Apenas 28% dos resíduos industriais gerados anualmente no Brasil recebem tratamento adequado, segundo dados da Associação Brasileira de Empresas de Tratamento de Resíduos (Abetre). O restante é descartado em lixões ou em mananciais sem nenhum tipo de tratamento, o que causa
sérios problemas de contaminação ambiental.
Esse contexto serviu de motivação para que Gabriela Arruda, aluna do curso de Engenharia Química da Universidade Federal do Pará (UFPA), testasse o potencial da vermiculita em extrair metais pesados lançados em cursos de água.
A pesquisa “Aplicações de vermiculitas no tratamento de efluentes contendo metais pesados” foi apresentada no 14º Seminário de Iniciação Científica do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação Científica (Pibic), realizado de 1º a 3 de agosto, no Museu Paraense Emílio Goeldi,
em Belém. “A vermiculita é um mineral com excelente capacidade de troca iônica. Ela possui cátions [íon com carga elétrica positiva] interfoliares facilmente trocáveis. Quando em contato com uma
solução contendo metais pesados, esse mineral cede alguns cátions presentes na sua estrutura para serem trocados pelos cátions metálicos”, disse Silvia Cristina Alves França, orientadora do estudo e professora da UFPA.
Os cátions trocáveis mais comuns em vermiculitas são o cálcio e o magnésio, que são capazes de trocar de lugar com os cátions de metais como chumbo, zinco e cobre. “O local que estava sendo preenchido pelo cátion de cálcio ou magnésio, por exemplo, acaba cedendo espaço ao cátion de cobre. Em nossas experiências, a vermiculita foi capaz de absorver quase todo o cobre”, explica Silvia, também pesquisadora do Centro de Tecnologia Mineral (Cetem/MCT).
A professora da UFPA ressalta, no entanto, que a pesquisa se concentrou no caso específico dos cátions de cobre, não levando em consideração a interferência de outros tipos de metais pesados. A vermiculita foi analisada apenas em uma solução de sulfato de cobre, um sal que
fornece os “íons cobre”, considerado um metal pesado.
Segundo ela, a eficiência das amostras de vermiculita para a extração do cobre foi acima de 90%. “Mas, no meio ambiente, a realidade é bem diferente. Além da presença de diferentes metais, existem outras substâncias que formam a composição geral de um efluente”, disse, chamando a atenção para a necessidade de novos estudos que levem em consideração a mistura de vários metais.
(Por Thiago Romero,
Agência Fapesp, 21/08/2006)