Praticamente toda a madeira processada pelas indústrias do Extremo
Norte de Mato Grosso é oriunda de propriedades rurais que não
pertencem aos proprietários das empresas, e praticamente não existe
interação entre estes dois segmentos para reposição dos estoques.
Esse é um dos dados mais preocupantes de uma pesquisa realizada pelo
ProManejo no segundo semestre de 2005, entre indústrias madeireiras
do território Portal da Amazônia.
Segundo o coordenador do projeto Norival Batista, a pesquisa buscou
esclarecer a relação entre o setor industrial e a origem da matéria
prima. “Nós queríamos ver se existe relação de continuidade e qual a
ligação entre os transformadores e os fornecedores de matéria prima,
e a pesquisa apontou que quase não existe essa ligação”, diz Batista.
Para ele, os resultados são uma ferramenta para indústrias e
formuladores de políticas públicas refletirem sobre a sustentabilidade
do setor madeireiro na região e planejarem ações que garantam a
continuidade das operações a longo prazo.
Para a maior parte dos 128 empresários entrevistados, no entanto, os
principais entraves ao desenvolvimento da indústria madeireira são a
burocracia e morosidade dos órgãos ambientais e a falta de documentação
das propriedades rurais. Um problema que o governo do Estado espera
contornar com as novas regulamentações de gestão florestal aprovadas em dezembro último – entre elas a liberação de 30% do previsto nos planos de manejo protocolados na Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Sema) que estiverem com toda a documentação correta e um prazo legal de 90 dias a partir do protocolo para a equipa da secretaria vistoriar as áreas dos projetos de manejo. Mesmo assim, o volume de informações pedidas para o envio do processo ainda assusta empresários e proprietários rurais.
A pesquisa também revela outros dados importantes para o planejamento
estratégico e crescimento sustentado do setor madeireiro na região, no
que tange o arranjo produtivo e a qualificação da mão-de-obra. Apenas
13% das indústrias pesquisadas têm controle sobre todo o processo,
desde a extração da madeira até o transporte dos produtos – no
restante, as atividades são altamente terceirizadas em relação ao
transporte e maquinários de extração. Além disso, a capacitação
técnica da força de trabalho utilizada é praticamente inexistente.
Oficinas complementam diagnóstico
O diagnóstico agora está em fase de apreciação pelo próprio setor
florestal da região, em uma série de oficinas sobre manejo florestal
sustentável promovidas pelo Instituto Centro de Vida no Portal da
Amazônia. O objetivo das oficinas, além de esclarecer dúvidas sobre o
manejo florestal, é identificar o potencial de extração madeireira de
áreas de floresta ainda existentes na região. “As oficinas terão o
papel de estabelecer as potencialidades e possibilidades de implantação
de projetos de manejo florestal levando em consideração as florestas
ainda existentes na região”, explica Norival Batista.
As oficinas são parte das atividades do projeto de Manejo Florestal
Sustentável no Portal da Amazônia, executado pelo Instituto Centro de
Vida (ICV), que faz parte ProManejo - Projeto de Apoio ao Manejo
Florestal Sustentável na Amazônia, um projeto criado no âmbito do PPG7
(Programa Piloto de Proteção das Florestas Tropicais) e executado
pelo Ibama e Ministério do Meio Ambiente nos nove estados da Amazônia
Brasileira.
Leia a íntegra do estudo
O setor florestal no Território Portal da Amazônia: situação e perspectivas.
(Estação Vida, 10/08/2006)
http://www.estacaovida.org.br/