Entidades testemunham contra passivo social da plantação de eucalipto
2006-08-17
A discussão acerca do passivo social da plantação de eucalipto foi tema de painel que integrou a programação do seminário Deserto Verde, ocorrido ontem (16/08), no Salão de Atos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Um público de aproximadamente mil pessoas ouviu as lideranças Iara Tupã , da comunidade indígena Tupiniquim do Espírito Santo, Carlos Santos, da Rede Amigos da Terra do Uruguai, e Luciana Piovesan, do Movimento das Mulheres Trabalhadoras Rurais e Via Campesina.
O palco em que discursavam os representantes foi decorado com produtos tradicionais da agricultura familiar e faixas de protesto contra a monocultura do eucalipto e a falta de apoio da mídia. A primeira a falar foi Iara Tupã, que descreveu de forma emocionada os conflitos entre a sua tribo e a Aracruz Celulose, e se solidarizou às mulheres que participaram da invasão da empresa no município de Barra do Ribeiro, no dia 8 de março deste ano. "Sinto não poder ter estado junto com aquelas mulheres para também poder destruir um pouco deste parasita chamada eucalipto", afirmou.
Ela ainda se mostrou indignada quando soube que nenhum representante do poder público estava presente no evento, e prometeu lutar contra a plantação da espécie.
O representante da Rede Amigos da Terra do Uruguai, Carlos Santos, também se mostrou solidário com a luta das mulheres da Via Campesina. Em sua fala, abordou a questão das papeleiras no Uruguai. O país tem 700 mil hectares de cultura de eucalipto, que são propriedade de nove empresas.
Contou que a entidade apoiava e confiava no governo dito esquerdista do presidente Tabaré Vasquez, mas que hoje os políticos uruguaios vêem os protestos contra o eucalipto como ato terrorista e antipatriótico. Santos vê a união das lutas latino-americanas camponesas como saída para o combate à monocultura.
O discurso de Luciana Piovesan, do Movimento das Mulheres Trabalhadoras Rurais e Via Campesina, encerrou o painel, levantando o grito "Soberania, sim. Deserto verde, não", que contagiou a platéia. Uma manifestação estava prevista na programação do seminário após o painel, mas devido à chuva, foi cancelada.
O seminário foi promovido pela Via Campesina do Rio Grande do Sul, Núcleo de Economia Alternativa (Nea/Ufrgs), Pós-graduação da Geografia/ Ufrgs, Pró-Reitoria de Extensão (Prorext/Ufrgs), Marcha Mundial de Mulheres, CUT-RS, Federação dos Metalúrgicos/RS, Federação dos Sapateiros/RS, Federação dos Trabalhadores em Indústrias de Alimentação/RS, Cpers, Conselho Indigenista Missionário (Cimi/RS), Movimento dos Trabalhadores Desempregados (MTD), Movimento Nacional de Direitos Humanos/RS, Profetas da Ecologia, Terra de Direitos, AGAPAN, CETAP, Diretório Central dos Estudantes (DCE/ Ufrgs), Diretório da Biologia (DAIB/Ufrgs), Grupo de Apoio à Reforma Agrária (GARA/Ufrgs), Centro Acadêmico do Direito do IPA, ATTAC/Poa, Núcleo de Ecojornalistas/ RS, Centro de Educação Popular (CAMP), CECA, CEBI/RS, Fian Brasil, Cáritas/RS, ESTEF, Congregação dos Capuchinhos/RS e as pastorais sociais Operária e Afro do RS.
Participantes do projeto de rede estadual reúnem-se em setembro
O seminário Deserto Verde ficou marcado pela criação de um projeto de rede estadual que congrega as 35 entidades que promoveram o evento. A primeira reunião da rede irá acontecer às 8h do dia 1º de setembro próximo, na UFRGS.
Para Miguel Stedile, integrante da Via Campesina, a iniciativa é válida porque mostra à comunidade que "nem todo mundo está de braços abertos para o recebimento das empresas de celulose", e visa a ampliar a discussão acerca da monocultura, facilitando também o encaminhamento de propostas ao governo. Além disto, para ele, a rede – que deve se chamar Deserto Verde – promoveria uma maior integração com as entidades argentinas e uruguaias.
(Por Ana Luiza Leal Vieira, 17/08/2006)