Analistas do Grupo de Pesquisas de Desenvolvimento, do Banco Mundial, publicaram recentemente estudo sobre impactos
econômicos da adoção de algodão geneticamente modificado (GM). Conduzido pelo economista Kym Anderson, o relatório
partiu das seguintes questões: é possível fazer um balanço de perdas e ganhos do plantio da variedade transgênica
considerando o cenário atual e o prospectivo? Os países em desenvolvimento poderão se beneficiar do produto?
O relatório apresenta a situação mundial da produção e comercialização de algodão e derivados (fibras e produtos têxteis) e
constata que há forte concentração na produção de fibra de algodão, liderada por China e EUA, e nas exportações, onde
EUA e Austrália aparecem como líderes. Alguns dos maiores produtores são grandes importadores - China, Índia, Turquia e
México.
Saindo desse "circuito fechado", como define o texto do Banco Mundial, a preocupação é que, entre o grupo de
não-adotantes da biotecnologia, estão os países pobres da África, com exceção da África do Sul, alguns também
exportadores líquidos do produto.
Os economistas realizaram diversos exercícios prospectivos, em que todos os países adotam algodão GM. Caso pudessem
aplicar os recursos da biotecnologia, os africanos da região subsaariana teriam aumento de produtividade de 15%, impacto
maior do que nas nações já adotantes da transgenia. A adoção da inovação pelos africanos aumentaria o consumo
doméstico da fibra e derrubaria os preços no mercado internacional. A situação justificaria a aplicação imediata dos cultivos
transgênicos na África e em países exportadores do sul da Ásia.
Mesmo com queda dos preços e dos ganhos diretos, potências como EUA, Austrália e China continuariam a ter ganhos
expressivos pela possibilidade de realocação rentável de recursos. No caso da China, seria pelo fato de o país ser importador
líquido da fibra. No caso dos EUA, pela possibilidade de utilizar melhor as áreas agrícolas disponíveis. Ao ter o continente
africano como novo território de investimentos, os grandes players poderiam liberar áreas internas para outras atividades.
Considerando uma eventual remoção de tarifas e subsídios, somada ao uso generalizado de cultivos GM, países em
desenvolvimento como Índia, Paquistão, Zâmbia e Turquia receberiam benefícios dez vezes maiores que o ganho mundial.
Os resultados do estudo demandam uma reflexão sobre as razões que levam ao que os autores chamaram de procrastinação
pelos países pobres, potenciais beneficiários da tecnologia, em adotar o algodão GM. O relatório conclui que as iniciativas
para a cotonicultura levantadas na Rodada de Doha serão maiores se os transgênicos forem adotados em primeiro lugar. E
as nações em desenvolvimento dobrariam as cifras de US$ 2 bilhões que hoje movimentam o setor. O estudo fornece mais
uma prova de que o importante é capacitar os países africanos para realizar o manejo adequado da cultura de forma a
aproveitar as potencialidades da biotecnologia. Isto permitiria libertá-los da tutela excessiva exercida por certos países
desenvolvidos, que oferecem subsídios e barreiras.
(Por José Maria da Silveira é membro do Conselho de Informações
sobre Biotecnologia – CIB)
(
Gazeta Mercantil, 14/08/2006)