Rio Grande do Sul se mobiliza pela utilização racional da água na agricultura
2006-08-11
A campanha movida pelo Governo do Estado para conter a captação
desordenada de água, evitar medidas de racionamento e reduzir os danos
decorrentes de períodos prolongados de estiagem no Rio Grande do Sul
receberá importante reforço no sábado (12), com o lançamento, no
Litoral Norte, de programa para racionalização do uso de recursos
hídricos nas lavouras de arroz. Medidas como antecipação do plantio do
cereal básico, oferta de novas linhas de financiamento para obras de
acumulação (cisternas, açudes, redes coletoras de chuva e poços
artesianos), cursos de manejo rural e facilitação dos licenciamentos
ambientais formam a base do projeto, impulsionado pela provável
redução da área plantada próximo das bacias dos rios Sinos e Gravataí.
A iniciativa, encabeçada por entidades representativas do setor
orizícola, conta com apoio do Instituto Rio-Grandense do Arroz (Irga)
e da Emater.
"A conscientização das pessoas sobre a necessidade de uso racional da
água foi um dos poucos efeitos positivos das últimas secas", destaca
o diretor do Departamento de Recursos Hídricos da Secretaria do Meio
Ambiente, Rogério Dewes, lembrando que os plantadores de arroz são
reconhecidamente os maiores consumidores de água no território gaúcho.
"A agricultura irrigada, em qualquer lugar do mundo, utiliza dois
terços das reservas disponíveis e, no Estado, a questão também assume
grandes proporções, pois, somente em arroz, temos 1 milhão de hectares
irrigados anualmente", assinala. Dewes prevê que a iniciativa, em
médio e longo prazos, "causará reflexos positivos na imagem do
produtor frente a seus clientes e fornecedores, visto que, cada vez
mais, são exigidas certificações que atestem o cumprimento de todas
as normas da legislação ambiental e do emprego sustentável de insumos
naturais". Através da resolução n° 100, a Secretaria Estadual do Meio
Ambiente tornou obrigatório o licenciamento e a outorga do uso da
água, para prevenir contra a captação abusiva e marginal.
Durante a realização do 3° Seminário de Arroz e Qualidade, em Santo
Antônio da Patrulha, neste sábado, será proposta a não-coincidência do
início da semeadura das lavouras orizícolas - que historicamente se
estende até principio de dezembro no Vale do Rio dos Sinos - e do
período de nível baixo do manancial. Neste sentido, o Irga irá apontar
a quantidade real de água necessária para o ciclo da cultura,
reduzindo a captação sem comprometer a produtividade e o suprimento da
população. Outras providências sugeridas envolvem a qualificação dos
produtores no cumprimento das condições e restrições estabelecidas
nas licenças emitidas pelas autoridades estaduais, bem como os meios
de custeio para a construção de cisternas e microbarragens.
A medida já vem sendo incentivada através do Programa Estadual de
Captação e Manejo da Água da Chuva, que disponibiliza linha de crédito
do Banrisul, com recursos do Programa Nacional de Fortalecimento da
Agricultura Familiar (Pronaf), em princípio dirigida a pequenos
agricultores. O valor a ser financiado corresponde ao desembolso com
aquisição de material. O valor de uma cisterna é 80% mais barato do
que a implantação das caixas de fibrocimento convencionais, com a
vantagem de não implicar despesa com mão-de-obra, disponibilizada pelo
Comando da 3ª Região Militar. O primeiro passo consiste em solicitar a
montagem de um projeto específico às equipes de extensionistas da
Emater. A instituição funciona como porta de entrada, já que analisa a
viabilidade da construção e monta planilha de custos.
A Secretaria do Meio Ambiente mantém negociações com a Agência Nacional
de Águas e a Farsul para instituir premiação aos produtores que
adotarem técnicas e práticas agrícolas que restrinjam a irrigação.
Ação semelhante foi desenvolvida com sucesso pelas autoridades do
Distrito Federal. Ela poderá ser estendida a outros segmentos que
também demonstrem participação destacada no processo de economia de
água, como abastecimento doméstico e indústrias. "Cerca de 20% das
unidades industriais demandadoras de água já investem, por conta
própria, em tecnologia para reciclagem e economia de água, mesmo
porque buscam certificação ISO 14000, que trata especificamente de
procedimentos para atender aos parâmetros ambientais do uso de
recursos naturais", explica Rogério Dewes.
O diretor do Departamento de Recursos Hídricos do Governo do Estado
adverte que a conferência da distinção não significa abrandamento da
fiscalização para impedir a captação desordenada de água. "É
importante que não apenas o poder público faça esse tipo de trabalho,
mas que o usuário exerça uma espécie de auto-fiscalização, pois se o
meu vizinho retira muito mais água do que necessita, isso acaba
trazendo prejuízos para mim e para o restante da coletividade",
exemplifica. Além da criação, junto a órgãos financiadores, de
mecanismos compensatórios na área de crédito, Rogério Dewes revela
estar em cogitação outro tipo de incentivo: tarifação diferenciada do
serviço de fornecimento de água. "As providências constituem um
processo que está sendo analisado pelo governo e ainda necessita de
mais elementos para ser aplicado. No momento em que estiver definido,
deveremos estabelecer uma diferença entre aqueles que usam e que não
usam a água de forma moderada", assegura.
(Informações do
Governo do RS, 10/08/2006)
http://www.estado.rs.gov.br/