Igarapés transbordam lixo em Manaus
2006-08-22
Com a redução das águas do rio Negro na época da vazante, os igarapés da cidade deixam à mostra toneladas de lixo, que desconfiguram a paisagem e afetam a vida dos moradores de suas margens. Eles sofrem com o cheiro de podre desses cursos d´água que cortam a cidade.
Nos primeiros cinco meses do ano foram retiradas 2.444.726 toneladas de dejetos sólidos dos principais igarapés de Manaus. O líder do ranking da poluição é o São Raimundo, responsável por 1.991,990 toneladas. No segundo posto encontra-se o Igarapé do Passarinho, com 223,396.
Cabe a Secretaria Municipal de Limpeza Urbana (Semulsp) a função de retirar o lixo dos igarapés, mas a sujeira tem sido tanta que não tem sido possível atender uma demanda devastadora, como a reportagem de A CRÍTICA pode averiguar nas visitas que fez a moradores e trabalhadores, que vivem nas margens desses cursos d´água.
Convivendo com a sujeira do igarapé do Franco está o agricultor e pescador Leônidas Martins de Oliveira, 73, que há um ano luta para construir seu barco de madeira, que lhe permitirá voltar a navegar pelos rios da região.
"Eu já mergulhei seis vezes nas águas sujas deste igarapé, todas para ver como estava o casco do meu barco e para desencalhá-lo. O lixo já faz parte do meu trabalho, nem doença tenho mais medo de pegar, porque vivo pisando nesta lama e até hoje não me aconteceu nada, mas o cheiro, ainda mais agora, com as águas baixando, é horrível", diz.
Surpreso com a sujeira, o jovem pescador Altamir Matos de Azevedo, 17 anos, guardava uma pequena embarcação no Igarapé do Franco, enquanto seu tio Adilson de Azevedo, fazia compras no comércio do bairro Santo Antônio. "Eu nunca tinha visto tanto lixo na minha vida. Na comunidade do Pagodão, onde moro, há seis horas de barco de Manaus, rio Negro acima (com motor rabeta), as águas são limpas e não fedem", reclamou.
Na condição de líder da poluição de Manaus, o igarapé São Raimundo, nas proximidades da rua Walter Rayol, no bairro Presidente Vargas, é o retrato da saturação ambiental provocada pela agressão dos homens. "Eu trabalho aqui há 31 anos e já estou curtido pelo cheiro dessas águas podres. Fico triste ao ver que com o rio baixando as margens ficam apinhadas de sujeira, mesmo que a balsa da prefeitura limpe quase todos os dias o leito do igarapé", disse José Paulo Rodrigues dos Santos, 46, dono da Cerâmica São Sebastião, uma das mais primitivas olarias da cidade, com seus fornos artesanais "queimando" oito mil tijolos diariamente.
(A Crítica, 21/08/2006)
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