Precipitação de neve na Antártida não está reduzindo aumento do nível do mar
2006-08-16
A quantidade de neve que cai sobre a Antártida não aumentou nos últimos 50 anos, segundo um novo estudo. A descoberta indica que a precipitação de neve sobre a Antártida não está reduzindo o aumento do nível do mar causado pelo aquecimento global, como a maioria dos modelos climáticos previa.
Este estudo também apóia a teoria que o Continente Gelado é o mais isolado em relação ao resto do sistema climático mundial. “Atualmente, dentro do sistema climático global, a Antártida se encontra em uma posição estranha,” disse Andrew Monaghan, pesquisador do Polar Research Center, da Universidade Estadual de Ohio. “No total, a temperatura anual do continente não mudou muito.”
Monaghan, juntamente com um time internacional de cientistas, combinou informações retiradas de blocos de gelo, amostras de neve, e modelos computacionais para obter um registro de 50 anos das nevascas na Antártida. Eles descobriram que, assim como a temperatura, o registro das nevascas não aumentou significativamente.
O grupo de pesquisadores publicou seu estudo na edição de hoje da Revista Science.
Claire Parkinson, climatologista do ‘Goddard Space Flight Center’ da NASA, disse que a descoberta indica que ainda há muito a se aprender sobre o clima da Antártida. “A nossa compreensão sobre o que deveria estar acontecendo (na Antártida) não é tão completa quanto gostaríamos,” disse ela.
Previsão versus realidade
A maioria dos modelos climáticos prevê que a precipitação sobre a Antártida ajudaria a reduzir o derretimento das geleiras nas bordas do continente, assim como em qualquer outro lugar do mundo. Na teoria, o aumento da neve sobre a Antártida deveria segurar uma parte maior da umidade liberada pelo degelo, reduzindo assim o aumento do nível do mar.
Atualmente, o nível global do oceano está aumentando cerca de 2.8 milímetros por ano. A temperatura global tem subido, em média, cerca de 0.6°C ao longo do último século.
A Península Antártida, um braço de terra com 1.200 Km em direção à América do Sul, aqueceu cerca de 2.5°C desde 1950.
Pedaços de gelo do tamanho de pequenos estados se desintegraram nos últimos anos.
Mas fora a Península Antártida, a temperatura anual da superfície do continente como um todo, continuou a mesma nos últimos 50 anos, disse Monaghan. Alguns estudos sugerem um pequeno resfriamento desde a década de 70; outros sugerem um pequeno aquecimento desde a década de 60.
“Mas não são estatisticamente significantes,” disse ele. “Não podemos dizer que a tendência é diferente de zero”. O mesmo acontece com a quantidade de neve, diz ele. Na Revista Science, Monaghan e seus colegas escreveram, “Não houve nenhuma mudança significativa na precipitação de neve desde 1950”.
Continente Isolado
Richard Aleey é glaciologista na Universidade do Estado da Pennsylvania.
Ele explica que o ar mais quente possui mais umidade, o que na Antártida, deveria resultar em neve, segundo os modelos climáticos. “Mas a Antártida é especialmente complexa, em parte por causa do buraco (na camada) de ozônio,” disse ele.
Pesquisas anteriores descobriram que o buraco na camada de ozônio tem contribuído para mudanças na circulação atmosférica sobre a Antártida. Estas mudanças estão causando um resfriamento do interior, e um aquecimento da Península Antártida. Monaghan relacionou o padrão da circulação a uma cortina ao redor da Antártida, isolando grande parte do continente do resto do sistema climático global.
Segundo ele, ao passo que a camada de ozônio se recupera, o estudo sugere que a temperatura da Antártida deve se tornar condizente com a do resto do Hemisfério Sul. “Então é importante entender, se isto acontecer, como a neve muda e que impacto ela terá sobre o nível do mar,” disse ele.
Registros da Neve
Monaghan tem certeza que os 50 anos de registro da neve coletados por seu time, são cientificamente robustos. Apesar das informações do interior do bloco de gelo e da neve serem esparsas, os pesquisadores preencheram os espaços em branco utilizando um modelo climático como os que são utilizados para a previsão do tempo.
Os cientistas realizaram uma série de análises estatísticas sobre as informações, e recompuseram as informações de maneiras diferentes. “Sempre obtivemos as mesmas respostas,” disse Monaghan. “Temos certeza que é uma boa resposta.” Jay Zwally, glaciologista do ‘Goddard Space Flight Center’ da NASA, diz que o resultado faz sentido.
Em um outro estudo realizado por ele e seus colegas sobre a cobertura de gelo da Antártida, a conclusão é bastante similar. “Como vimos, não houve uma tendência significativa no aumento da precipitação de neve na Antártida, exceto da região da Península,” disse ele. Mas quando a mudança da temperatura global chegar no resto da Antártida, especialmente no leste, adicionou ele, “provavelmente veremos um aumento na precipitação.”
Segundo Monaghan, a mudança década a década e ano a ano da precipitação de neve na Antártida é tão grande que “infelizmente, podemos levar algum tempo para entender como a Antártida está se encaixando no quadro amplo das mudanças climáticas.” Parkinson, também do Goddard Space Flight Center, resumiu desta forma: “Temos um longo caminho a percorrer antes de entender direito o que está acontecendo aqui.”
(Carbono Brasil, com informações de National Geographic News, 15/08/2006)
http://www.carbonobrasil.com/noticias.asp?iNoticia=14486&iTipo=5&idioma=1