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2006-08-18
O presidente da Opep (Organização de Países Exportadores de Petróleo) e presidente do Comitê de Implantação de Etanol da Nigéria, Edmund Daukoru, visitou Piracicaba ontem para conhecer a cadeia produtiva brasileira de etanol e medir as chances de investimentos privados e parcerias governamentais entre Brasil e Nigéria. No CTC (Centro de Tecnologia Canavieira), Daukoru – que também é ministro do Petróleo da Nigéria – ouviu atentamente as explicações do gestor de pesquisa e desenvolvimento do órgão técnico-consultivo do setor sucroalcooleiro, Jaime Finguerut.

Segundo Finguerut, a visita de Daukoru – que estava acompanhado do diretor de energia renovável da NNPC (estatal nigeriana de petróleo), Onochie Anyaoku – foi planejada pela Petrobras, que tem grande interesse na produção de álcool brasileira, principalmente quanto à logística. “A Petrobras tem arranjos de negócios com outros países, em especial com a Nigéria, Venezuela e Japão. Então trabalha muito próximo do CTC com esses três países porque acredita na importância de eles saberem o que o Brasil é capaz de fazer em termos de álcool”, disse Finguerut.

Na Nigéria não existe produção de álcool, mas há o plantio de cana-de-açúcar para a produção de açúcar. Logo, para implementar um programa de etanol, há a necessidade de ampliar o cultivo da matéria-prima e levantar destilarias de álcool.

Desta forma, Daukoru acredita que o caminho para seu país produzir álcool passa por setores privados. “Firmas nigerianas e a Petrobras, por exemplo, poderiam fechar acordos sobre a produção de álcool na Nigéria”, diz ele, que inclusive relatou que há disposição do governo nigeriano em fornecer incentivos para a fabricação de álcool naquele país.

Mas, para Finguerut, não será possível atender ao pedido do presidente da Opep. “Ele tem uma expectativa de que, eventualmente, capitalistas brasileiros vão investir lá, o que eu acho pouco provável porque todo dinheiro que temos disponível está sendo usado nas novas destilarias que estão sendo construídas aqui. Além do que, os empresários nacionais não recebem qualquer subsídio do governo e linhas de financiamento, como as do BNDES, não suprem nem demanda interna”, afirma o gestor do CTC.

Demanda
Sendo assim, uma segunda possibilidade é cogitada por Daukoru. Para produzir etanol na Nigéria com o apoio do Brasil, ele comentou que seu país poderia receber alguma tecnologia brasileira por meio de convênios de governo para governo ou pela Petrobras. Outra solução seria a importação ou de peças para a construção de usina ou do próprio etanol.

Porém, conforme entrevista do diretor vice-presidente executivo da Dedini Indústria de Base, Sérgio Leme, concedida ao Jornal de Piracicaba no início deste mês, a exportação brasileira de usinas é barrada pela logística disponível no país, que dificulta o transporte de máquinas pesadas.

Finguerut, do CTC, afirma que é difícil prever a data de implantação do etanol na Nigéria, realidade que dependerá muito dos recursos governamentais para apoiar tal produção. “O nosso Próalcool foi levantado por meio de uma política forte de incentivos para a produção, do contrário o plano não decola”, acredita.

Saída
Vários países, como o Japão, enfrentam os mesmos problemas da Nigéria. A busca de uma saída para substituir o petróleo por uma energia limpa dependerá dos dois principais produtores de álcool: Brasil e EUA (Estados Unidos da América), já que o presidente da Opep admite que todos os países devem utilizar de 5% a 10% de etanol à gasolina.

“A produção total do Brasil e Estados Unidos daria para suprir a demanda de mix à gasolina de 2% para todos os países. Então, se multiplicamos por cinco a produção mundial dá para chegar em 10%. O Brasil tem condição de fazer isso até 2020, mas, mesmo assim, vai depender de muito investimento. Em cinco anos, a partir da palha e do bagaço, nós vamos ter de 10% a 20% mais álcool por hectare de cana. E, talvez, em 2020, ou mais longe, podemos chegar a ter o dobro de álcool por hectare, o que vai depender de grandes investimentos e capital é uma coisa que o Brasil não tem”, analisa Finguerut.
(Por Cristiane Bonin Barcella, Jornal de Piracicaba, 17/08/2006)
http://www.jpjornal.com.br/news.php?news_id=34677

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