Aquecimento global e derretimento das geleiras têm enriquecido os habitantes do Pólo Norte
2006-08-22
Localizada no extremo norte da América, entre o oceano Atlântico e o mar glacial Ártico, a Groenlândia é a maior ilha do mundo e abriga cerca de 60 milhões de habitantes. Nela, 80% do território é coberto por geleiras e os termômetros marcam em média 22 graus negativos. Essa calota polar cujo volume é de 2,85 milhões de quilômetros cúbicos está derretendo muito mais rápido do que se pensava.
Ambientalistas de todo o mundo se preocupam porque esse fenômeno é conseqüência do superaquecimento global. Agora, a surpresa: criadores e pescadores da região começam a comemorar porque com isso eles estão ganhando dinheiro. O criador de renas Stefan Magnusson, por exemplo, é um deles. Em sua propriedade, a geleira retrocedeu 100 metros deixando o solo exposto à luz. “É a primeira vez que isso acontece em séculos”, diz ele. O motivo da alegria é que, sem o gelo, a paisagem está mudando e nascem flores, frutas, legumes e verduras. Ou seja: produtos para serem vendidos a outras regiões que se preservam gélidas. “É lucro. É como se brotasse dinheiro em minha propriedade”, diz o criador. Também os pescadores da cidade de Nivirsiaq estão felizes porque começam a deparar com espécies de peixes que antes fugiam das águas excessivamente frias.
Na Groenlândia, qualquer elevação de temperatura faz diferença. Um aumento de apenas dois graus, que pode parecer irrelevante para quem vive abaixo do Equador, possibilita aos agricultores o plantio de certos grãos e de determinadas sementes. A previsão de colheita anunciada para o mês que vem é a melhor dos últimos anos e os moradores se alegram, por exemplo, com a perspectiva de gastar menos no supermercado. Hoje, eles desembolsam US$ 5 por um pé de alface e quase US$ 4 por um pepino (a maior parte dos gêneros alimentícios tem de ser importada).
Sem gelo e com verdura brotando do chão, esses preços seriam reduzidos a pelo menos um terço do valor atual. O degelo vai abrindo, assim, uma nova relação de independência econômica, sobretudo em relação à Dinamarca, que é a maior fornecedora de alimentos para a Groenlândia. Muitos moradores começaram a transformar seus jardins em hortas, mas talvez nenhum deles esteja tão feliz quanto o criador Magnusson: “Com o degelo, crio com segurança o meu rebanho de 2.300 renas. E já ganhei o suficiente para economizar e realizar um de meus sonhos: passear por aqui dirigindo uma picape Chevrolet.”
(Por Julio Wiziack, IstoÉ, 23/08/2006)
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