Instituto Ambiental do Paraná investiga poluição no rio Laranjinha
2006-08-16
O Instituto Ambiental do Paraná (IAP) divulga na próxima semana resultado de estudo sobre as condições ambientais do rio
Laranjinha, importante afluente do rio das Cinzas, no Norte Pioneiro, que visa apurar denúncia de poluição por parte da Usina
Dail Destiladora de Álcool, nos limites dos municípios de Ibaiti e Congoinhas.
Na semana passada, a Folha percorreu trechos do rio Laranjinha próximos à usina e constatou a existência de uma
quantidade moderada de espuma no início da manhã que se dissipou ao firmar do dia.
Fiscais do escritório regional do IAP em Jacarezinho recolheram amostras da água em diversos pontos do rio segunda-feira
(14/8) e constataram a existência de um lançamento contínuo da empresa no rio. O lançamento fica abaixo de uma represa
de contenção de resíduos e apresenta coloração mais escura que o trecho anterior à unidade.
De acordo com o coordenador do IAP em Jacarezinho, Venilton Pacheco Muccilo, a análise das condições da água foi
solicitada pelo Ministério Público - que abriu procedimento investigatório sobre a suposta poluição a partir de denúncia
anônima acompanhada de farto material fotográfico.
“No máximo em uma semana vamos ter o resultado dos estudos, que serão feitos no laboratório do IAP em Londrina. As
coletas são feitas tanto a montante (acima) quanto a jusante (abaixo) da empresa para permitir a comparação da qualidade
da água antes e depois de passar pela unidade”, afirmou Muccilo. O representante do IAP aproveitou a solicitação do MP e
vai adotar o mesmo procedimento com uma empresa carbonífera que também é suspeita de despejar detritos no rio. “Por
conseqüência lógica, vamos fazer o mesmo tipo de coleta com a carvoaria, que também é alvo de suspeita. Daí, vamos
poder comparar todos os resultados.”
A denúncia ambiental levada à promotoria, à qual a Folha teve acesso, aponta a ocorrência de grande volume de espuma na
superfície do rio Laranjinha, mudança de coloração da água e morte indiscriminada de peixes. O documento indica que o
despejo de vinhaça ou vinhoto , que é o resíduo industrial das destilarias de álcool, aconteceria de madrugada para evitar a
ação dos fiscais ambientais.
A usina também foi acusada de tentar “secar” áreas alagadas e minas naturais consideradas de preservação pela lei
ambiental. Parte das fotografias anexadas na denúncia mostram locais em que a empresa usaria a água das minas por meio
de bombeamento direto. A reportagem localizou o denunciante anônimo em uma cidade próxima à usina, mas, apesar de
confirmar o teor do relato entregue ao MP, se recusou a dar entrevista alegando temor de represálias.
O cenário desolador em algumas curvas do rio atualmente, com a água quase empoçada e uma camada de lodo por cima
como a Folha constatou in loco pode ter sido agravado pela estiagem histórica que alcança a maior parte do estado, de
acordo com Venilton Muccilo. “A diminuição do volume de água na estiagem reduz a capacidade de diluição do rio. Em tese
teríamos que reduzir os lançamentos na mesma proporção do volume do rio para manter o nível de poluição”.
O chefe regional do IAP fez questão de mencionar a possibilidade de que os danos ao rio Laranjinha tenham sido causados
por agricultores da região. “Falando abertamente, se um agricultor lava o tanque do agrotóxico na beira do rio, vai causar um
estrago. De repente, o dano causado por dezenas de agricultores poderia ser maior do que de uma grande empresa”, disse.
No início do ano, dois peritos do Centro de Apoio às Promotoiras de Meio Ambiente já realizaram coleta de amostras da água
nas proximidades da usina. O promotor Leandro Garcia, lotado na comarca da Ibaiti, não quis falar sobre o resultados das
análises. “O procedimento está sendo instruído e só vamos divulgar as providências depois quando elas forem tomadas”. Em
Curitiba, fontes no MP indicam que a investigação está “99% pronta.”
Advogado de usina nega descarte
O advogado da Usina de Álcool do grupo Dail S.A., Paulo César Bueno, negou à Folha que a empresa faça o descarte de
vinhaça ao longo do rio Laranjinha. Segundo ele, a unidade adota um “sistema de circuito fechado” para tratamento dos
resíduos. “Isso significa que toda vinhaça é reutilizada. Temos 35 veículos para transportar o resíduo até as lavouras, onde é
despejado como adubo”, afirmou Bueno.
A vinhaça é um composto rico em nutrientes, identificado como NPK (siglas dos elementos químicos Nitrogênio, Potássio e
Fósforo), benéfico na lavoura mas extremamente prejudicial à fauna fluvial. A empresa reconhece a produção de 10 litros de
vinhaça a cada 1.000 litros de álcool. A Dail faz a destilação de 200 mil a 300 mil litros de álcool por dia segundo dados da
própria usina.
O advogado afirmou que foi desativada há três anos a “área de sacrifício” sistema de 20 represas a céu aberto onde a vinhaça
era depositada. “Acabamos com isso e estamos investindo na conservação das matas ciliares e represas para criação de
peixes”. O local das antigas represas, segundo ele, estão passando por processo de reflorestamento.
Sobre as fiscalizações dos órgãos ambientais, o advogado reconheceu que foram importantes para minorar os impactos
causados sobre o rio Laranjinha e o subsolo da região. “Houve termo de ajuste de conduta sim, foram feitos ajustes ao longo
do tempo e hoje temos um sistema que garante 100% de respeito ao meio ambiente”, afirmou.
Bueno acrescentou que a empresa reutiliza toda a água usada na lavagem da cana operação que antecede a moagem. “Tudo
que existe ali misturado, de bagaço e sujeira, passa pelo processo de purificação em três lagoas específicas. Dá para contar
nos dedos as usinas que tem um sistema moderno como o nosso.”
Sobre as investigações do Ministério Público, o advogado disse não acreditar que estejam prosperando. “Qualquer coisa fora
do que estou mostrando não é verdadeira”, concluiu.
(Por Fábio Cavazotti, Folha de Londrina,
15/08/2006)
http://www.bonde.com.br/folha/folhad.php?id=15668LINKCHMdt=20060815