Polícia Federal detém 14 fiscais e procurador por tráfico de madeira
2006-08-11
A Polícia Federal desbaratou ontem um esquema de roubo e falsificação de documentos infiltrado no Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) do Amapá que, nós últimos seis anos, movimentou cerca de R$ 53 milhões e permitiu a extração ilegal de 850 mil m3 de madeira em Santa Catarina e no Pará - o suficiente para encher 60 mil carretas.
Além da participação de 16 funcionários (dois terceirizados), o esquema de fornecimento de documentos fraudados contava com a participação, segundo a PF, do procurador federal Joaquim Gomes de Oliveira, e de três policiais.
Essa operação, batizada de "Isaías", é a 10ª ação conjunta da PF e do Ibama desde 2003. As operações anteriores já haviam detido outros 78 funcionários públicos envolvidos em esquemas de crime ambiental.
A operação foi resultado de uma investigação iniciada em outubro de 2005, a partir do roubo de um lote do formulário ATPF (Autorização de Transporte de Produtos Florestais), necessário para a movimentação das cargas de madeira.
Além do roubo, ocorriam falsificações e autorizações ilegais, repassadas para madeireiros em SC e PA. Cada ATPF ilícita era vendida, de R$ 1.000 até R$ 5.000. De acordo com a PF, esse valor era de R$ 200 há alguns anos, e a valorização é reflexo da repressão recente.
A respeito da participação de 14 funcionários do Ibama do Amapá (9% do total), a ministra Marina Silva (Meio Ambiente) disse que sua gestão teve a atitude de escancarar o problema, o que faz a corrupção interna aparecer mais.
"É um problema que existe há décadas e nunca se encarou de frente", disse. "Os servidores concursados de 2002 para frente não estão envolvidos, e a genealogia antiga do crime hoje é combatida a ferro e fogo."
Até o final da tarde de quarta-feira (9/8), 46 das 54 ordens de prisão haviam sido cumpridas, inclusive a dos 14 servidores do Ibama suspeitos de envolvimento.
No mês que vem, o Ibama implantará um novo método de fiscalização de autorizações de transporte de bens florestais. Com isso, será extinto o sistema de ATPF, que funciona com verificação em papel. O novo documento poderá ser impresso pelo usuário pela internet e os fiscais fazem a checagem dos dados diretamente na base de dados.
(Por Leila Suwwan, Folha de S. Paulo, 10/08/2006)
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ iência/fe1008200601.htm