Rio Jacutinga (PR) sofre com a poluição
2006-08-18
Um rio preto com aparência de morto e que os moradores vizinhos evitam chegar perto. Este é
o retrato do rio Jacutinga em Ibiporã, alguns quilômetros abaixo da ponte da PR-90, no
acesso a Sertanópolis. O quadro foi levado à Folha por agricultores que, antigamente, tinham
costume de se banhar e pescar nas águas claras do Jacutinga.
Em visita ao local na terça-feira (15/08), a reportagem ouviu inúmeros relatos sobre a
transformação do rio nos últimos anos. “A água hoje é preta, antes não era assim. Quando
ficava suja de chuva, tinha a cor avermelhada e não escura desse jeito”, contou o lavrador,
Sebastião Ribeiro, que trabalha na propriedade vizinha ao rio. “Quando cheguei aqui o rio
era bem mais claro e tinha muito peixe. Hoje, além de escuro, tem muita espuma”, confirma a
dona-de-casa, Dagmar Moreira da Silva, de 24 anos. Ela conta que o filho pequeno e o marido
costumavam pescar no local, mas hoje evitam até o contato com a água.
Situação semelhante observa a agricultora, Isabel Ferreira Saldanha, 39, que nasceu em
Ibiporã. “Eu conheço esse rio desde pequena, ele nunca foi preto desse jeito. As pessoas
falam que a culpa é das empresas aí para cima, eu também acho, mas não posso garantir”,
disse.
A reportagem da Folha percorreu a margem do rio no trecho próximo ao Frigorífico Rainha da
Paz, Cortume Wyni do Brasil e a represa de tratamento do Serviço Autônomo Municipal de Água
e Esgoto (Samae) e constatou diversos indícios de poluição. Na margem do frigorífico, foram
encontrados três lançamentos no rio um deles com despejo contínuo de grande quantidade de
espuma, e os outros dois com volume menor. Além disso, perto da Wyni do Brasil, o solo da
mata ciliar entre a empresa e o rio está encharcado por um líquido preto e mau cheiroso. A
reportagem teve que interromper o trajeto porque os pés começaram a afundar no lodo negro.
O diretor municipal de Meio Ambiente, Amauri Bianchini, disse que o lançamento próximo à
ponte pertence à Samae e tem licença ambiental do IAP. “É a descarga do esgoto depois do
tratamento aeróbico e da oxigenação. A espuma é do detergente que não degradou.”
Sobre o problema na mata ciliar da Wyni, ele disse que a empresa alega ter drenado a área há
dois anos para construir um novo barracão. Questionado se a lei ambiental não proíbe a
drenagem em área de nascentes, afirmou que sim, na maior parte dos casos, e garantiu que vai
analisar a situação.
O Samae confirmou o lançamento de resíduos no rio Jacutinga, mas negou que o líquido cause
danos ambientais. “Tem resto de detergente mas não acredito que prejudique o rio”, disse o
diretor de Saneamento, Alexandre Casagrande.
O chefe regional do IAP em Londrina, Carlos Alberto Hirata, afirmou à reportagem que vai
solicitar uma verificação técnica no local antes de se pronunciar. De acordo com Hirata, a
aparência da espuma pode sofrer superdimensionamento em razão do baixo volume do rio no
período da estiagem.
A promotora do Meio Ambiente em Ibiporã, Revia de Luna, solicitou à Folha cópia das fotos
tiradas no local para abrir investigação sobre a denúncia. “Vou verificar se houve infração”, concluiu.
Empresas negam responsabilidade
As empresas instaladas às margens do rio Jacutinga negaram à Folha responsabilidade pelos
indícios de poluição verificados pela reportagem e pelos agricultores da região.
O gerente de Qualidade Ambiental da Wyni do Brasil, Gilberto Maldonado, disse que o lodo
preto encontrado na mata ciliar abaixo da empresa não tem relação com a degradação do rio
Jacutinga. De acordo com Maldonado, o líquido decorre de dreno realizado da empresa para
permitir a construção de um barracão e se misturou à matéria orgânica abundante no local.
“Isso não é resíduo industrial, naquele lodo tem até larva de mosquito, o que prova a
ausência de contaminação”, afirmou.”A gente tem poço para monitoramento da água e se
houvesse algum problema ele iria aparecer.”
Sobre o mau cheiro do local, ele alegou que é resultante da mistura de matéria orgânica e
água. Maldonado disse ainda que fez análise de PH do líquido negro encontrado na mata ciliar
e constatou um nível adequado. “Deu PH de 6,89, está tudo normal.”
O gerente administrativo do Frigorífico Rainha da Paz, Valdecir Belançon, informou que a
unidade entrou em funcionamento há um ano e está passando por processo de licenciamento
ambiental.
De acordo com ele, todo efluente lançado no rio Jacutinga passa pela purificação no sistema
de represas e tem “qualidade correta para isso”.”Tenho absoluta certeza de que não há
poluição. Todo resíduo passa pela caixa de decantação e as fezes dos suínos são peneiradas e
coletadas.”
Belançon disse também que os fiscais do IAP já vistoriaram o sistema de controle ambiental e
devem emitir um laudo conclusivo em breve. “Nós temos uma consultoria ambiental que
elaborou esse sistema e o monitoramento está sendo feito corretamente.”
(Por Fábio
Cavazotti, Folha de Londrina, 17/08/2006)
http://www.bonde.com.br/folha/folhad.php?id=19281LINKCHMdt=20060817