Hidrelétricas ameaçam turismo no distrito de Criúva, em Caxias do Sul
2006-08-22
A trilha noturna oferecida pela operadora de turismo receptivo Criúva é a metáfora exata para a
situação do desenvolvimento turístico no distrito caxiense que dá nome à empresa. Neste passeio,
os turistas caminham na mata sem lanternas e com o compromisso de não conversar guiados apenas
por um fio de arame.
O percurso, de aproximadamente 600 metros, é feito em uma propriedade particular próxima à sede
de Criúva. Do vilarejo, onde vivem cerca de 400 pessoas, se ouvem apenas ruídos distantes, não
chegam luzes, e o frágil arame que conduz os visitantes entre as árvores tampouco dá sensação de
segurança.
A todo momento, surgem vultos que a luz tênue da lua e das estrelas formam nas folhas. O vento e
os insetos se encarregam da trilha sonora. O que deveria ser um momento de tranqüilidade para que
a natureza seja percebida sem o auxílio da visão se torna um desafio de resistência ao medo. A
imaginação se encarrega de colocar no caminho cobras, roeadores, aranhas e onças. A única
salvação é agarrar-se ao fio.
Igualmente desprotegidos e inseguros sentem-se os empresários que apostaram no turismo em Criúva.
Para este distrito, que corresponde a 33% do território de Caxias do Sul, está projetada a
construção de três hidrelétricas de pequeno porte (PCHs). A primeira que deve sair do papel, e,
portanto, a que mais preocupa, deve represar o arroio Lejado Grande e desviar mais de 75% do
fluxo de água para túneis que serão abertos sob as montanhas.
"O que nos perguntamos é por que aqui. Nós, que vamos ao arroio com frequência, sabemos que a
vazão não é grande e que ela tem diminuído nos últimos anos. O mais provável é que esse
investiment não consiga operar por mais de dez anos. Fora iso, é preciso ver o impacto social
que uma obra desse tipo tratá à vila. Estivemos coom os moradores de Nova Roma e a experiência
que eles tiveram com a construção da hidrelétrica, nós não queremos que se repita em Criúva",
diz Guadalupe Pante, guia de turismo e membro da Associação Pró-Desenvolvimento de Criúva.
O receio de Guadalupe é compartilhado pelos empreendedores do turismo do local, que fundaram a
Associação em abril de 2005. A maior frente de atuação da entidade, segundo a proprietária da
Criúva Operadora Turística, Claudia Pante, é a preservação dos locais de referência do distrito.
Querem mantê-los intocados. Entretanto, ela explica que o grupo conta com apoio restrito entre
os habitantes do lugar. "Há poucos empresáros morando aqui. A maior parte fica indiferente às
decisões que degradam nosso meio ambiente", diz Claudia.
(Por Clarisse de Freitas, Jornal do Comércio, 21/08/2006)
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