentes de agosto, segundo o Departamento de Segurança de Transporte em Dutos. Desde 1990, a quantidade de petróleo perdida dentro dos dutos cresceu 78%, com 68,624 barris tendo vazado neste ano, segundo a agência.
A BP admitiu que alguns dutos na Baía de Prudhoe não têm sido inspecionados internamente por mais de uma década, declaração considerada incrível por analistas como Charles Maxwell da Weeden & Co. “Eles estão em uma grande encrenca”, disse. A BP poderá enfrentar acusações criminais nos Estados Unidos devido a um vazamento registrado em março no Alasca, o qual desencadeou uma série de inspeções que levaram a detectar a corrosão em unidades da Baía de Prudhoe.
Os reparos nas unidades de produção de petróleo construídas nos anos 70 são parte dos US$ 6 trilhões em somas necessárias a serem gastas até 2030 para atingir as necessidades globais de petróleo e gás, segundo a Agência Internacional de Energia.
Os preços recordes do petróleo estão encorajando produtores da Europa e dos Estados Unidos a manterem velhas instalações funcionando, ao invés de desativá-las. O duto da BP que apresentou vazamento, construído para durar 25 anos, entra agora em seu 29º ano. A média de idade dos dutos nos Estados Unidos é de cerca de 50 anos, segundo a Associação Nacional dos Engenheiros de Corrosão (NACE), uma instituição de caráter internacional.
“O que temos é uma geração inteira de infra-estrutura de petróleo que, mais ou menos, está no limite ao mesmo tempo", disse Deborah White, analista da Sociedade Geral em Paris, que auxiliou a planejar o desenvolvimento do campo da Baía de Prudhoe nos anos 70. “Está tudo agora com uma certa idade, frágil, e não podemos exigir mais.”
Vazamentos na Noruega
No Mar do Norte, na Noruega, 8% dos poços apresentam problemas que levam à quebra da produção, de acordo com um estudo da Autoridade Nacional de Segurança do Petróleo. Uma quantidade similar de petróleo e gás de origem offshore provavelmente esteja sendo perdida ao redor do mundo devido a poços com falhas, disse Jan Andreassen, autor do estudo na Noruega. O monopólio de dutos da Rússia, OAO Transneft, estima que seu programa ajude a melhorar os sistemas locais, que agora estão próximos de completar três décadas.
Consumidores de petróleo dependem mais do que nunca de regiões como o Alasca e o Mar do Norte, as quais foram desenvolvidas nos anos 70, após o embargo árabe liderado pelos Estados Unidos e pela Europa na busca de suprimentos alternativos. Os preços do petróleo mais do que duplicaram nos últimos três anos, ao mesmo tempo em que a demanda se acelerou.
Os preços do petróleo no mercado futuro de Nova Iorque aumentaram 3% no dia em que a BP revelou a extensão da corrosão de seus dutos da Baía de Prudhoe. Eles caíram 4,3% na semana passada, para US$ 70,14 o barril.
Fechamentos no Mar do Norte
A estatal de petróleo da Noruega (Statoil ASA), maior provedora de gás e petróelo do país, disse que sua produção neste ano pode ficar 25 mil barris abaixo do normal devido aos custos de mautenção e aos baixos rendimentos dos velhos campos do Mar do Norte. Um estudo publicado em junho constatou que 18% dos 406 poços testados na seção norueguesa do Mar do Norte apresentaram falhas e 8% tiveram problemas que demandariam a sua interdição. “É um assunto do qual as pessoas não querem falar”, disse um analista, por telefone, no último dia 16. “Não é um problema particular da Noruega, é um problema da indústria”, acrescentou.
O Reino Unido e a Noruega, juntos, extraem 4 milhões de barris por dia, a maior parte do Mar do Norte, mais do que todos os membros da OPEP, com exceção da Arábia Saudita. A BP aumentou seu treinamento e monitoramento nos poços do Mar do Norte, segundo o porta-voz Jan Erik Geirmo. Andy Corrigan, porta-voz da Royal Dutch Shell Plc em Haia, na Holanda, disse que a manutenção tem reporesentado gastos significativos nos últimos anos.
Dutos frágeis
“A corrosão é um negócio complicado”, disse Lois Epstein, engenheiro chefe e especialista em petróleo da Cook Inlet Keeper, um grupo de especialistas em meio ambiente industrial em Anchorage, Alasca. Programas para prevenir e detectar a corrosão podem permitir a checagem, assinalou. “Podem ser bem feitos, e não estão sendo bem-feitos”, disse, a respeito da BP.
A companhia julgou que a vigilância interna não era necessária porque os dutos no Alasca, em North Slope, mesmo congelados, estavam sobre o solo, permitindo uma inspeção direta. “Pensamos ser um programa adequado” disse o presidente da BP America Robert Malone, em uma coletiva de imprensa em Anchorage, no último dia 7 de agosto. “Mas, claramente, não é”, emendou. A BP informou ter gasto US $72 milhões no combate à corrosão em dutos de North Slope neste ano, mais do que os US$ 60 milhões de 2005.
(Por Tom Cahill e Sonja Franklin, Bloomberg , 21/08/2006)