Em abril de 2004, pesquisadores do Departamento de Saneamento e Ambiente da FEC - Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo da Unicamp - Universidade Estadual de Campinas -, coordenados pelos professores Bruno Coraucci Filho e Roberto Feijó de Figueiredo, desenvolveram o que foi classificado como “um dos mais baratos e eficientes métodos para o tratamento de esgoto doméstico”.
O invento consistia basicamente em um cilindro de aproximadamente um metro e meio de altura por 0,76 m de diâmetro, com fundo de forma cônica. Dentro, 70 quilos de caule de bambu cortados em pedaços de 6 cm de comprimento.
Nos mesmos mês e ano, o Governo do Brasil, por intermédio do Ministério do Meio Ambiente, firmou um acordo com o Governo da China. Objetivo: desenvolver pesquisas sobre novos usos para as espécies nativas brasileiras de bambu e, com isso, substituir por ele muitas peças hoje feitas em madeira.
Um relatório das Nações Unidas, divulgado em março de 2004, diz que metade das 1,2 mil espécies de bambu do planeta - incluindo uma brasileira - corre risco de extinção. O Brasil é o país com maior número de espécies de bambu da América Latina, abrigando mais de 130 delas.
Hoje, esse material ganha cada vez mais interesse por parte de empresas e consumidores, tanto porque gera produtos com design diferenciado e atrativo, como porque integrou-se a uma perspectiva de preservação do meio ambiente. A valoração econômica do bambu é tida como fundamental para sua sobrevivência.
“O bambu pode, em várias situações, substituir a madeira com vantagens ambientais, mas tudo depende de design, tecnologia e investimento”, explica o empresário Raphael Moras de Vasconcellos, sócio-diretor da
Agência Bambu de Conhecimento– ABC -, que se tornou, no início deste ano, um empreendimento da Incubadora Cultural do Instituto Gênesis, ligado à PUC do Rio de Janeiro. A empresa oferece consultoria em planejamento e gerenciamento de projetos produtivos e culturais com foco no uso do bambu.
Raphael cita como exemplo concreto o uso do material na produção de papel, que pode ser feito com uma qualidade tão boa quanto a do eucalipto e do pinus, além de ter uma plantação com menos custo e mais produtividade.
“Outro exemplo de uso é na construção civil; uma casa popular de bambu e cimento, por exemplo, pode custar quase a metade do preço de uma de alvenaria”, completa. “O bambu vem sendo utilizado pelo ser humano desde o começo das civilizações, para fazer paredes, colunas, telhas, painéis e pisos da habitação. Seu broto é muitas vezes comestível, e de suas folhas pode-se fazer chá”, prossegue Raphael, para quem deve ser incentivado o uso desse vegetal. “Ainda mais agora que a ecologia passou a ser a grande preocupação da sociedade mundial”, ressalta.
O bambu também esteve presente na cúpula do imponente Taj Mahal, construído no século XVII, na Índia; no primeiro filamento utilizado em uma lâmpada por Thomas Edson, no século XIX; e na construção dos primeiros aviões por Santos Dumont, já no início do século XX.
O artista plástico Xambu também elegeu o bambu como matéria-prima para trabalhos diversos, associados à cerâmica ou não. De seu ateliê em Curitiba (PR) surgem luminárias, caixas, molduras de quadros e até mesas e sofás, tudo confeccionado em várias espécies diferentes de bambu, desde o mais fino até o chamado popularmente de “gigante”.
“O bambu renova-se com facilidade, é bonito, durável - quando tratado - e permite infinitas possibilidades de criação nas mãos de um artista”, resume.
(Por Mônica Pinto, AmbienteBrasil, 10/08/2006)
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