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2006-08-10
A fase seguinte de testes nucleares foi executada sob o nome de código de Tumbler/Snapper, e passará à História como a experiência nuclear em que mais seres humanos se viram envolvidos como cobaias. Sob o patrocínio da recém-criada Comissão de Energia Atómica, centenas de seres humanos foram expostos, agora mais diretamente que nunca, à acção das detonações atómicas.

Uma atitude negligente que carecia de respeito para com as pessoas utilizadas como sujeitos experimentais. Houve abusos de todo o tipo e até se deram casos em que foi ordenado aos pilotos que atravessassem o cogumelo radioactivo para recolherem amostras da atmosfera. O objectivo desta atitude aparentemente inexplicável era efectuar um minucioso estudo psicológico acerca do comportamento das tropas num campo de batalha atómico.

Em caso de guerra era preciso contar com operacionais eficazes que apoiassem de imediato a contundente acção dos bombardeiros nucleares e, ao serem treinados velhos cavalos de batalha com o disparo de armas de fogo perto deles para que, chegado o momento, não se assustassem, chegou-se à conclusão de que com seres humanos se podia fazer o mesmo. Assim teve início uma autêntica loucura em que a cada teste os soldados eram colocados cada vez mais próximos do núcleo da explosão:

"Antes destes homens serem designados para a operação", disse em tom enfático o narrador do documentário, "tinham um monte de preconceitos em relação à bomba e aos seus efeitos. Tal como tantas outras pessoas na sua situação, muitos deles estavam assustados. Nunca tinham dedicado tempo ou esforço a aprender os factos, bem como aquilo que teriam de fazer no que se referia ao armamento atómico. Estes homens foram doutrinados acerca do que sucederá e do que devem fazer se a bomba cair."

No entanto, apesar do entusiasmo do narrador, os resultados não puderam ser mais desanimadores. Segundo os psicólogos, os soldados sofriam um enorme stress emocional quando presenciavam uma explosão nuclear e isso tornava-os imprevisíveis em situação de combate. É compreensível que estivessem assustados.

Durante os anos que se seguiram os membros deste colectivo desenvolveram todo o género de cancros, enfermidades sanguíneas, degenerativas e psíquicas. Isto sem contar com os danos genéticos que transmitiram aos seus filhos e netos, e que fazem com que os afectados recordem amargamente como os seus instrutores ridicularizavam os seus medos no que se referia ao impacto da radiação sobre a sua capacidade reprodutora.

O pior de tudo é que não obtiveram qualquer auxílio ou indemnização já que, dada a condição de elevada confidencialidade daquelas experiências, não existia maneira de demonstrar perante um tribunal a relação entre os seus males e os testes nucleares nos quais participaram.

Logicamente, a opinião pública mantinha--se alheia a tudo isto, apesar do programa de testes nem sequer ser um segredo, e meios da comunicação social como a revista Life mantinham os norte-americanos informados do que estava a suceder no Estado do Nevada, publicando até fotografias das nuvens nucleares - encontrávamo-nos no apogeu de uma campanha propagandística a todos os níveis para que os norte-americanos vissem aquilo que dizia respeito à energia nuclear com absoluta naturalidade.

Durante o programa Tumbler/Snapper testaram-se vários tipos de bomba atómica com potências que oscilavam entre 1 e 30 quilotoneladas. Foi construída uma cidade com edifícios e árvores junto à zona de ensaios para reproduzir com a maior fidelidade possível os efeitos de uma explosão atómica num núcleo urbano. Pouco a pouco, o campo de Yucca Flat foi-se cobrindo de crateras de diferentes tamanhos e profundidades, dependendo da intensidade de cada explosão e das condições geológicas do terreno.

A Comissão de Energia Atómica nunca parecia satisfeita, e solicitava sempre "mais um teste" para verificação de uma ou outra teoria no terreno. A bomba H 1952. A perda do monopólio nuclear por parte dos Estados Unidos tinha colocado as superpotências num equilíbrio incómodo. O desenvolver da bomba de hidrogénio era o projecto em que os norte- -americanos tinham posto todas as suas esperanças, de modo a fazerem com que a balança voltasse a pender para o seu lado.

Sobre o estirador do projecto, a construção do novo artefacto atómico não se revestia de especial dificuldade. Mas não bastava fabricá-lo: também era necessário comprovar no terreno o seu potencial destruidor, pelo que se voltaram para o Pacífico, onde tiveram lugar os ensaios a que se deu o nome de código Operação Ivy. Desta vez, o cenário do teste seria o atol de Enewetak, mais uma vez nas já castigadas ilhas Marshall, onde se montaria e se faria rebentar a Mike, a primeira bomba de oxigénio da História, cujo nome foi escolhido pelo "M" de megatonelada.

Ninguém sabia com toda a certeza o que poderia acontecer, já que até àquele momento a "bomba H" tinha sido apenas uma mera concepção teórica. Mike era assim uma verdadeira incógnita, e estimativas como as distâncias de segurança estabeleceram-se praticamente a olho. As 10,4 megatoneladas do artefacto outorgavam-lhe uma potência 650 vezes superior à da bomba de Hiroxima, e isso despertou uma certa inquietação entre os responsáveis pela experiência, a chamada "Comissão Panda" encabeçada por J. Carson Mark, no laboratório de Los Alamos.

Mas a tentação de ir mais além do que alguém tinha alguma vez sonhado, desencadeando uma energia apenas comparável com aquela que vibra no coração do Sol, era grande. Tratava-se de executar a maior demonstração de poder que jamais se tinha realizado na História humana. Mas a natureza tinha uma surpresa reservada para os cientistas e militares responsáveis pelo projecto.

Mike foi um êxito para lá das expectativas dos que a projectaram e ainda hoje é a quarta maior explosão nuclear da História dos Estados Unidos. Com o passar do tempo foram muitos os militares que confessaram terem-se sentido horrorizados ao comprovar que tinham nas mãos o instrumento para exterminar para sempre da face da Terra enormes núcleos populacionais.

Mas, como sempre, a Comissão de Energia Atómica não estava satisfeita e começou a fabricar King - neste caso, o "K" era de quilotoneladas -, um segundo protótipo completamente operacional e projectado para ser lançado por um bombardeiro B-36 sobre a ilha Kwajalein, também no arquipélago das Marshall.

King chegou quase a superar o seu irmão apesar de ter um tamanho consideravelmente menor. Esta única detonação libertou mais poder destrutivo do que todo aquele que tinha sido utilizado durante a Segunda Guerra Mundial. King foi o modelo utilizado no desenvolvimento da Mk-18, uma arma nuclear, da qual os Estados Unidos construíram dezenas de unidades durante os anos que se seguiram.

Regresso a Bikini
Com o tempo, surgiu um novo conceito na terminologia geopolítica: a "escalada nuclear". Estas duas potências tinham embarcado numa corrida cega por possuir mais armas, cada vez mais potentes, como se existisse alguma diferença em ter o poder para destruir a Terra duas ou quinze vezes, excepto para benefício da indústria de armamento. No meio deste clima tornou-se necessária uma nova bateria de testes nucleares que, sob o nome de Operação Castle, se realizaram num cenário que já se tinha convertido num clássico das experiências atómicas: o atol de Bikini.

O objectivo principal nesta ocasião consistia em testar artefatos nucleares baratos e de pouco peso que pudessem ser produzidos em massa e eficazmente utilizados como arma de bombardeamento. Podemos fazer uma idéia das intenções que animavam o projecto através das palavras do general Clarkson, a mando da Junta da Força Operativa 7, encarregada da execução do projecto: "Castle foi, sem dúvida, a mais completa e significativa operação na curta mas impressionante História dos testes militares e, na minha opinião, absolutamente vital para a segurança nacional e para o resto do mundo livre."

A ilha de Perry foi a escolhida como o lugar onde se montariam as bombas e Enyu seria o sítio de onde se dispararia o primeiro artefacto, conhecido com o nome de código de Bravo. A tecnologia nuclear já não era algo de novo e, assim, nesta ocasião respirava-se confiança entre os participantes na missão; no entanto, neste caso a confiança foi inevitavelmente a antecâmara do erro.

A quantidade de radiação emitida foi sensivelmente maior que a esperada e, se as provas anteriores já tinham afectado a ilha, a Operação Castle converteu-a num verdadeiro cemitério nuclear em que foram registadas leituras que ultrapassavam os 100 rad por hora. A 1 de Março de 1954, e devido a um inexplicável erro de cálculo, as 3 megatoneladas previstas converteram-se em 1512.

A bomba explodiu com muitíssimo mais potência do que o previsto, espalhado-se rapidamente uma chuva de radiação que se expandiu a 300 quilómetros em redor, cobrindo uma área de oito mil quilómetros quadrados. A ofuscante bola de fogo produziu um cogumelo de 25 quilómetros de altura que aspirou com uma força irresistível milhões de toneladas de areia, água, corais, plantas e fauna marinha, que foram pulverizados, radioactivamente carregados e espargidos por todo o arquipélago.

A explosão gerou um furacão artificial que arrancou pela raiz todas as árvores de Bikini. Toda a população das Marshall ficou afectada e houve até quem tivesse ficado queimado pelas cinzas radioactivas. O povo exilado de Bikini tinha agora de sofrer na pele o mesmo que a sua terra natal já tinha experimentado. Os militares norte-americanos tão--pouco se libertaram dos efeitos da radiação.

O mais triste de toda a situação é que tudo isto ocorria com a cumplicidade das Nações Unidas que, em 1947, tinha qualificado a zona como de interesse estratégico, colocando-a sob a administração dos Estados Unidos, uma medida estranha que não tinha precedentes e que nunca mais voltou a ser tomada. Para além de outorgar autorização aos norte- -americanos para fazer e desfazer a seu gosto o arquipélago, a resolução da ONU também impunha certas obrigações aos administradores, como "promover o desenvolvimento económico e a auto-suficiência dos habitantes" e "proteger os habitantes contra a possível perda das suas terras e recursos".
(Sapo, 10/08/2006)
http://dn.sapo.pt/2006/08/10/boa_vida/testes_nucleares_americanos_envolvem.html

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