Ambientalistas repudiam atitude dos EUA ao usar golfinhos e leões-marinhos em treinamento militar
2006-08-14
Os Estados Unidos participaram, no último mês de julho, de uma espécie de treinamento militar marinho na costa oeste do Havaí, em conjunto com nações como Coréia do Sul, Austrália e Peru. Até aí, nenhuma novidade. Foi a 20ª edição do Rimpac - Rim of the Pacific Exercise, algo como Exercício de Patrulha de Cabotagem do Pacífico, em livre tradução -, uma espécie de "Olimpíadas de Guerra", que envolve as Marinhas dos países banhados pelo Oceano Pacífico, mais o Reino Unido.
Durante cerca de um mês, de 26 de junho a 28 de julho, as oito nações participantes travaram simulações de combates interoperantes em alto mar, buscando, segundo a organização, aprimorar táticas e técnicas militares, para o bem e a paz da região. A polêmica, claro, sobrou para os norte-americanos, que levaram, entre seus submarinos, porta-aviões e soldados, o reforço de um batalhão um tanto quanto inusitado: os "recrutas" do Programa de Mamíferos Marinhos da Marinha.
A entidade já havia se envolvido em uma polêmica no ano passado, quando foi processada por fazer uso de um tipo de sonar que causaria desorientação e sangramento de olhos e ouvidos em baleias e golfinhos. O projeto dos mamíferos marinhos, que foi fundado no início da década de 1960 e mobiliza investimentos da ordem de US$ 15 milhões, é sediado em San Diego (California) e possui em seu plantel 75 golfinhos e 30 leões-marinhos, segundo informações da agência Associated Press.
Deste total, foram levados para o treinamento na costa do Havaí seis golfinhos e quatro leões-marinhos, que tinham a função de detectar e recuperar minas depositadas no fundo do oceano, respectivamente. O porta-voz do Programa, Tom Lapuzza, explicou à AP que, apesar de todos os avanços tecnológicos, os equipamentos desenvolvidos pelas Forças Armadas norte-americanas ainda estão longe da eficiência mostrada naturalmente por esses animais nestas atividades.
Lapuzza ainda fez questão de ressaltar que a economia anual que a Marinha dos EUA tem com este tipo de "soldado" chega a US$ 1 milhão. O outro lado - Mas, como o poderio militar do país não agrada a todos, incluídos aí muitos americanos, sobraram críticas para as Forças Armadas. Wayne Johnson, da Comissão dos Direitos Animais do Havaí, afirmou, também à AP, que acredita que o uso militar da sensibilidade e inteligência destas espécies é um abuso, e defendeu a liberdade para os golfinhos e leões-marinhos que estiveram em combate.
Em entrevista exclusiva à Pesca & Companhia, concedida por e-mail, a bióloga Stephanie Boyles, do PETA - People for the Ethical Treatment of Animals, Pessoas pelo tratamento ético de animais -, entidade reconhecida internacionalmente por sua atuação de proteção aos animais, também manifestou-se contra a Marinha norte-americana. "As guerras são empreendimentos dos Homens. Se os animais não promovem a guerra, porque devem sofrer em decorrência da raça humana?", questionou. "São como civis, que se tornam vítimas inocentes".
Para Boyles, a Marinha norte-americana está obrigando animais a prestarem este tipo de serviço, que é, no mínimo, repreensível e impraticável. "Golfinhos são extremamente inteligentes, mas não têm idéia de que vidas humanas serão perdidas se eles não usarem suas habilidade da forma esperada; não possuem qualquer senso de responsabilidade", afirma. "A confiança da Marinha dos EUA nas ações [de golfinhos e leões-marinhos] é injusta, tanto para os golfinhos quanto para os soldados cuja vida está em risco".
A bióloga defendeu uma mobilização mundial para condenar a atitude das Forças Armadas americanas e exigir o fim do uso militar de animais marinhos, algo considerado um abuso pelo PETA, dado que eles são, acima de tudo, inocentes. Em 2008, os jogos bienais do Rimpac devem acontecer novamente. Até lá, os EUA devem investir mais dinheiro na construção de naves não-tripuladas para a localização e recuperação de minas subaquáticas, mas ainda não há previsão de encerramento do Programa de Mamíferos Marinhos da Marinha, segundo informações da AP.
(Por Gustavo Simon, Revista Pesca & Companhia, 14/08/2006)
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