Uma grande mudança energética está programada para ser iniciada na próxima década, quando o hidrogênio deverá se tornar um importante combustível para gerar energia elétrica e movimentar veículos, substituindo, aos poucos, o diesel e a gasolina, por exemplo. A preparação desse novo cenário envolve vários institutos de pesquisa, todas as montadoras da indústria automobilística e as empresas petrolíferas e energéticas de todo o planeta.
Motivos para o uso do hidrogênio não faltam: os preços do barril de petróleo atingiram a marca de US$ 78 em julho, enquanto não passaram de US$ 40 no ano 2000, e a necessidade de diminuição da poluição atmosférica. O uso desse gás formado por dois átomos (H2) ajuda a diminuir a presença de outro gás, o carbônico (CO2), produzido pela queima dos combustíveis oriundos do petróleo, também chamado de dióxido de carbono, o principal causador do efeito estufa, fenômeno que pode aumentar a temperatura planetária e promover diversos problemas ambientais e de saúde pública.
Com o avanço das células a combustível, que, de forma semelhante a uma bateria, produzem energia elétrica a partir do hidrogênio e podem ser instaladas num automóvel ou num gerador estacionário, essa nova opção energética ganha terreno em centenas de projetos tecnológicos. No Brasil, uma das linhas de pesquisa visa a desenvolver um equipamento, chamado reformador, para aproveitar a produção do etanol (CH3CH2OH) da cana-de-açúcar, o álcool encontrado nos postos de combustível.
Do etanol é possível extrair o hidrogênio, que não é encontrado na natureza de forma isolada, em grandes quantidades, embora seja o elemento mais presente no Universo, das estrelas à água (H2O). O aparelho em desenvolvimento, portanto, vai ajudar a suprir a dificuldade de obtenção de hidrogênio.
O primeiro grupo de pesquisa a finalizar um reformador está no Laboratório de Hidrogênio (LH2) do Instituto de Física da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), ligado ao Centro Nacional de Referência em Energia do Hidrogênio (Ceneh). Os reformadores desenvolvidos pelo LH2, também existentes em versões que extraem hidrogênio do gás natural (CH4), começam a ser instalados em comunidades isoladas na Amazônia, em Mato Grosso, no Hospital das Clínicas da Unicamp e em experimentos com empresas produtoras de energia elétrica como a Companhia Paulista de Força e Luz (CPFL).
(Por Marcos de Oliveira,
Agência Fapesp, 10/08/2006)