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2006-08-11
No fim do mês passado, afirmou um garoto com a voz ainda cheia de emoção, ele e seu pai foram forçados a levar seus dois pastores alemães a uma praça pública e enforcá-los em uma árvore. O garoto, Xia Shaoli, não é o único que passa por essa dor. Representantes do sudoeste da província de Yunnan ordenaram o extermínio em massa de cães e animais sem dono, após três pessoas terem falecido de um surto de raiva. E assim como a multidão se reuniu em torno de uma árvore grande na vila de Xiajiashan, os donos dos animais um após o outro levarão seus cães para a morte.

De acordo com dados oficiais, 54.429 foram mortos durante a campanha recente em Yunnan. Relatórios da mídia chinesa afirmaram que algumas pessoas que andavam com seus cães foram atacadas por gangues, que bateram nos cachorros até a morte. Os acontecimentos em Yunnan rapidamente sucederam o medo da raiva em outras partes da China. Na quarta-feira, a mídia chinesa informou o assassinato de 280 cães em Wuxi, uma cidade próxima a Shangai, e 13 na cidade de Fuzhou, no sul da província de Fuzian.

Anteriormente nessa semana, um grupo de 16 vilas no sudoeste da província de Shandong declarou alerta à raiva, e os oficiais da província planejaram um extermínio de cães que poderia se aplicar ao assassinato de qualquer cão encontrado em um raio de cinco quilômetros de qualquer caso de raiva conhecido.

Existem meio milhão de cachorros na cidade de Jining, circundam as 16 vilas, segundo o representante da agência de notícias New China. Os representantes afirmaram que o plano de extermínio começará no final deste mês. Também houve relatos de esquemas menores de extermínio em outras partes do país, de forma notável na província de Sichuan.

Tão memoráveis quanto as mortes por si só, no entanto, são as reações à elas. Com sua prosperidade crescente, a China está desenvolvendo uma cultura de possuir animais de estimação, com os cães como favoritos. Como a matança já se espalhou por todo o país, os proprietários de animais começaram a se mobilizar – expressando-se na Internet e circulando com petições – para que tal brutalidade não aconteça mais.

De fato, discussões sobre o tema já ultrapassaram os limites das simples conversações sobre os direitos dos animais, com muitos comentaristas questionando fortemente a natureza de um sistema que poderia ordenar o extermínio em massa de cães, sejam eles licenciados e vacinados ou não. A reação de grupos e indivíduos, normalmente através da Internet, também fornece uma ilustração impressionante da emergência da verdadeira opinião pública na China, sem a mediação da imprensa oficial ou da censura.

“Esta é apenas outra decisão estúpida feitas por poucos idiotas e feita em um sala pequena, que não reflete a totalidade dos desejos das pessoas”, escreveu um comentarista no Mop, um fórum sobre assuntos atuais popular na Internet. Alguns fazem comparações com a situação dos direitos humanos na China. “Nós não temos direitos humanos, o que dizer dos direitos dos cães”, escreveu um comentarista sob o nome de Kui Xiang Ri, no fórum Tianya. “Eu já vi muitos abusos contra a vida, sem falar nos abusos contra cães. De qualquer forma, são os imperadores locais que mandam, e nós, cidadãos comuns, não somos muito diferentes dos cachorros aos olhos deles”.

Sociedades humanitárias chinesas anunciaram planos para arquivar ações judiciais contra governos locais que montam campanhas de exterminação. “Esse tipo de coisa é simplesmente terrível e desumana”, afirmou Huang Juan, líder de um centro de assistência a animais abandonados em Wuhan. “Eles fizeram isso sem nenhum motivo real, dado que muitos desses cães são vacinados e não podem passar a raiva. Mas como falar sobre motivos com essas pessoas?”

Outro grupo de proteção aos animais afirmou que planejava começar um processo. “Nós nos reuniremos com advogados depois de amanhã, e iremos à corte para processar dois governos locais”, afirmou Lu Di, diretor do grupo. “Eu não tentarei persuadir, alertar ou criticá-los – é tarde para isso. Nós iremos processá-los para que eles entendam que isso não é meramente uma questão moral. É um crime”.
(Por Howard W. French, The New York Times, 10/08/2006)
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