Programa sobre meio ambiente na rádio da Universidade Federal de Santa Maria ficou 26 anos no ar
2006-08-16
Em agosto de 1977, pelas ondas da Rádio Universidade, foi ao ar pela
primeira vez o programa “Antes que a Natureza Morra”, o primeiro
programa de educação ecológica da radiofonia brasileira, segundo
atestou o Ministério das Telecomunicações. Eu idealizei o programa e
era uma espécie de faz tudo no mesmo, pois era o responsável pela
produção, seleção musical e locução. Trabalhei com vários responsáveis
pela mesa técnica e efeitos sonoros : Cleber Mariano, o Garça; Jaciol
di Giacomo; Celso Reimi Pimentel; Renato Molina e Celso Franzen.
Quem me convidou para fazer um programa e trabalhar na Rádio
Universidade foi o diretor da mesma, o radialista e dentista Roberto
Bisogno. Era reitor da UFSM o professor Hélios Homero Bernardi, que
assinou portaria autorizando minha cedência para a rádio da instituição
para lá trabalhar durante vinte horas semanais. Esta cedência foi
mantida pelos reitores subseqüentes durante mais de 20 anos.
O programa levou o título de “Antes que a Natureza Morra” em homenagem
ao antológico livro, de autoria do biólogo francês Jean Dorst, diretor
do Museu de História Natural de Paris. Este livro era leitura
obrigatória para meus alunos do Curso de Ciências Biológicas da UFSM
e pelos militantes das organizações não governamentais que tratavam da
defesa ambiental.
O programa, nos primeiros meses, ia ao ar com apenas uma hora de
duração. Depois, se fixou em duas horas de duração, aos sábados e
domingos (reprise), das 10:00h às 12:00h. Eu apresentava um assunto em
cinco minutos e colocava a rodar uma música popular brasileira,
sempre cantada, cujo teor da letra sempre tinha a ver com o tema sobre
o qual estava tratando.
O programa apresentava dados sobre desmatamento, erosão, poluição,
agrotóxicos, informações técnicas sobre animais e plantas, entrevistas
com cientistas e autoridades ligadas ao meio ambiente, denúncias sobre
agressões à natureza da região, explicações sobre leis
ambientalistas.
Professoras da rede estadual e municipal de ensino que ministravam
aulas aos sábados pela manhã entravam em contato comigo e sugeriam a
pauta do programa. Então eu preparava programação especial sobre o
assunto pedido e elas instalavam caixas de som nas aulas e os alunos
recebiam as explicações todas através do programa, num trabalho
absolutamente inovador para a época, precursor da chamada “Open
University”.
Várias edições do programa foram ao ar na rede nacional de emissoras
universitárias, pois naquela época existiam 25 universidades
brasileiras que possuíam rádio. A Fundação Roquete Pinto também levou
ao ar algumas edições comemorativas a datas especiais ligadas ao meio
ambiente. O programa recebeu um prêmio nacional no concurso nacional
promovido pelo Ministério da Educação.
O programa sempre teve enorme audiência em Santa Maria e região pelo
inusitado do tema tratado. Um dos ouvintes assíduos era o amigo Manoel
Antônio Marranquiel, que me mandou o seguinte poema de sua autoria:
Antes que murche a rosa derradeira,
no jardim da praça entristecida;
antes que seque o ramo da videira
no quintal tão pobre e já sem vida,
“Antes que o último pardal
à minha porta venha saltitar
e o sereno em forma de cristal
não tenha folhas para orvalhar,
“Antes que o céu perca o azulado
e o ar se turve enegrecido;
antes que o verde fique amarelado
e a vida não tenha mais sentido,
“Antes que as águas parem de correr
e sequem as vertentes mais profundas,
antes que a semente venha a fenecer
no seio da terra infecunda,
Antes enfim da triste realidade
neste mundo cheio de incerteza,
façam algo pela Humanidade
ANTES QUE MORRA A NATUREZA !
O programa recebeu muitas homenagens e moções de louvor de muitas
câmaras de vereadores das cidades pertencentes à zona geoeducacional
de Santa Maria. É bom que se diga que foi um trabalho voluntário, pois
nunca ganhei nenhum tipo de remuneração extra por tê-lo feito.
Durante certa época, quando a emissora sofreu grave crise de falta de
verbas específicas, eu fiz um convênio com a SEMA - Secretaria
Especial do Meio Ambient - e, do Governo Brasileiro, e o titular
daquele órgão, meu amigo pessoal Dr. Paulo Nogueira Neto, me forneceu
todas as fitas de rolo BASF para a gravação do programa. Também
consegui junto à FATEC, de Santa Maria, verba para a aquisição de
discos para o programa, que tratei de doar para a discoteca da rádio.
Pois me aposentei da UFSM como docente. E a direção do Departamento de
Divulgação da época, à qual a Rádio Universidade estava subordinada,
não manifestou interesse na continuação do programa. Até me solicitaram
a desocupação da sala por mim usada durante quase duas décadas para a
produção do programa, onde guardava meus livros, fichários, documentos
e centenas de rolos de fitas. Isso me desgostou e me aborreceu muito,
o que fez com que retirasse o programa do ar.
Até agora, agosto de 2006, não surgiu programa similar na radiofonia
nacional!
(Por James Silveira Pizarro – engenheiro-Agrônomo,
Mestre em Ecologia e Professor, Ecoagência, 15/08/2006)
http://www.ecoagencia.com.br/index.php?option=content&task=view&id=1782&Itemid=2