Pesquisadores encontram mais exemplares de nova espécie de peixes no rio Tibagi (PR)
2006-08-16
Pesquisadores da Universidade Estadual de Londrina (UEL) encontraram mais exemplares da espécie nova de cascudo
descoberta recentemente no rio Tibagi, em Ortigueira (113 km ao sul de Apucarana). Aproveitando a seca, que acabou
facilitando a coleta de peixes, professores e alunos de pós-graduação conseguiram confirmar que aquela região é habitat do
cascudo ainda não descrito na literatura científica.
A reportagem da Folha acompanhou a primeira visita ao local, realizada no último dia 22 de julho, quando a ictióloga Sirlei
Bennemann deparou-se com o peixe em um trecho do Tibagi, próximo à aldeia kaingang de Mococa. Após análise em
laboratório da UEL, especialistas em cascudos confirmaram que tratava-se de espécie nova. Dessa vez, a coleta foi feita no
ponto onde está prevista a construção da Usina Hidrelétrica (UHE) Mauá, perto da divisa entre Ortigueira e Telêmaco Borba.
“Encontramos mais duas amostras da espécie nova e dá para concluir que aquele local pode ser preferencial para ele. Tem
cascudo que tem em todo lugar, até no Lago Igapó. Este não, é uma espécie muito particular e muito exigente do ponto de
vista da qualidade da água”, explicou Sirlei. Ela frisou que o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) elaborado pela empresa
responsável pelo projeto da UHE Mauá não traz nenhuma referência a essa espécie.
Além dela, foram coletadas outras 17 espécies no rio Tibagi e seu afluente, o Barra Grande. Mesmo afetado pela seca, o
cenário local foi definido como “um paraíso” pela professora Josefa Yabe, do departamento de Química da UEL, que integrou
o grupo de pesquisadores. “Conheço muitos rios brasileiros e posso dizer que o Tibagi é um dos mais bonitos”, considerou.
Josefa alertou que a construção de uma hidrelétrica no local, com alagamento do rio e destruição de grande número de
árvores, tornará ainda mais sérias secas como a que estamos vivenciando este ano. “Eu nunca vi uma situação como esta.
E pode piorar se cada um de nós não pensar em sua responsabilidade com o meio ambiente”, frisou.
O Ministério de Minas e Energia marcou para o dia 10 de outubro o leilão que irá ofertar a concessão da UHE Mauá, entre
outras. Em dezembro do ano passado, a Justiça Federal de Londrina concedeu liminar excluindo a UHE Mauá do leilão
realizado à época. A justificativa foi de que era necessário um estudo mais detalhado de toda a bacia do Tibagi e de que a
aprovação não era de competência do Estado, mas do governo federal via Ibama uma vez que o empreendimento irá afetar
reservas indígenas.
A Frente de Proteção do Rio Tibagi, constituída por diversas entidades e representantes de instituições como a UEL e a
Universidade Estadual de Maringá (UEM), já colheu cerca de 6 mil subscrições para o abaixo-assinado contrário à construção
da Usina Mauá. De acordo com Sirlei, o documento e os relatórios das pesquisas realizadas em Ortigueiras serão
encaminhados ao Ministério Público Federal (MPF).
(Por Vanessa Navarro, Folha de Londrina, 15/08/2006)
http://www.bonde.com.br/folha/folhad.php?id=15678LINKCHMdt=20060815