O uso de técnicas nucleadoras de restauração de áreas florestais é 34% mais barato em relação às convencionais. Essas técnicas são métodos que possibilitam ao ambiente condições para que ele próprio crie meios para a chegada de novos organismos (plantas e animais).
O engenheiro florestal Fernando Campanhã Bechara aplicou a técnica em três locais, de diferentes ecossistemas brasileiros, e comprovou que além do baixo custo, ela é também mais eficiente e benéfica ao meio ambiente.
O modelo tradicional de restauração usado no Brasil planta apenas árvores nativas e é baseado em forte adubação e limpeza, para que apenas as mudas plantadas cresçam, em prejuízo de outras formas de vida como ervas, arbustos, cipós e pequenas árvores rústicas. "Este modelo cumpre os requisitos da lei para restauração, mas pretende apenas produzir biomassa e ocupar o espaço, sem contribuir para o desenvolvimento do ecossistema", conta Bechara.
"Vale lembrar que recuperação é diferente de restauração", o adverte o engenheiro florestal. A primeira consiste em restituir um ecossistema a algo que pode ser diferente do original, enquanto a segunda tenta deixar o ambiente o mais parecido com o que era antes. "Isso é feito pela sucessão natural, em que organismos menores e menos exigentes preparam o local para a instalação de plantas e animais, promovendo a biodiversidade", explica.
Segundo cálculos do engenheiro florestal, o custo do hectare (ha) do modelo nucleador atinge R$3.653,00, contra R$5.500,00 no modelo tradicional. "O maior problema hoje não é a falta de interesse em aplicá-la, mas a falta de profissionais capacitados. A Votorantim, atraída pelos custos mais baixos, pretende utilizá-la em 20% de suas áreas destinadas à restauração ainda este ano", conta Bechara.
Unidades demonstrativas
O objetivo do estudo foi comparar unidades demonstrativas de um hectare (10 mil m2), com adaptação das técnicas de acordo com a vegetação nativa. Foram utilizadas áreas de floresta estacional semidecidual, em Capão Bonito; de cerrado, em Santa Rita do Passa Quatro, (ambas no interior de São Paulo e cedidas pela Votorantim Celulose e Papel), e de restinga, em Florianópolis, cedida por meio de uma parceria com a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). "Todas as áreas eram restauradas de acordo com o modelo convencional, antes da implantação do novo modelo", explica Bechara.
Seis subtécnicas principais foram aplicadas, todas elas voltadas para a recuperação de plantas, sementes, animais e solo originais. "Foram feitos abrigos artificiais para atrair a fauna e captura mensal de sementes em coletores permanentes, que produzem mudas que dão frutos em todos os meses do ano, aspecto importante para a manutenção de fauna na área.
Poleiros artificiais foram criados para o pouso e descanso de pássaros e morcegos. Esses animais são importantes dispersores de sementes das áreas próximas, que se adaptarão facilmente ao local". Também foi criada uma cobertura verde com pequenas plantas que formam arbustos, transposição de pedaços de solo de locais próximos, para recuperação de sua fauna e flora, e o plantio de árvores em núcleos, cada um com cinco mudas próximas, a uma distância de meio metro cada. "Desse modo, cria-se um sombreamento rápido, que atrai espécies mais exigentes para habitarem o local."
As áreas piloto foram implantadas em períodos diferentes, porém a constatação dos resultados foi feita mais ou menos na mesma época. A restauração na floresta estacional produziu 148 espécies nativas em um ano. "No cerrado, houve alguns problemas com invasão de gado, que come e pisoteia as plantas, e com as condições naturais piores. Mesmo assim, observamos o desenvolvimento de 35 espécies nativas em 2 anos", conta o engenheiro florestal.
A restinga teve 180 espécies desenvolvidas após dois anos e meio de implantação da técnica, uma riqueza elevada num ambiente tão próximo ao mar, com a ação dos ventos e da salinidade.
(Por Juliana Cardilli,
Agência USP, 17/08/2006)