A logística reversa — área da logística que planeja, opera e controla o fluxo de retorno dos produtos depois de consumidos — tem ganhado cada vez mais espaço em algumas empresas. O processo se justifica por várias questões, principalmente no que se refere à consolidação das marcas, à gestão de meio ambiente — com o reaproveitamento e reciclagem de embalagens dos produtos — e até a intenção de minar a criação de mercados paralelos de vendas de algumas mercadorias específicas. Apesar de antigo, as empresas vêm descobrindo suas vantagens há cerca de cinco anos com o aumento da produção e a necessidade de adotar novas técnicas para conseguir competitividade.
“Outro objetivo comum da adoção do sistema é o econômico, através do qual a empresa busca algum tipo de ganho com o reaproveitamento de materiais ou componentes de seus produtos”, defende o professor especializado em logística reversa do Mackenzie, Paulo Roberto Leite.
O programa está ligado à sua política de gestão ambiental e liga a marca à preocupação com a qualidade de vida e a educação ambiental. “Este é um primeiro passo para a logística reversa, que será estruturada à medida que o projeto for construído. A proposta é realizar parcerias com os fornecedores para desenvolver o sistema, e conseguir, de fato, que os resíduos reciclados tornem-se insumo no desenvolvimento de novas embalagens”, explica o gerente de Saúde, Segurança e Meio Ambiente (SSMA) da empresa, Marcos Batptistucci.
O projeto começou em agosto de 2005, voltado para os funcionários da empresa. Como houve boa aceitação, em abril deste ano um projeto-piloto foi implantado nas 19 lojas de Curitiba (PR).
Os resíduos coletados são levados para uma central de triagem, onde são separados e depois encaminhados para recicladores. Toda a receita gerada na venda do material é contabilizada no investimento com a reciclagem. Batptistucci não acredita que a empresa venha a ter lucro futuro com a ação, que recebeu investimentos da ordem de R$ 400 mil.
Igualmente focado na questão ambiental e buscando a melhor forma de atender às exigências da legislação, o Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias (Inpev) faz uso da logística reversa para atender às exigências e normas ambientais a respeito dos insumos da indústria agrícola. Em cinco anos, foram retiradas 43 mil toneladas de embalagens. Em 2005, as 17 mil toneladas recolhidas corresponderam a 62% do volume comercializado em um ano.
O processo também funciona para efeitos de competitividade: produtos que não tiveram venda em determinadas regiões são reenviados para outras partes do País. Certas companhias também contratam empresas especializadas para coleta e armazenagem, a fim de fidelizar o cliente e consolidar sua marca. O volume de retorno é muito menor do que o de ida. Por isso mesmo, os gastos dispensados na volta são maiores.
“É preciso que as empresas equacionem bem este sistema, mas ainda sim elas reduzem custos importantes”, diz. Nessa linha, O Boticário criou o projeto “Reciclagem Pós-Consumo - Apoio ao Desenvolvimento Sustentável”, que recolhe as embalagens vazias de seus produtos.
Durante o processo, o caminhão que leva os agrotóxicos com as embalagens cheias para os distribuidores e cooperativas do setor — e que retornaria vazio — traz as embalagens vazias de volta, já separadas e prensadas, que são armazenadas nas unidades de recebimento. São mais de 40 empresas associadas — cerca de 99% das fabricantes de defensivos agrícolas.
Dentre elas, a Basf S.A, uma de suas principais mantenedoras, contribui com R$ 3,5 milhões anuais. “O Inpev tem custos de R$ 40 milhões por ano”, diz o gerente de segurança da Basf e presidente do Conselho Diretor do Inpev, Roberto Araújo. O investimento de cada empresa é calculado pelo volume de insumos produzidos.
Na Embraco, fabricante de compressores para refrigeração, o sistema de logística reversa é utilizado desde 2000 com o programa chamado Top Verde. A cada 10 compressores usados devolvidos às fábricas pelos representantes e assistências técnicas, a empresa fornece um novo.
“Adotamos essa estratégia para evitar que esses compressores sejam reabilitados e revendidos, já que o consumidor final pode sair prejudicado”, avalia o gestor corporativo de planejamento de vendas e operações da Embraco, André Perez.
A legislação severa — que faz controle rigoroso sobre o uso de metais pesados —, a identificação da empresa com o ISO14000, além dos riscos de processos de consumidores que se sentem prejudicados com a revenda de produtos sem garantias foram motivos que levaram a Embraco a criar o programa. Em 2005, foram recolhidos 270 mil compressores, e para este ano a meta é de que este número atinja a casa dos 290 mil. “Há um ganho indireto da empresa. Mas este é um fato menor. A venda de compressores usados é uma realidade, mas não compromete o market share”, diz.
(Por Juliana Schincariol,
DCI - Diário Comércio e Indústria, 14/08/2006)